quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Acontecimentos culturais de todo dia

* Por Mara Narciso

 A dinâmica dos acontecimentos culturais segue uma tabela de interesse público e de mercado. É claro que há vaidade em jogo, mas o estímulo a cultura é o que conta. Assim vão desfilando eventos no noite a noite da cidade. Há dez dias aconteceu a Exposição Memórias de Montes Claros, de Rogério Figueiredo, no Ateliê-Galeria Felicidade Patrocínio. Não conhecia seu trabalho. As paisagens urbanas da década de 60 são o forte da exposição. De repente estamos de volta ao passado, uma época em que o autor não se lembra e nem deve ter vivido, até pela idade. Nascido em Grão Mogol, pintou Montes Claros, e fez isso muito bem, a partir de fotografias.

As pinceladas rasgadas e imagens semidelineadas, estimulam a imaginação. Vi duas daquelas cenas com reservas: uma lavadeira, em rio de Grão Mogol, devido às cabeças das crianças estarem como se fossem decapitadas, boiando na água num efeito assombrado, e da rua Dr. Santos, no mercado velho, que está com um declive que nunca existiu. Todos gostaram e foi vendida de imediato. Mas quem sou eu para comentar perspectiva? A obra com a qual eu me apaixonei foi uma da Rua Simeão Ribeiro, onde se via um fusca verde e uma moça andando de bicicleta. Fez-me voltar ao passado, aos meus sete anos, quando meu pai tinha uma loja de roupas, A Parisiense, justo no ângulo captado pelo quadro. Também foi vendido e não sobrou para mim, que, pelo local retratado e beleza chamou a minha atenção. Cheguei a voltar para vê-lo mais vezes.

Então, na quarta-feira aconteceu a inauguração da Biblioteca Simeão Ribeiro Pires. Ele foi engenheiro e prefeito de Montes Claros. Era homem rico e culto, e bem depois da sua morte a família doou para o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros sua biblioteca particular com oito mil títulos. O escritor Wanderlino Arruda, eleito presidente do Instituto Histórico, teve acesso às obras e falou que é um belo acervo, com livros importantes e em bom estado de conservação. A Casa da Cidadania, que é municipal, abriu espaço para a biblioteca. O prefeito Ruy Muniz esteve presente e aproveitou o público de escritores para explicar ações polêmicas do seu governo. Dona Yvonne Silveira, que neste mês completa 99 anos, e é presidente da Academia Montesclarense de Letras, falou de pé e de improviso, da importância dos livros doados e do local onde os mesmos estão, próximos à população que deverá lê-los. Depois, boa parte dos presentes iria à reinauguração do auditório do Centro Cultural Hermes de Paula, onde haveria uma peça de teatro.

Na sexta-feira aconteceu o lançamento do livro “Crônicas do Coração – Um Sopro de Saudade”, de Carmen Netto Vitória. Ela é de Montes Claros, mas mora em Belo Horizonte.  É sócia correspondente da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Seu livro é uma coletânea de crônicas publicadas em jornal, e segundo o apresentador, Augusto Vieira, tem uma linguagem poética. Está sobre a minha grande pilha de livros para ler, que vou derrubando de um lado e acrescentando de outro. Espero nunca terminá-la. Depois dos discursos, o público foi brindado com tira-gostos tipicamente montes-clarenses, como carne de sol, mandioca frita na manteiga, paçoca de carne seca e pastel “pipoca”, como dizem. Uma parte das pessoas saiu antes do término para ir ao concerto de Artur Moreira Lima, com seu show itinerante, que já rodou todo o Brasil em dez anos em um caminhão baú. Pena não ter podido ir, mas vi a matéria na TV. Na primeira fila a nossa incansável Dona Yvonne Silveira. A imagem mostrou a música clássica unindo gente de todas as classes e idades, numa completa comunhão.

No outro sábado uma exposição de arte coletiva e confraternização de fim-de-ano da Associação dos Artistas Plásticos de Montes Claros, presidida pela artista plástica Conceição Melo. Tinha obras de 20 artistas da cidade entre pintores e escultores. Foi na Casa de Cultura Márcia Prates, com música ao vivo, e bom papo. Uma exposição coletiva é muito instigante, pois mostra estilos díspares lado a lado, e cada um com seu conceito, técnica, estilo e temática. Numa mostra dessas é preciso ir devagar, mirando aos poucos para não haver conflito interno. Vê-se que a figura humana e a religiosidade preponderam nas imagens. É como visitar um museu de arte, dando a sensação que cada um está numa época. Gostei de um quadro de Márcia Prates onde se vê, nas suas cores terrosas, um molho de sempre-vivas, outros elementos e algumas pombas. Uma delas tem uma asa em movimento: a perfeição em pessoa. União entre beleza e conhecimento anatômico. Tudo é maravilhoso e todos são excelentes artistas? Eu não me arriscaria a dizer isso, até porque não entendo de arte, e escrevo o que sinto ao ver as obras. Quando elas me falam, me ganham. Pode-se dizer que muitas delas comunicaram-se comigo. Só por isso já vale uma visita. É preciso buscar crescimento intelectual nas sete artes, como bem me lembrou o artista plástico e médico Carlos Araújo: pintura, escultura, arquitetura, música, literatura, dança, teatro e cinema. Haja pelo menos criatividade, já que originalidade é um bem mais escasso.


*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”    

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