Análise do maniqueísmo
* Por Cintio Vitier
Quantas vezes foi humilhada sua soberba:
a soberba do maniqueísmo.
Quantas vezes você teve que beber suas lágrimas de fel
por não ser puro como um anjo.
De onde te vale sutilizar os argumentos?
--- É verdade, você colaborou com tudo que odeia,
com a múltipla, infinita cara do mal.
Em alguma medida? Só por omissão? Só pra ganhar o pão?
Nada pode te consolar.
Nada: porque por mais ou menos irrecusável que tenha
sido sua cumplicidade o essencial é sua miséria,
e por mais que você achasse que estava amparando em sua
casa os deuses sempre derrotados,
você não era nada mais que um obscuro operário
da monstruosa construção.
E assim, quando chegue à presença de seu Senhor, não
poderá dizer-lhe:
fui puro, não conchavei, não misturei minha alma com as
trevas,
mas você terá que confessar: sou
esta mistura desprezível,
me impuseram o insulto da promiscuidade,
tive que dar a César o que é de César
e ao corpo o que é do corpo,
sou mais um perdido e manchado, no rebanho,
--- quis salvar a luz, mas não pude.
Tradução: Alai Garcia Diniz e Luizete Guimarães Barros.
* Poeta cubano
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