sábado, 23 de agosto de 2014

Confesso: sou brega!


Por Fábio de Lima


Não uso roupas espalhafatosas e coloridas. Não falo um vocabulário diferente das outras pessoas. Nasci em 1976, sendo que a música brega encerrou seu ápice por volta de 1978. Ou seja, minha geração é outra. Cresci ouvindo rock nacional. Admiro Titãs, Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho e Legião Urbana. Mas, se o caro leitor tiver a oportunidade de entrar no meu carro e ligar o aparelho de CD – tomará um susto: eu gosto mesmo é de música ‘brega’!

Meu negócio é ouvir Agnaldo Timóteo, Odair José, Fernando Mendes, Lindomar Castilho, Nilton César, Evaldo Braga, Nelson Ned, entre outros. Me chamem do que quiser – mas aquilo que era música! Lunático não vale. Minha família já me chama assim! Louco não vale. Meu chefe já me chama assim! Retardado não vale. Minha namorada já me chama assim! O fato é que os cantores chamados ‘brega’ expressaram os sentimentos e pensamentos do povo brasileiro nos anos 60 e 70.

O Brasil é um país engraçado. Ele teima em ser ‘chique’. Aquela coisa de ouvir Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil (cantores que gosto muito também), em roda de amigos, era para intelectual. O povo – ah o povo brasileiro – poucos Darcys Ribeiros entenderam o povo e poucos entenderão. Mas um país é formado pelo povo. Os intelectuais, quando muito, formam as universidades. O povo gosta do Roberto Carlos, sente saudade do Paulo Sérgio, gosta do Ratinho, sente saudade do Chacrinha. Ainda assim o Brasil teima em ser ‘chique’.

Portanto, no meu carro, que é discreto, sem adesivos ou penduricalhos, ainda não tem Waldik Soriano nem Paulo Sérgio – mas é tudo uma questão de tempo. Música boa não tem idade nem rótulo. Artista bom não precisa falar difícil. O povo não sabe falar inglês. O povo não sabe conjugar os verbos como se deve. O povo é humilde. O povo é decente. O povo é persistente, valente, e gosta de rima!

O povo sou eu, e você, e todo mundo, sentado nas privadas da vida, roncando nas camas da vida, escovando os dentes nas pias da vida, coçando a cabeça com as lembranças da vida. Leitores amigos e inimigos, o mundo é mais simples que a gente pensa e mais complexo que a gente sonha. Se você, caro leitor, entrasse no meu carro para escutar um som, você se tornaria povo como eu. E rodando pelas ruas de São Paulo e rodando pelas ruas do Brasil a gente até esquece que ser povo é ser humano também.

“Pare de tomar a pílula, pare de tomar a pílula, pare de tomar a pílula – porque ela não deixa nosso filho nascer...”
(Odair José)

“Eu vou rifar meu coração e vou fazer leilão, vou vender a quem der mais...”
(Lindomar Castilho)

“Eu não sou cachorro não para ser tão humilhado...”
(Waldik Soriano)

“Feiticeira, feiticeira, feiticeira é essa mulher que por ela gamei...”
(Carlos Alexandre)

“Sorria meu bem, sorria, você hoje chora por alguém que nunca lhe amou...”
(Evaldo Braga)

“Hoje eu lhe mando essas flores que eu colhi num jardim, na esperança que você se lembre um pouquinho de mim...”
(Nelson Ned)

*Jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Atua como repórter freelancer para o jornal Diário do Comércio (SP) e é diretor de programação da Cinetvnet (TV pela WEB). Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.

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