João
Pé no Chão
* Por José Calvino
“...Não à esmola,
é o sim ao emprego digno.
Não à violência,
é o sim da paz.
Não à ignorância,
é o sim da educação”.
* Por José Calvino
“...Não à esmola,
é o sim ao emprego digno.
Não à violência,
é o sim da paz.
Não à ignorância,
é o sim da educação”.
João
Calvino era um homem revoltado. Foi muito prejudicado, até mesmo
pelos professores carolas, que entravam na sala de aula e se benziam.
Principalmente o de história, quando dava aula sobre A Reforma
Religiosa: “Foi o movimento que, dividindo os cristãos do Ocidente
no século XVI, originou diversas novas igrejas chamadas
protestantes, as quais não mais seguiriam o comando e a orientação
do papa de Roma...”.
E
quando chegava na parte “O Calvinismo”, todos alunos olhavam pra
João e se benziam copiando o professor.
Aos
treze anos de idade, era praticante de telegrafia da antiga Great
Western. Devido à sua vocação aprendera telegrafia com facilidade,
continuando como praticante de estação por causa da idade, mas já
era um telegrafista autêntico e benquisto por todos. Aos dezoito
anos, servira ao Exército Brasileiro. Observava bem os dizeres que
têm na barreira capinada em frente ao quartel: AQUI SE APRENDE A
DEFENDER A PÁTRIA, e pretendia fazer a sua carreira militar, um de
seus sonhos de criança que estava se realizando. De uma virtude
extraordinária, não se deixava vencer pelos colegas “irmãos de
arma”, muitos deles analfabetos, achavam que o Exército os recebeu
para ensinar a ler e a escrever com profissões diversas, e tinham
que serem úteis à sociedade. Servir ao Exército, ao Povo, ao
Brasil, com integração de todas as Forças Armadas de todas as
Nações.
-
Acerta o passo, filho da puta! – disse o sargento.
-
É assim que se aprende a defender a Pátria?
Foi
licenciado e desempregado por dois anos, desenhava com infantilidade
trens puxados por “Maria Fumaça”, subindo e descendo serras,
duas composições no mesmo sentido em linha dupla; eram pinturas
inexperientes do imaginário quadro ferroviário de João, com seu
lirismo, o qual servia poeticamente à índia, sua namorada. João
conseguiu entrar na Rede Ferroviária como telegrafista, mas por
“economia” a carteira profissional rezava natureza do cargo:
Servente Provisório! Com cinco anos de ferrovia, não ganhava como
telegrafista e por isso começou a reivindicar seus direitos junto
aos ferroviários, através de abaixo-assinados,o que mais tarde,
serviria para agravar sua situação, com diversas perseguições.
Foi demitido da Refesa e, logo em seguida,entrou na gloriosa Polícia
Militar. Lá, continuou escrevendo, desta feita para jornais, em
cartas à redação, chegando a responder por isso a um IPM
(Inquérito Policial Militar), sendo enquadrado por ser contumaz
transgressor das regras básicas da boa educação e da disciplina,
pois, em pouco tempo, causou transtorno em dois ambientes de trabalho
no âmbito militar, tratando de forma desrespeitosa superiores
hierárquicos...
Foi
submetido a um Exame de Sanidade Mental no HCTP (Hospital de Custódia
e Tratamento Psiquiátrico), em Itamaracá. Os médicos peritos
responderam que “João Calvino apresenta traços de personalidade
que frequentemente
o colocam em conflito com pessoas ou Instituições (uma constante ao
longo de sua vida). Foi, e sempre será reivindicador, querelante e
impulsivo (Um padrão permanente de comportamento)”.
Com
mais um IPM arquivado, João pediu licenciamento. Naquele regime
militar João viveu os piores momentos daquela época. Colocou a sua
vida em risco, hoje um septuagenário, conhecido por João Pé no
Chão (slogan nas suas campanhas políticas). Sempre foi contra as
aposentadorias dos políticos... Eles deveriam participar dos
benefícios dentro do regime do INSS como todos brasileiros. Ainda
tem gente dizendo que não sabe como não botaram João Pé no Chão
no Mensalão, dele tanto falar que multar o governo é uma piada sem
graça. Os processos arrastam-se por anos sem que o governo do Estado
pague a multa diária de um mandado judicial. Estamos praticamente no
final do ano e até agora João Pé no Chão não recebeu. Com o
governo é assim, mas, se fosse um trabalhador multado, a Justiça
não agiria com essa morosidade. Cadê a lei que se deve obedecer, a
fim de que se mantenha a ordem e se alcancem os fins desejados?
Finalizo
com a frase criada por Charles De Gaulle: “Le Brésil n’est pás
um pays sérieux” (O Brasil não é um país sério).
Nota
– Alguns trechos extraídos dos livros: “O ferroviário” e “O
grande comandante”.
*
Escritor e dramaturgo pernambucano
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