Dois
poemas
* Por Laís de Castro
Primeiro
e último
Quando você viu no espelho 
a primeira ruga que marcou o lado da boca, 
não se importou. Lembrou do primeiro beijo, 
roubado, mal dado, corrido, assustado, errado. 
Ao ver a segunda ruga, que subiu entre os olhos,
riscando a testa, lembrou do primeiro amor, 
mal feito, mal acabado, dolorido, entrecortado 
de medos e escondido.
Ao ver a terceira ruga, lembrou-se da primeira 
que não assustou quanto esta, que aponta 
para um caminho sem volta. 
E se lembrou de tantos beijos, molhados, gozosos
 como os mistérios da vida, saboreados, escolhidos, 
encantados, dourados. E se lembrou dos amores 
bem feitos, excitantes e excitados, curtidos, desfrutados, 
suados, marcantes e marcados. 
Lembrou dos amores que renderam frutos, filhos, 
você sabia quando eles eram plantados.
Rugas e beijos, amores, futuro, presente e passado. 
O espelho fosco, quebrado.
Signo  de gêmeos 
Tenho um  pouco  de minha  mãe , 
As vezes  sou doce  e mansa , 
tenho muito  de meu  pai , 
sou um  turbilhão 
em  chamas ,
e conseguir  tudo 
o que  quero.
E, como  ele , sei me  retirar 
Se perdi a vez , saio
e espero
(para  logo 
depois  voltar ...)
Sei escrever  avisos de prudência ,
E, claro , sei, equilibrar  pendências .
Sei cometer  um 
profundo  arranhar 
E ganhar , de virada , as desavenças .
Tenho, por  fim , a distração  da velha  mãe 
E a atenção  redobrada
de meu  pai 
A inexperiência  dela,
abstraída,
(não  herdei seu  amor  pela  missa ...)
* Jornalista, atuou no
grupo Abril (3 prêmios Abril). Trabalhou, ainda,  8 anos na Editora Três (sob Luís Carta), 11
na Editora Símbolo onde foi diretora da Corpo a Corpo, da Vida Executiva e na
Dieta Já. É autora do livro “Um velho almirante e outros contos”, pela Editora
Siciliano.
 



 
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