terça-feira, 13 de outubro de 2015

Um artista aprendiz de Autran Dourado


* Por Eduardo Oliveira Freire




No início de 2006 fui tentar fazer um outro curso de Pós-graduação. Queria uma especialização em literatura, já que estou cursando uma de Jornalismo Cultural. Queria de graça, fiz a prova na minha antiga faculdade a UFF (Universidade Federal Fluminense), não passei. Chateado, andei meio sem rumo pelo Centro da Cidade. Resolvi ir ao sebo perto da Praça-Quinze. Não acredito em destino, mas ao procurar livros interessantes, encontrei o romance de Autran Dourado.

Instintivamente, peguei o livro e li um trecho que me convenceu que deveria comprá-lo: “E o tempo passou ligeiro. Se despediu do romantismo e das paixões desesperadas, verdadeiras ou imaginárias, contrariadas ou incompletas. E procuraria se libertar do seu círculo fechado e asfixiante, incorporando o seu saber técnico e as suas conquistas à obra madura que sonhava realizar, conscientemente procurando esquecer o que sabia, para alcançar, através do trabalho e de outra disciplina, a sua técnica e expressão, verdadeiramente livres pouco importando o preço que tivesse a pagar”.

Momento clichê: Será que este encontro que tive com este livro estava escrito? Ao ler a relação de obras, descobri que há muitos anos, na escola, havia lido “Uma vida em Segredo” (1964). Recordo-me que achei a história muito triste, mas não trágica. A protagonista não conseguiu se adaptar na vida e a solidão acompanhou-a até a morte.

Tive que prestar bastante atenção no romance “Um artista aprendiz” para perceber quando era o narrador em terceira pessoa e quando eram os personagens que falavam, o autor não inseriu travessões nos diálogos. A diagramação dos parágrafos parecia blocos homogêneos. Recordei de três livros que li do Saramago tempos atrás.

A história de Autran Dourado narra a trajetória e a formação literária e filosófica do protagonista, João da Fonseca Nogueira. O romance faz referência ao “Os anos de aprendizagem” de Wilhelm Meister, de Göethe, (Boa pedida! Tenho que ler!!). “Cada um tem sua felicidade nas mãos como o artista a matéria bruta à qual ele quer dar forma. Na arte de ser feliz e em qualquer outra arte, só a capacidade é inata: é preciso aprendizado e acurado exercício”.
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O jovem romântico João constrói o seu olhar a partir das leituras, conselhos dos mais velhos, relações familiares, paixões vividas, trocas com amigos, fatos históricos da sua época e a atividade de escrever assiduamente. Ao terminar o livro, pensei no ritual antropofágico. Nós sempre digerimos valores e conhecimentos alheios e refletimos acrescentando ainda mais ao conhecimento humano com críticas e observações.

O artista, principalmente, necessita sempre construir sensibilidade para assimilar o que acontece à sua volta, tanto na sociedade com nos movimentos culturais. João observava os fatos, lia outros escritores e estilos literários do clássico à vanguarda, até chegar à tão sonhada maturidade para desenvolver a sua própria literatura. Contudo, não deixava de lado as raízes antigas. “Não viverei mais com a visão do horizonte barrada pela Serra do Curral, dizia pensando em deixar Minas Gerais. Mas levarei Minas comigo, como o rio que para ser à sua fonte toma a direção do mar”

O escritor Autran Dourado contextualizou em seu romance várias questões atemporais sobre arte e literatura. Para o personagem principal, João, a arte faz refletir, nunca deve ser usada para exercer dominação, causando um empobrecimento intelectual. A literatura que ele pretende fazer sobrepõe qualquer ideologia dominante. É a sua expressão mais verdadeira.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, está cursando Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor

Um comentário:

  1. Também penso em fazer uma pós-graduação em jornalismo literário. Quem sabe no ano que vem?

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