segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Toque íntimo

* Por Daniel Santos


Pela primeira vez, o rapazola saiu da Baixada e atravessou o Túnel Rebouças para tentar colocação no escritório de um amigo da família, a quem seu pai pedira uma “mãozinha”, uma ajuda, para empregar o moço.

O desconforto do ônibus cheio agravou-se com o engarrafamento do trânsito. Pior: a súbita falta de energia deixou o Rebouças num breu de assustar, mas o maior sobressalto resultou de um inesperado toque.

Logo na entrada do túnel, a identidade protegida pela escuridão, alguém palmeou a coxa do moço, subiu até a virilha e massageou seu sexo ainda aturdido, depois desceu o zíper e sumiu dentro da calça de brim!

A ereção veio em segundos, a despeito da sua grande dúvida: seria mão de homem ou de mulher? Fosse quem fosse, fazia o serviço direitinho, e a inconfessável verdade é que o rapazola, imóvel, estava gostando.

Apalpa daqui, apalpa dali, o moço satisfez-se antes mesmo de descer em Copacabana. Ao saltar, caminhou ao escritório, certo de que a “mãozinha” do seu protetor iria lhe valer um bom emprego. E assim foi.

* Jornalista carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de "O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995, Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002, Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.



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