sábado, 2 de agosto de 2014

Blumenau, cidade com imprensa unilateral

* Por Urda Alice Klueger

(Anunciando, para dentro de alguns dias, um novo jornal em Blumenau/SC)

Apesar de ter toda uma tradição na área de imprensa, já tendo mais de um jornal na época colonial, e abrigando a mais antiga rádio do estado (PRC-4 – Rádio Clube de Blumenau) e o mais antigo canal de televisão de Santa Catarina (TV Coligadas Canal 3), neste tempo do século XXI, que ora vivemos, Blumenau se pauta por uma imprensa unilateral e subserviente. Além das notícias fúteis, que nada acrescentam ao conhecimento das pessoas da cidade, como acidentes, crimes, novelas e correlatos, outras notícias, que poderiam ser muito mais aprofundadas, são passadas para a população sob a ótica dos interesses do Capital, no caso, representado por empresários, profissionais liberais e outros afins, sem o menor interesse de que a verdadeira informação chegue ao pequeno, ao humilde, ao que não tem outra chance de adquirir algum conhecimento a não ser através dos meios oficialmente vigentes na cidade.

Conforme Bernard de Mandeville deixou escrito,

“Para que a sociedade seja feliz e o povo tranquilo nas circunstâncias mais adversas, é necessário que grande parte dele seja ignorante e pobre. O conhecimento não só amplia como multiplica nossos desejos (...) Portanto, o bem-estar e a felicidade de todo Estado ou Reino requerem que o conhecimento dos trabalhadores pobres fique confinado dentro dos limites de suas ocupações e jamais se estenda (em relação às coisas visíveis) além daquilo que se relaciona com sua missão. Quanto mais um pastor, um arador ou qualquer outro camponês souber sobre o mundo e sobre o que lhe é alheio ao seu trabalho e emprego, menos capaz será de suportar as fadigas e as dificuldades de sua vida com alegria e contentamento.”[1] 

Assim, é de grande interesse das classes mais favorecidas fazer valer o pensamento de Mandeville, e é aí que entra O Tamarindo, proposta nova de imprensa para esta cidade na qual puseram vendas e antolhos, para que a população e seus visitantes soubessem que há coisas maravilhosas, como um Natal alles blau, por exemplo, mas que nunca se desse conta dos pezinhos gelados das crianças sem calçados de lugares como a Vila Jensen, quando o inverno chega. A favelização de Blumenau, na imprensa vigente, é algo tão remoto quanto o conhecimento sobre as origens da questão palestina, e não há ninguém interessado em explicar nem uma coisa e nem a outra e outras.

É desta carência visceral que nasce O Tamarindo, com a proposta de abrir seus olhos e fazê-lo ver o mundo sem os desfoques com que você o enxerga até agora – a ideia é que, daqui a pouco, você possa ouvir ou ler uma notícia e poder entender, realmente, o que ela significa.

Adiante, Blumenau! É tempo de termos a bilateralidade na imprensa!

 [1] MANDEVILLE, Bernard de. In: THOMSON, E. P. Costumes em Comum. Estudo sobre a cultura Popular Tradicional. São Paulo: Cia. das Letras, 2002.

Blumenau, 26 de julho de 2014

* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR

Um comentário:

  1. Quando as linhas editoriais de dois veículos são opostas, ao lê-los, tem-se a impressão de tratar-se de duas notícias diferentes, quando na verdade é a mesma. Além de ser importante mostrar todos os lados do fato, ouvindo os que estão envolvidos, também é bom dar ares imparciais e não defender uma ou outra tese. Caso o Tamarindo venha a defender apenas um lado, ele também já será torto. Avante o jornalismo independente!

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