domingo, 16 de outubro de 2016

Homem múltiplo que prefiro chamar de AMIGO


Amizade que se preza, e que ofereço, de coração, às pessoas que gosto (que felizmente são milhares) é generosa, desinteressada e espontânea. Não tem malícia e muito menos segundas intenções. Exige, somente, reciprocidade, e nada mais. Tem, como característica, a lealdade. Dispensa todo e qualquer tipo de formalidade. Não é preciso, sequer, fazer força para que nasça. Simplesmente acontece, sem motivo ou explicação, e me acompanha a vida toda. É um presente de Deus, que retribuo com reciprocidade. É confortador saber que em algum lugar, não importa onde, há alguém que gosta de mim de graça, que compreende minhas imperfeições e não faz a mínima conta delas e que está disposto a me socorrer, em caso de necessidade, sem que eu precise solicitar seu generoso e espontâneo amparo. Sinto-me o mais rico dos homens, por ser detentor desse tesouro sem preço”.

Esta declaração enfática eu fiz, e publicamente, e em mais de uma ocasião – sendo, a mais recente, em forma de reflexão no Facebook, em 23 de fevereiro de 2016 – espontaneamente, sem qualquer intenção de agradar ninguém. E a farei dez, vinte, mil, milhões de vezes, quantas julgar necessárias, por se tratar de gratidão à vida por tamanho privilégio. Nem todos têm ventura igual. Aliás, os que a têm são, na verdade, poucos, pouquíssimos, raros, raríssimos, em um mundo cada vez mais caracterizado pela competição e por feroz individualismo. Meus milhares de amigos (cada um deles) sabem que não se trata de mero jogo de palavras, de declaração “bonitinha”, com pretensão, digamos, de ser “literária”. Longe disso. Quem gosta, de fato, de mim, confia sem pestanejar na sinceridade dessas palavras, que são parte de uma crônica que redigi há já algum tempo e que “pincei” para postá-la no Facebook em forma de reflexão, justamente por estar pensando neles.

Entre os tantos amigos com que a vida me presenteou está um cuja amizade particularmente me envaidece. Refiro-me especificamente a Francisco Fernandes de Araújo. Nem sei como caracterizá-lo (como se isso fosse necessário!). Devo tratá-lo por “doutor”, como eminente jurista que é, tendo atuado como exemplar juiz ao longo de memorável carreira? Chamo-o de escritor, de criativo romancista, com livros e mais livros de sucesso? Trato-o como articulista da imprensa, com opiniões firmes, sensatas e justas? Considero-o compositor de música popular, que também é? Ou como memorialista? Ou, então, como poeta, dotado de rara sensibilidade e inspiração? Francisco Fernandes Araújo é tudo isso e muito mais. É o que chamo, sem pestanejar, de “homem múltiplo!!! Mas de todas as designações que posso lhe dar, prefiro uma, que no meu entender é a mais nobre e verdadeira: AMIGO!!!

Entre os vários livros com que esse multitalento generosamente me presenteou, dois deles se destacam, ambos de poesias. São “Rosa Amarela” e “Acariciando esperanças”. Ambos estão no lugar mais nobre da minha casa, mas não na prateleira da minha caótica biblioteca, porém em meu criado-mudo, uma espécie de altar que mantenho junto à cama, para inspirar minhas meditações matinais. E como inspiram! São raros os dias em que não leio algum poema desse autor que me faz meditar na beleza e transcendência da vida e no que de mais nobre e de belo ela me proporciona. Gostaria de poder partilhar todos os poemas, sem exceção, desses dois preciosos livros. Claro que isso é impossível, além de ser injusto com o autor. Melhor é que vocês, caros leitores, que me honram com sua assiduidade, os adquiram e se deleitem com suas mensagens belas e inspiradoras.

Todavia, não os deixarei na mão. Como sempre faço, quando comento livros de poesia que me empolgam, pincei (a esmo) um poema, de cada um, para dividir com vocês. De “Rosa amarela” transcrevo estes profundos versos, intitulados “Amor e ódio”:


“Estaríamos bem distantes um do outro
Se o mundo fosse em linha reta
Mas é um círculo que vai e volta
A posição dele correta.

Por isso nos cruzamos tantas vezes,
Embora com destinos desiguais,
E a preocupação recíproca que temos,
Não permite que nos esqueçamos, jamais.

Somos duas forças gigantescas
Em busca de alguma realização.
Só que uma está aliada a Deus,
E a outra ao anjo da destruição.

Amor e ódio podem ser a mesma coisa,
Diz antiga sabedoria popular,
Deixa-me então fazer um convite,
Para que possas algum dia me adotar.

Que tal se no próximo giro
Dermos as mãos num aperto forte,
Para semearmos no interior do círculo
O fruto da vida e não da morte?

Está claro que nesta altura
Já se sabe quem sou eu,
Pois tal proposta nunca viria
De quem até de si já esqueceu.

Realmente, quem odeia se maltrata,
Provoca muita pena e desdém,
E afinal, é seu peito que explode,
Atingindo mais a si do que ninguém”.


Gostaram? Não há como não gostar! Para completar, partilho o soneto “Interrogação”, do livro “Acariciando esperanças”:


“És capaz de lembrar há quanto tempo
Esqueceste da existência de teu pai,
Partilhaste com ele passatempo,
Não percebes se ele vem ou se ele vai?

Esqueceste dos tempos de criança,
Quando o pai te embalou e protegeu,
Te ensinou a ter fé, ter esperança,
Fez crescer esse filho que cresceu?

Será que queres isto para ti,
Quando na fase dele te encontrares?
Ou é melhor ouvir este conselho?

Acorda, enquanto é tempo por aqui!
Não busques alegrias nem lugares
Enquanto não te vês um pai no espelho!...”


Boa leitura!


O Editor.

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Um comentário:

  1. Eu vi esse texto no Facebook. Muito bom e merecia voltar. A maioria dos amigos são circunstanciais e o afastamento quando acaba o interesse em comum é a norma. Os que duram a vida toda e desinteressadamente, com ajudas mútuas e perpétuas são raridades. Eu tenho uma raridade dessas há 50 anos, quase (fevereiro de 1967, quando fizemos juntas o que se chamava 1ª série do Ginásio). Dulcemar Soares é o nome dela.

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