Gigantes
da espécie
* Por Pedro J.
Bondaczuk
O gênio, ao mesmo tempo em que é
fascinante, é assustador, notadamente para o medíocre, o invejoso e o fútil.
Quase nunca reconhecido pelos contemporâneos, é combatido pelos néscios e
curtos de inteligência e, não raro, reprimido pelos poderosos. Estes vêem nele
permanente perigo para seus propósitos de manterem as massas submissas e em
estado de ignorância, para que ninguém, claro, conteste, ou coloque em xeque,
seu poder. Mas é o que faz a diferença em seu século e projeta sua grandeza
tempo afora, muito além da própria vida.
A genialidade se manifesta, via de
regra, por três formas: pelo raciocínio, imaginação e ação. Raramente uma mesma
pessoa reúne, simultaneamente, todas essas características. Quem o faz, é mais
do que grande homem, mais até do que gênio: é o que denomino de Gigante da Espécie.
Tenho profunda reverência por ele. Procuro, com minhas limitações e
deficiências, imitá-lo o tanto que me seja possível. Exalto-o sem-cessar, grato
pelos incontáveis benefícios – intelectuais, espirituais e até materiais – que
me traz.
Quem se destaca pelo raciocínio,
profundo, lúcido e prático, é uma espécie de farol em uma noite de tempestade
em alto mar. Ilumina o caminho, impedindo que a nossa nau se choque com
arrecifes de enganos e falsidades e nos guia, com segurança e certeza, para o
benfazejo porto da verdade. São os grandes filósofos, os argutos pensadores, os
que raciocinam com lógica e derrubam, com sua luz, as grossas muralhas dos
dogmas e sofismas.
Cabe, aqui, uma explicação. Raros,
raríssimos são os textos que escrevo em que não faça alguma citação. A maioria
das pessoas (infelizmente) não tem clarividência para entender atitudes
alheias. Desmancha-se em críticas a qualquer coisa que fuja do convencional e
prefere fazer extrapolações negativas (e burras), além de atribuir intenções
que, de fato, os criticados não têm.
Já fui acusado, até, de plágio, por
causa das citações que faço. Tremenda besteira! Basta ir à obra citada para
perceber que o contexto é bem diverso do que abordo. Poderia suprimir o que
cito sem que o texto perdesse integridade, coerência e originalidade. Meu único
intuito, porém, é o de homenagear o citado. E nada e ninguém me impedirão de
manifestar reverência por estes gênios.
Também já me acusaram de “narcisismo
intelectual” por me utilizar de citações. Meus acusadores dão a entender que
cito esses gigantes da espécie “somente” para exibir erudição. Esta é de
lascar! Então, num texto, o que devo expressar é minha ignorância e
boçalidade?! É o que devo transmitir aos meus fiéis leitores?! É proibido ser
erudito?! A superficialidade e a tolice é que devem prevalecer?! Quem pensa
isso de mim, que me faça um favor: não me leia! Passe a anos-luz de distância
dos meus textos, combinado?
Há quem se destaque pela imaginação.
São os grandes artistas, que nos abrem, de par em par, as portas da beleza e
nos levam a enxergar a vida em sua verdadeira dimensão e não esta das
aparências do cotidiano, violenta, cinza-chumbo, estúpida e mesquinha. São os
que mais admiro e requisito e, sobretudo, procuro imitar, por serem os gênios
da atividade que me seduz e que coloquei como missão de vida, que é o manejo
das letras.
Há, também, os grandes homens que se
destacam pela ação. São os empreendedores por excelência, os realizadores, os
que fazem aquilo que os tíbios e omissos consideram impossível. São os campeões
esportivos, os que ampliam os limites da capacidade e da resistência física
para muito além de onde encontraram. São os líderes de multidões, que conduzem
povos a seus grandiosos destinos.
E há, finalmente (estes sim raríssimos)
os que conseguem reunir, simultaneamente, as três características: raciocínio,
imaginação e ação. Que outra denominação lhes caberia senão a de Gigantes da Espécie?
Realizam obras superiores em verdade,
beleza, bondade e utilidade. Em geral, enquanto vivos, não ganham destaque na
imprensa. Não freqüentam manchetes de jornais, infelizmente restritas a
bandidos, assassinos, traficantes, canalhas, corruptos e avaros. Não lhes
erguem estátuas em praças públicas e nem são nomes de ruas e avenidas das
grandes cidades.
São difíceis, até, de serem
identificados, dadas sua modéstia, humildade e discrição. Mas existem e atuam o
tempo todo, preservando a verdade, a beleza e as realizações humanas. São os
sustentáculos da civilização. São gênios, como ressaltou Eça de Queiroz, no
livro “Notas Contemporâneas”, “cuja natureza não está suficientemente
explicada, mas que constituem uma força infinitamente maior que o simples
talento, o simples gosto ou a simples virtude”. Que outra qualificação lhes
dar, pois, que não Gigantes da Espécie?
*
Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas
(atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e
do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe,
ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma
nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance
Fatal” (contos), “Cronos & Narciso” (crônicas), “Antologia” – maio de 1991
a maio de 1996. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 49 (edição
comemorativa do 40º aniversário), página 74 e “Antologia” – maio de 1996 a maio
de 2001. Publicações da Academia Campinense de Letras nº 53, página 54. Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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