sábado, 26 de março de 2016

Clodovil, a mosca na sopa



* Por Fábio de Lima



O título desse texto poderia ser “Brasília nunca mais será a mesma”. Esse foi o slogan do candidato a deputado federal, por São Paulo, Clodovil Hernandes. O estilista e apresentador de TV foi o 3º deputado federal mais votado do Estado, atrás apenas do dinossauro político, Paulo Maluf e do deputado reeleito, Celso Russomanno. Mas, seria um título óbvio e, verdade seja dita, o que não podemos falar (nunca) de Clodovil é que ele seja alguém previsível.

Nascido em junho de 1937 numa pequena cidade do interior de São Paulo chamada Eliziário, filho adotivo de um casal de origem espanhola, o novo deputado veio para a capital ainda nos anos 50, mas só conseguiu tornar-se estilista famoso nos anos 70. Na época, ele protagonizava, ao lado do, também estilista, Dener, uma história de sucesso da alta-costura no Brasil. Depois Clodovil entrou para a TV e seu jeito intempestivo e sincero o transformou num Dom Quixote das palavras, brigando sempre com inimigos reais e, principalmente, ilusórios.

Hoje, ele poderia estar satisfeito e acomodado no trono de um vencedor. Mas quem pensa que o ‘jovem’ deputado de quase 70 anos está satisfeito, engana-se. Provavelmente ele acha que é pouco 493.951 mil votos. Já declarou que merecia ter recebido pelo menos 2 milhões. Mas como isso já é passado – agora sua preocupação deve ser de como deixará seu gabinete bem decorado e a sua altura, em elegância. Clodovil está errado? Penso que não. Tudo em Brasília deve ser muito chato e feio mesmo. Ele começa bem seu plano político, na minha opinião.

Então, fico imaginado como será a chegada de Clodovil no Congresso. Penso que alguns deputados mais antigos e arrogantes desprezarão o paulista que fez de seu talento, inteligência e, também, frescura, as principais armas para uma vida de sucesso. É claro que muitos leitores e muitos políticos torcerão o nariz para a palavra sucesso associada a Clodovil. Mas é puro despeito. Ele tem uma trajetória de vida incontestavelmente vencedora.

Pensem nos amigos que o Clodovil deve ter. Imagino que não sejam muitos. Pensem agora nos inimigos. Imagino que sejam muitos. Ele já brigou com boa parte da imprensa brasileira e, principalmente, com boa parte dos donos de veículos de comunicação. Qualquer pessoa estaria acabada neste meio nefasto que é a mídia, da qual faço parte e critico com conhecimento de causa. Mas, Clodovil sempre consegue um espaço para aparecer, dar suas opiniões, brigar com mais pessoas e levar a vida adiante. Ele é um sobrevivente.

Agora em Brasília terá um bom salário durante seu mandato – terá a oportunidade de brigar com muito deputado chato – e dizer coisas que eu ou você gostaríamos de dizer, mas não temos coragem ou oportunidade. É evidente que inúmeras declarações dele gerarão polêmica. É esperado também que muitas de suas ações políticas mostrem-se fracassadas e inúteis. É provável até que ele não fique mais que uma semana em Brasília e volte de lá brigado com pelo menos 50% dos 512 deputados que compõem o Congresso junto com ele. Mas, se tudo isso acontecer é por que estava escrito no roteiro. Não aquele roteiro que eu ou você escreveria – mas o roteiro que só Clodovil Hernandes é capaz de escrever.

Eu, mero jornalista e vomitador de palavras, não votei no Clodovil, mas torço por ele em Brasília.  Ele é o vingador dos pobres? Não. Ele é o vingador dos ricos? Não. Ele é o vingador dos estilistas ou apresentadores de TV? Também não. Quem é ele, então? Não sei e é provável que nem ele o saiba – mas esse brasileiro com cara de índio, com trejeitos femininos, estatura baixa e corpo franzino, não desiste nunca – como diz o slogan de um país de mentiras que pensa ser a Suíça. Portanto, espero que Clodovil Hernandes seja uma “Mosca na Sopa”. Espero que a terra dos “300 picaretas” jamais seja a mesma.

(*) Jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. É Diretor de Programação da CINETVNET (www.cinetvnet.com.br), TV pela internet. Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.
  

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