As causas políticas e sociais das
epidemias
O médico e político liberal polonês do século XIX, Rudolph
Virchow – que morreu em Berlim no início do século XX, em 5 de setembro de 1902
– deu importante contribuição para o controle das principais doenças epidêmicas
mundo afora, como a peste bubônica, o cólera, a varíola, a febre amarela e
outras tantas mais. Esse aplicado profissional da saúde é considerado o “pai da
patologia moderna”. Além disso, lançou as bases de uma disciplina, hoje de
grande importância na maioria dos grandes países: a medicina social. Com base
nos estudos que empreendeu, durante uma epidemia de tifo, ocorrida em 1847, na
região da Silésia, Virchow desenvolveu uma teoria das doenças epidêmicas. Sua
principal conclusão foi a de que estas se devem não apenas a causas físicas e
biológicas, mas também (e em muitos casos prioritariamente) a desajustamentos
sociais e culturais e, em última análise, políticos, já que cabe aos representantes
do povo a adoção de medidas não somente profiláticas das doenças, mas,
principalmente, preventivas.
O eminente patologista indagou, a certa altura, em seu bem
fundamentado estudo: "As epidemias não apontarão sempre para deficiências
da sociedade?”. Eu responderia, sem pestanejar: “Claro que sim!!!” Hoje, isso
parece óbvio, mas naquele tempo era um questionamento polêmico, se não
inusitado. Em seguida, Virchow respondeu à própria pergunta, resposta esta acompanhada
da inquestionável justificação: “Pode-se apontar como causas as condições
atmosféricas, as mudanças cósmicas gerais e coisas parecidas, mas em si e por
si estes problemas nunca causam epidemias. Só podem produzi-las onde devido a
condições sociais de pobreza, o povo viveu durante muito tempo em uma situação
anormal". E não estava certo? Certíssimo!!
É muito mais provável que epidemias de quaisquer doenças se
manifestem em comunidades paupérrimas, miseráveis, carentes de tudo, a partir de
uma alimentação inadequada ou sumamente escassa, sem água tratada, sem coleta
de lixo e de esgoto etc.. Ou seja, sem aqueles princípios elementares de saúde,
de higiene e de saneamento básico, coisas que, convenhamos, cabem aos políticos
proverem e não aos médicos, mas que raramente provêm. Isso não quer dizer que
em sociedades ricas e bem atendidas, pelo menos no que é o mínimo que se espera
em uma comunidade bem administrada e idealmente assistida, não possam ocorrer epidemias.
Ocorrem, sim, todavia por contágio. É até questão da mais comezinha das lógicas.
Rudolph Virchow escreveu o seguinte a esse respeito: "A
história mostrou, mais de uma vez, como os destinos dos maiores impérios foram
decididos pela saúde de seu povo e de seu exército. Não há mais dúvida de que a
história das crenças epidêmicas deve ser uma parte inseparável da história
cultural da humanidade. As epidemias correspondem a grandes sinais de alerta
que mostram ao verdadeiro estadista que um distúrbio ocorreu no desenvolvimento
de seu povo, que nem mesmo uma política caracterizada pelo desinteresse pode
negar". E não pode mesmo.
Embora polonês de nascimento, Rudolph Virchow teve ativa
militância política na Alemanha, destacando-se como ferrenho e implacável
opositor do chanceler alemão, Otto Von Bismarck. Mas seu maior legado foi,
mesmo, na área médica, sua grande especialidade. Defendeu com unhas e dentes a
necessidade de saneamento básico, como forma de prevenção de epidemias, mas não
só nas áreas habitadas pelas classes mais privilegiadas, porém e principalmente
nos grotões carentes e miseráveis, em que a probabilidade do surgimento de
alguma doença epidêmica era quase uma certeza.
Esse médico incansável era defensor da tese de que antes de
se tratarem moléstias, era mais sábio, humano e lógico, preveni-las, desde que
isso fosse possível. A humanidade deve-lhe várias descobertas significativas. Foi, por
exemplo, quem elucidou o mecanismo do tromboembolismo, cujos fatores são
conhecidos até hoje como “tríade de Virchow”. Além disso, foi o primeiro
pesquisador a publicar um trabalho científico sobre leucemia, pelo qual todas
as formas de lesão orgânica começam com alterações moleculares ou estruturais
das células..
Destacou-se, ainda, em outros campos, que não o da Medicina
e da política. Também foi atuante, por exemplo, na antropologia. Atraído pela
arqueologia, viajou com Heinrich Schliemann – o famoso descobridor de Tróia – ao
sítio onde existiu essa mítica cidade, cuja ruína e destruição foi tão bem
narrada no poema épico de Homero, a “Ilíada”. Tornou-se mundialmente conhecido
por seu texto “Cellular Pathology as Based on Histology”. Produziu, ainda,
numerosos escritos, étnicos, artísticos e culturais, entre eles “Crania Ethnica
Americana”. Membro de várias sociedades científicas, só não conquistou mesmo o
Prêmio Nobel de Medicina – criado no ano
anterior à sua morte, que foi dado ao alemão Emil Adolf Von Behring, pela
terapia do soro para tratar difteria que este desenvolveu – a que fez jus.
Mas... Deixa pra lá!!!!
Boa leitura.
O Editor.
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Estudei Rudolph Virchow em várias matérias. Lembrei logo da importância dele. Admiráveis cabeças. Copiei e colo aqui três afirmativas dentro da citologia e histologia que ele definiu:
ResponderExcluir1º As células são as unidades funcionais de todos os seres viventes.
2º Os fluidos intercelulares não são citoblastemas formadores de células,
mas produtos derivados da atividade metabólica das células.
3º Tanto nos tecidos normais como nos doentes, toda a célula nasce de
outra célula.