Um
artista aprendiz de Autran Dourado
* Por Eduardo
Oliveira Freire
No início de 2006 fui tentar fazer um
outro curso de Pós-graduação. Queria uma especialização em literatura, já que
estou cursando uma de Jornalismo Cultural. Queria de graça, fiz a prova na
minha antiga faculdade a UFF (Universidade Federal Fluminense), não passei.
Chateado, andei meio sem rumo pelo Centro da Cidade. Resolvi ir ao sebo perto
da Praça-Quinze. Não acredito em destino, mas ao procurar livros interessantes,
encontrei o romance de Autran Dourado.
Instintivamente, peguei o livro e li um
trecho que me convenceu que deveria comprá-lo: “E o tempo passou ligeiro. Se
despediu do romantismo e das paixões desesperadas, verdadeiras ou imaginárias,
contrariadas ou incompletas. E procuraria se libertar do seu círculo fechado e
asfixiante, incorporando o seu saber técnico e as suas conquistas à obra madura
que sonhava realizar, conscientemente procurando esquecer o que sabia, para
alcançar, através do trabalho e de outra disciplina, a sua técnica e expressão,
verdadeiramente livres pouco importando o preço que tivesse a pagar”.
Momento clichê: Será que este encontro
que tive com este livro estava escrito? Ao ler a relação de obras, descobri que
há muitos anos, na escola, havia lido “Uma vida em Segredo” (1964). Recordo-me
que achei a história muito triste, mas não trágica. A protagonista não
conseguiu se adaptar na vida e a solidão acompanhou-a até a morte.
Tive que prestar bastante atenção no romance “Um artista aprendiz” para perceber quando era o narrador em terceira pessoa e quando eram os personagens que falavam, o autor não inseriu travessões nos diálogos. A diagramação dos parágrafos parecia blocos homogêneos. Recordei de três livros que li do Saramago tempos atrás.
Tive que prestar bastante atenção no romance “Um artista aprendiz” para perceber quando era o narrador em terceira pessoa e quando eram os personagens que falavam, o autor não inseriu travessões nos diálogos. A diagramação dos parágrafos parecia blocos homogêneos. Recordei de três livros que li do Saramago tempos atrás.
A história de Autran Dourado narra a
trajetória e a formação literária e filosófica do protagonista, João da Fonseca
Nogueira. O romance faz referência ao “Os anos de aprendizagem” de Wilhelm
Meister, de Göethe, (Boa pedida! Tenho que ler!!). “Cada um tem sua felicidade
nas mãos como o artista a matéria bruta à qual ele quer dar forma. Na arte de
ser feliz e em qualquer outra arte, só a capacidade é inata: é preciso
aprendizado e acurado exercício”.
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O jovem romântico João constrói o seu olhar a partir das leituras, conselhos dos mais velhos, relações familiares, paixões vividas, trocas com amigos, fatos históricos da sua época e a atividade de escrever assiduamente. Ao terminar o livro, pensei no ritual antropofágico. Nós sempre digerimos valores e conhecimentos alheios e refletimos acrescentando ainda mais ao conhecimento humano com críticas e observações.
O jovem romântico João constrói o seu olhar a partir das leituras, conselhos dos mais velhos, relações familiares, paixões vividas, trocas com amigos, fatos históricos da sua época e a atividade de escrever assiduamente. Ao terminar o livro, pensei no ritual antropofágico. Nós sempre digerimos valores e conhecimentos alheios e refletimos acrescentando ainda mais ao conhecimento humano com críticas e observações.
O artista, principalmente, necessita
sempre construir sensibilidade para assimilar o que acontece à sua volta, tanto
na sociedade com nos movimentos culturais. João observava os fatos, lia outros
escritores e estilos literários do clássico à vanguarda, até chegar à tão
sonhada maturidade para desenvolver a sua própria literatura. Contudo, não
deixava de lado as raízes antigas. “Não viverei mais com a visão do horizonte
barrada pela Serra do Curral, dizia pensando em deixar Minas Gerais.
Mas levarei Minas comigo, como o rio que para ser à sua fonte toma a direção do
mar”
O escritor Autran Dourado contextualizou em seu romance várias questões atemporais sobre arte e literatura. Para o personagem principal, João, a arte faz refletir, nunca deve ser usada para exercer dominação, causando um empobrecimento intelectual. A literatura que ele pretende fazer sobrepõe qualquer ideologia dominante. É a sua expressão mais verdadeira.
*
Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais
pela Universidade Federal Fluminense, está cursando Pós Graduação em Jornalismo Cultural
na Estácio de Sá e é aspirante a escritor
Também penso em fazer uma pós-graduação em jornalismo literário. Quem sabe no ano que vem?
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