domingo, 4 de outubro de 2015

Escuta, filho...



* Por Lêda Selma



Da soleira da varanda, te vejo estrela, filho,
e falo, falo contigo, te ouço e quase te toco,
e me sinto consolada.
Te conto da Fórmula 1, de música, tênis, futebol,
do nosso Verdão da Serra, do teu Flamengo (sei não...!?),
das alegrias, saudades, dos sonhos e das mazelas.

Muita coisa aconteceu, muitos rumos se perderam...
Schumacher chegou ao hepta, Rubinho a lugar nenhum;
o pódio, agora, é do vôlei, novo orgulho brasileiro.
O Guga está em má fase e a raquete, cabisbaixa;
e igualmente em baixa, o prestígio da Seleção, 
depois dos fiascos na Copa (tropeçaram feio na bola!),
que, logo, estava de volta, sob apupos, xingamentos,
ronaldeando lamentos, e muitas cabeças rolaram...

Fuxicos, ah! faço muitos (que se cuidem teus amigos,
alguns ingratos, sumidos, outros presentes, às vezes),
pois sinto muita saudade dos encontros barulhentos!
Da tua galera “dos sete”, notícia dou-lhe nenhuma;
nada sei, nem do Natal, daqueles “meninos de rua”,
porém, guardiã, continuo, do teu projeto de amor.

E os políticos, filhote? Vivaldinos, alguns deles,
na arte da esperteza, graduaram-se na safadeza
e criaram o mensalão, uma nova modalidade
de corrupção e de fraude. E a mala e o cuecão,
seus bizarros personagens.
É máfia que não acaba mais (ih! até das ambulâncias!),
nem o judiciário escapou (ministro, desembargador...),
e se o traficante mandar, o jeito, obedecer!

Vergonha nacional? Como outras, muitas, muitas...
Mas o peito do Brasil ainda incha de esperança,
e tudo é carnaval!
Menor-criminoso é infrator, se punido, vira interno,
e solto, torna em inferno a vida de todos nós.
O crime organizado? Continua no poder!

Vê, filho? Quase tudo anda sem rédeas:
a impunidade é a mesma, a violência, que horror!,
os conchavos acintosos, as tramóias descaradas,
e os jetons vergonhosos...? 
Crime de “excelência” é desvio, CPI é pizza à moda,
e só o meritíssimo “Lalau”, por obra e graça da zebra,
curtiu férias na cadeia!

Ah! tenho uma novidade, isto é, nem tanto assim:
elegeu-se, reelegeu-se, presidente, enfim, o Lula,
e a elite anda fula com a ascensão da pobreza
à mesa farta, cama boa, tevê, som, computador,
até viagens de avião, lazer e sacolas cheias...!?
Paraíso...?! Calma, filho (mas nem dói tanto sonhar...)!
O paraíso, menino, só aquele prometido 
nas escrituras sagradas... E será que dói esperar...
?!

·        Poetisa e cronista, licenciada em Letras Vernáculas, imortal da Academia Goiana de Letras, baiana de Urandi, autora de “Das sendas travessia”, “Erro Médico”, “A dor da gente”, “Pois é filho”, “Fuligens do sonho”, “Migrações das Horas”, “Nem te conto”, “À deriva” e “Hum sei não!”, entre outros.



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