sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Trágico


* Por Eduardo Oliveira Freire

Em uma rua tranqüila um jovem casal namora. Ao anoitecer, o rapaz se despede da moça, que suspira pela separação. Ela o vê se distanciando com a velha bicicleta, que sempre lhe servia de companhia. Um carro, com bastante velocidade, e sem controle, aparece repentinamente. Atropela-o.

Ela corre para o amado, olhos insanos. Grita, sacode-o. Não percebe que as outras pessoas se aproximam. A moça bebe o sangue, que jorra no corpo inerte. Come pedaços da massa encefálica. Quer digerir o amado, torná-lo parte de seu corpo.

Cabelos desgrenhados, urra, como um animal ferido. Rasga a blusa. Pega a cabeça rachada e a coloca nos seios. Faz carinho no rosto do rapaz. Almeja que, pela última vez, chupe seus seios, como fazia quando se escondiam entre as árvores e os postes.

“Tadinha, ficou louca, tá comendo os miolo do menino...

“Até que ela tem uns peitões gostosos. Quando saí do hospício acho que vou dá umas pegada nela...”

 “Gente, ela qué aparecê, daqui alguns dias tá posando nua...”

“Que tristeza... agora vou ver minha novela”...
 
As sirenes dos bombeiros e da polícia vão ficando mais fortes, abafando os comentários.

* Eduardo Oliveira Freire é formado em Ciências Sociais pela Universidade Federal Fluminense, está cursando Pós Graduação em Jornalismo Cultural na Estácio de Sá e é aspirante a escritor

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