quinta-feira, 1 de agosto de 2013

No carrossel da vida

* Por Arita Damasceno Pettená

Se é verdade que cada homem que passa é um drama que caminha, nós somos esses dramas que perambulam pelos compartimentos do mundo, ora jogados no asfalto quente das desilusões, ora trancafiados entre quatro paredes a sofrer, mesmo rodeados de gente, o desespero da solidão, o massacre das injustiças que colocam, muitas vezes, em dúvida a nossa fé num ser superior. Mas é também nessas horas que a gente volta o olhar cansado para trás e vê que não estamos sós. Lá longe, num país distante, jovens, crianças e mulheres sendo dizimados por uma guerra que não programaram. E aqui, tão perto de nós, cabecinhas brancas, órfãos de pais vivos, adolescentes entregues às drogas, morrendo, lentamente, nos asilos, nas “febens” do mundo, nas grades das prisões, pelo descaso que sempre lhes damos quando apelos nos fazem de que precisam de nossa paciência, de nossa palavra, de nossa compreensão.

Ah! No carrossel da vida,  quantas almas sem ter para onde ir... sem ter com quem ficar... É o filho de pais separados, dividido entre o amor dos dois. É a dissolução de um sonho de ternura, provocando traumas profundos. É a mãe que vê partir seu filho, recebendo na hora última o conforto que não consola seu pranto. É alguém que trabalha sob o peso do desgaste a abalar-lhe o físico e o emocional, sem encontrar uma mão amiga a desviar-lhe da depressão. É o homem reduzido a escombros diante do inevitável: a calúnia, a inveja, a falta de amor ao próximo. É o artista sufocado em sua sensibilidade pelos limites impostos à sua criação. É o cronista que vê cerceado seu pensamento, porque “um poder mais alto se alevanta” para deter sua luta em prol de um futuro menos condicionante às leis que impedem o homem de ser livre e procurar seus próprios rumos. É a vítima de um mal incurável, esperando, no minuto que passa, o instante da morte, em sua derradeira passagem pela vida.

Ah! No carrossel da vida, nos igualamos todos. Somos ao mesmo tempo algozes de irmãos que condenamos aos cárceres da desesperança pela nossa falta de confiança no outro. Somos desertores de nossos próprios sonhos porque nos faltou a coragem de crermos em nós mesmos. Mas hoje, por certo, o espírito da ressurreição há de expulsar de nossa mente todos os temores vãos, para dizer-nos, em uníssono, que nos tornamos, neste momento, mensageiros da palavra do Senhor, varrendo de nossos caminhos a semente da dúvida e do pessimismo.

Não nos torturemos com nosso olhar cheio de vazio, com as rugas que fizeram vincos  em nosso rosto, testemunhas fiéis não da alegria que dissimulamos para o mundo, mas depositários de todas as lágrimas que choramos pelos golpes que marcaram fundo nossas almas. Hoje, tal como a terra ressequida tem sede da chuva para rasgar-lhe o solo, nós temos sede de Ti, ó Senhor, para nos trazer a bênção do orvalho e a força do Teu amor.

Hoje nos bendizemos  todos os sofrimentos que se armazenaram dentro de nós, como desertos de  areia  que custamos a vencer pela fadiga de nossos passos, pelas trevas de nosso egoísmo, , porque é somente pela dor que conquistamos o cetro da vitória. Senhor, que a gente não Te busque mais nas altas paragens, no infinito que nunca se alcança, nos templos que às vezes não nos dizem nada, mas como verdade presente em todas as ocasiões em que nos sentimos sós, em todos os instantes que pudermos propalar a Tua palavra, até mesmo nesta humilde crônica, suplicando a Tua ajuda  para levarmos uma mensagem  de esperança a todos  que precisam de nós.


* Poetisa, escritora e professora, membro da Academia Campinense de Letras e da Academia Campineira de Letras e Artes.

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