quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Memento mori

* Por Paulo Henriques Britto

I
Nenhum sinal da solidão se vê
lá onde o amor corrói a carne a fundo.
Dentro da pele, no entanto, você
é só você contra o mundo.

Esta felicidade que abastece
seu organismo, feito um combustível,
é volátil. Tudo que sobe desce.
Tudo que dói é possível.

II
Luz frágil que brota no breu
e num rápido relance dá forma
e cor e corpo às coisas todas,

luz que se apega o pouco que pode
às aparências, acredita piamente
no sonho de substância que secretam,

luta com todas as parcas forças
contra o conforto de apagar-se enfim
por trás de duas implacáveis pálpebras.  
  

Poeta, lingüista, professor e tradutor, autor dos livros “Liturgia da matéria”, “Mínima lírica”, “trovar claro” e “Macau”.



Nenhum comentário:

Postar um comentário