Blumenau, cidade com imprensa unilateral
* Por
Urda Alice Klueger
(Anunciando, para
dentro de alguns dias, um novo jornal em Blumenau/SC)
Apesar de ter toda uma
tradição na área de imprensa, já tendo mais de um jornal na época colonial, e
abrigando a mais antiga rádio do estado (PRC-4 – Rádio Clube de Blumenau) e o
mais antigo canal de televisão de Santa Catarina (TV Coligadas Canal 3), neste
tempo do século XXI, que ora vivemos, Blumenau se pauta por uma imprensa
unilateral e subserviente. Além das notícias fúteis, que nada acrescentam ao
conhecimento das pessoas da cidade, como acidentes, crimes, novelas e
correlatos, outras notícias, que poderiam ser muito mais aprofundadas, são
passadas para a população sob a ótica dos interesses do Capital, no caso,
representado por empresários, profissionais liberais e outros afins, sem o
menor interesse de que a verdadeira informação chegue ao pequeno, ao humilde,
ao que não tem outra chance de adquirir algum conhecimento a não ser através
dos meios oficialmente vigentes na cidade.
Conforme Bernard de
Mandeville deixou escrito,
“Para que a sociedade
seja feliz e o povo tranquilo nas circunstâncias mais adversas, é necessário
que grande parte dele seja ignorante e pobre. O conhecimento não só amplia como
multiplica nossos desejos (...) Portanto, o bem-estar e a felicidade de todo
Estado ou Reino requerem que o conhecimento dos trabalhadores pobres fique
confinado dentro dos limites de suas ocupações e jamais se estenda (em relação
às coisas visíveis) além daquilo que se relaciona com sua missão. Quanto mais
um pastor, um arador ou qualquer outro camponês souber sobre o mundo e sobre o
que lhe é alheio ao seu trabalho e emprego, menos capaz será de suportar as
fadigas e as dificuldades de sua vida com alegria e contentamento.”[1]
Assim, é de grande
interesse das classes mais favorecidas fazer valer o pensamento de Mandeville,
e é aí que entra O Tamarindo, proposta nova de imprensa para esta cidade na
qual puseram vendas e antolhos, para que a população e seus visitantes
soubessem que há coisas maravilhosas, como um Natal alles blau, por exemplo,
mas que nunca se desse conta dos pezinhos gelados das crianças sem calçados de
lugares como a Vila Jensen, quando o inverno chega. A favelização de Blumenau,
na imprensa vigente, é algo tão remoto quanto o conhecimento sobre as origens
da questão palestina, e não há ninguém interessado em explicar nem uma coisa e
nem a outra e outras.
É desta carência
visceral que nasce O Tamarindo, com a proposta de abrir seus olhos e fazê-lo
ver o mundo sem os desfoques com que você o enxerga até agora – a ideia é que,
daqui a pouco, você possa ouvir ou ler uma notícia e poder entender, realmente,
o que ela significa.
Adiante, Blumenau! É
tempo de termos a bilateralidade na imprensa!
[1] MANDEVILLE, Bernard de. In: THOMSON, E. P.
Costumes em Comum. Estudo sobre a cultura Popular Tradicional. São Paulo: Cia.
das Letras, 2002.
Blumenau, 26 de julho
de 2014
Quando as linhas editoriais de dois veículos são opostas, ao lê-los, tem-se a impressão de tratar-se de duas notícias diferentes, quando na verdade é a mesma. Além de ser importante mostrar todos os lados do fato, ouvindo os que estão envolvidos, também é bom dar ares imparciais e não defender uma ou outra tese. Caso o Tamarindo venha a defender apenas um lado, ele também já será torto. Avante o jornalismo independente!
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