quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Devaneios de uma roqueira 12


* Por Fernando Yanmar Narciso


CAPÍTULO 6 (PARTE 1/3)


Desde pequena, peguei o hábito de andar imitando a Pantera Cor – de – rosa, a personagem mais cool da história dos desenhos. Tão magrinha, esguia, ela parece que vive dançando enquanto anda. E como faz bem uns sete anos que não queimo ‘unzinho’, peguei o costume de pendurar um raminho de capim-limão entre os dentes, imitando a piteira da Pantera.

Se existem duas coisas que eu não tenho a menor paciência de fazer, em 1º lugar, vem a passagem de som. Pra mim, ficar regulando os instrumentos meio que mata a espontaneidade da música. Quer coisa mais chata que ficar repassando o setlist inteiro, faltando mais de uma hora para abrirem as cortinas e acenderem os spots? ‘Som? Som? Testando!’ Afff, quem merece? O que tiver de ser feito, que seja feito right now!

Vivo zoando com minha prima porque ela não sabe parar de ensaiar. Na calada da noite, ‘nóis’ tentando pegar no sono, e lá ‘tá’ Barbie cantarolando na cama. Sempre foi assim, desde ‘curuminzinha’. I can’t deny que esse é o motivo dela ser uma cantora tão boa, mas também não precisa extrapolar né? E em 2º lugar no ranking de coisas pelas quais eu pouco me importo, vem cuidar de mim.

Pode até soar arrogante de minha parte, mas mesmo quando muito novinha as pessoas me falavam que eu era tão linda, mas tão linda que nem precisava ser vaidosa. E conforme fui crescendo acabei levando esse ‘conselho’ ao pé da letra.

Estando como estou hoje, descabelada, com não mais que um batonzinho e uma sombrinha púrpura básica nos olhos e usando roupas velhas de brechó, em qualquer viela por onde passo aqui em São Modesto, imitando a Pantera, há sempre algum par de olhos brotando pelas frestas, alguns marmanjos e ‘marmanjas’ ficando com torcicolo só pra ver euzinha passar...

As ‘tias’ no colégio costumavam me chamar de Disco Voador, porque os meninos não conseguiam ficar sem olhar pra mim dentro da sala de aula, que bosta... E as cantadas, então? Ouço tantas por dia que meu cérebro já se anestesiou! Pra mim tanto faz ouvir ‘Casa, comida e roupa lavada’ ou um peido de mosquito. Beauty is a curse...

Mas de vez em quando é bom jogar um ‘tiquinho’ pra torcida, dar um upgrade no look, pra não ficar parecendo tanto uma mendiga, como diz tia Flor, mãe de Bárbara, sempre que me vê. Como será que minha prima ta lá no Ceasa? Ah, nevermind... Cedo ou tarde vou ficar sabendo. Acho que vou dar um pulo lá no salão do Costello. Faz tanto tempo que eu não vou lá pôr o papo em dia com as meninas que elas vão querer fazer minhas unhas com aguarrás. (Risos)

E lá está o Costello’s, outro casebre socado num beco, como quase todas as casas de São Modesto. A fachada do salão já denuncia a personalidade de seu dono: Simplesmente transformou o salão numa melancia, com paredes verdes e portas e janelas rosa - choque, num padrão que ele gosta de alternar a cada início de ano.

Como não podia deixar de ser, Fidel, seu cachorrão cabeludo de não sei que raça, com o pelo tingido quase no mesmo tom de lilás do carro do Ulysses, guardava a porta de dentro de sua casinha- que se minha memória não falha, em algum momento foi um castelinho de bonecas. Acho que nunca vi ser vivo com o olhar mais constrangido que o desse cachorro na minha vida... E olha que o dono o havia tingido de ‘oncinha psicodélica’ no início do ano...

CONTINUA...

* Escritor e designer gráfico. Contatos:
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