O leitor é soberano
A importância de Machado de Assis para a Literatura – e não
me refiro só á Brasileira, da qual foi um divisor de águas, mas à atividade
literária em si, seja quando e onde for que venha a ser praticada ou que tenha
sido no passado – é incomensurável. Foi pioneiro, desbravador e inovador por
excelência, quer no que se refira a estilo, quer à temática, quer a outro
aspecto qualquer que se relacione a algum escritor. E, por mais que se escreva
a seu respeito, dificilmente se fará plena justiça aos seus inúmeros e incomparáveis
méritos. Embora críticos de ocasião (que existem aos montes, convenhamos) contestem,
sem pleno conhecimento de causa e com base tão somente em estudos superficiais,
sua real importância, só tenho uma designação para caracterizar essa
personalidade ímpar: gênio, na mais lídima acepção de genialidade.
Já confessei, e em mais de uma ocasião, que em boa parte dos
temas que desenvolvo, neste espaço diário de comentários e de reflexão, sou
pautado por leitores, que os sugerem, às vezes me desafiam e não raro até os
impõem, por e-mails. Sempre que posso, quando tenho opinião formada sobre os
assuntos propostos, os atendo. Com isso, não apenas compartilho idéias, como
aprendo muito, por ser induzido a pesquisar coisas que mal domino, das quais
tenha conhecimento apenas parcial. Raramente deixo de atender alguém. Para mim,
o leitor é soberano. Sua vontade é lei! Às vezes demoro para trazer temas mais
complexos à baila. Creio que essa tardança seja compreendida pelos
solicitantes, porquanto não posso opinar sobre o que não tenha opinião formada,
não é mesmo? É questão de lógica, respeito e responsabilidade. Só deixo de
atender os leitores quando os assuntos propostos são absolutamente irrelevantes
e não têm nada a ver com Literatura. Ou quando se trate de algo que eu
desconheça por completo. Afinal (para meu desgosto) não sou onisciente, ora
bolas.
E o que esse bla-bla-blá todo tem a ver com Machado de
Assis? Calma, eu explico. Vários leitores, e há muito tempo, insistem em me
solicitar que comente, neste meu estilo de bate-papo, a vida e a obra deste
gênio literário exemplar. Para tanto, porém, tenho que formar opinião – mas a
objetiva, a de um analista cauteloso e meticuloso, e não a de mero admirador fanático
e incondicional que sou – a propósito de alguém que se tornou referencial de
todos nós que amamos Literatura (não apenas na condição de leitores, mas na de
praticantes dessa complexa e fascinante arte).
Bem, essa etapa preliminar (e indispensável) já superei, após meses e
meses de pesquisas, apesar da escassez de tempo para tal, dadas minhas outras
atividades, “roubando”, não raro, preciosas horas de sono e de contatos
sociais.
Primeiro e antes de tudo, tive que fazer criteriosa seleção
de fontes pesquisadas – uma enormidade, embora muitas delas redundantes e
repetitivas. A internet foi fundamental nesta tarefa. Tanto que escolhi, para
fundamentar o que pretendo comentar, servindo como uma espécie de “eixo
condutor” um longo, meticuloso e objetivo ensaio (posso caracterizar dessa
forma) da enciclopédia eletrônica Wikipédia. Ali encontro datas, títulos e
fases bem definidas da trajetória do escritor, para não correr o menor risco de
me perder em pequenos detalhes, que tendem a valorizar ou desvalorizar
determinados estudos. A segunda fonte, tão importante ou mais que a primeira, é
“Contos: uma antologia – Machado de Assis”, organizada por John Gledson, em
dois alentados volumes, na edição de 1998, lançada pela Companhia das Letras.
Desse livro destaco, sobretudo, a esclarecedora introdução, a que recorrerei
várias vezes, pelo tanto de informações que contém.
Os dois volumes reúnem um total de 75 contos, dos mais de
duzentos que Machado de Assis escreveu. Concordo que se trata de pequena amostra
de uma obra contística volumosa e variada. Todavia, são as histórias mais representativas,
em termos temáticos e estilísticos, do genial autor. A introdução que mencionei
leva o título de “Os contos de Machado de Assis: o machete e o violoncelo”. E
quem é este John Gledson, organizador desta refinada antologia? É um tradutor,
ensaísta e crítico literário inglês. O leitor deve estar estranhando o fato de
eu eleger a obra de um “estrangeiro” para tratar do nosso (disparado) melhor
escritor. Ocorre que (com todo o respeito aos demais organizadores de
antologias de Machado de Assis), não encontrei nenhuma outra tão objetiva, tão
bem cuidada e tão esclarecedora quanto esta.
Ademais, John Gledson não é um “estrangeiro” qualquer. É
professor aposentado da Universidade de Liverpool. Lecionou, por décadas, em
sua cátedra, a língua portuguesa, sua especialidade e... a Literatura
Brasileira. Óbvio que, para transmitir tudo isso aos seus alunos teria que ter
(e tinha, ou melhor, tem) absoluto conhecimento de causa. Ademais, é um dos
maiores experts, fora do Brasil, na obra de Machado de Assis. Tem, portanto,
todos os requisitos para ser objetivo e didático. E de fato é. Considero, pois,
esta uma das melhores fontes para o estudo do nosso maior escritor, posto que,
neste caso, apenas de uma de suas facetas (nem por isso a menos importante): a
de contista.
Por maior que fosse meu poder de síntese (que sequer é dos
mais aguçados), seria impossível tratar de Machado de Assis em um simples e
reles texto. Portanto, os comentários que me proponho a fazer serão em vários e
vários deles. Quantos? Não sei! Só posso adiantar que serão muitos. Em suma, serão
quantos forem suficientes para dar pálida idéia de sua genialidade. Nem sempre eles serão em sequência (embora me
proponha a tentar sequenciá-los tanto quanto puder). Outros assuntos, talvez
(ou certamente?) apareçam (ou aparecerão?), cujo adiamento seja inoportuno pela
urgência. No mais... O leitor é, para mim (e continuará sendo para sempre) soberano.
Boa leitura.
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Um trailer ideal para estimular o apetite.
ResponderExcluirTalento? Vocação? Inspiração? Ambição? Não bastam... É preciso vontade, garra, determinação, entusiasmo, e muita transpiração. E Machado de Assis provou este princípio básico e incontestável, é a bula para o sucesso.
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