De lua
* Por
Evelyne Furtado
Lia nasceu entre os
bons e entre estes cresceu. O mal - se existia - estava fora dos seus portões e
a menina Lia temia qualquer coisa que pudesse afetar seu lar. Sempre foi dada a
fantasiar e algumas fantasias eram perfeitos pesadelos, mas também cultivava
sonhos bons. Uma menina boa, meiga, frágil e tímida.
Lia desabrochou na
adolescência quando descobriu as delícias das relações afetivas e as
perspectivas de liberdade. Muito cedo, porém, teve que optar entre o amor e a
liberdade, aí cumpriu seu papel como mandava o figurino. Lia era então um
pássaro numa gaiola até que a paixão a chamou insistentemente e ela não
conseguiu resistir ao apelo.
Foi quando Lia perdeu
o juízo. Ela não dormia, não comia, não se concentrava em nada. Vivia de sonho
e de culpa. Logo ela que era tida como uma moça tão boa! Mas Lia não abriu mão
do seu momento de paixão proibida e foi. Deu um passo para fora dos seus muros
e arriscou. Céu e inferno; ela conheceu os dois em pouco tempo. O sonho não era
tão dourado assim como ela sonhara ser e nunca mais Lia foi a mesma.
Mudou de par, mudou de
casa, mudou de papel. Virou mulher de verdade e sofreu, mas reconhece que foi a
menina tímida e rebelde que a fez a mudar.
Lia vem mudando sempre
e sou testemunha dessa evolução. Ela não é muito convencional, ainda assim
maioria das pessoas que a conhecem poderia se assustar com seus arroubos ou
transgressões, pois atrás de uma aparente racionalidade mora uma mulher guiada
pelo amor e pelas sensações que este proporciona.
Ela tem lá umas
esquisitices, mas nada que a comprometa. Na lua cheia, por exemplo, fica mais
frágil ainda e se dana a chorar ou a escrever. Às vezes põe no papel textos
interessantes, em outras escreve um monte de bobagem. Mas tudo tem uma explicação,
mesmo que só ela entenda.
Nem tudo, aliás, pois
até hoje ninguém descobriu as razões de mais uma mania doida dessa mulher:
gostar de amores complicados. Ela tem um dom para viver relações impossíveis e
o pior é que sofre feito uma Madalena.
Lia vive tentando se
equilibrar entre a emoção e a razão. Em alguns momentos tudo se confunde e ela
não sabe mais o que é realidade e o que é ficção. Mas consegue seguir no seu
ritmo e tem seus momentos de profunda felicidade.
*
Poetisa e cronista de Natal/RN
Uma vida novelesca. Nem curta, nem longa, mas do tamanho certo. Assim é a vida que dá tempo de muito amor e alegria, e de muita dor e sofrimento.
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