Instintiva
imitação
* Pedro J. Bondaczuk
A imitação é uma das principais
características humanas. É um ato até mesmo instintivo. Consciente ou
inconscientemente, imitamos nossos pais, amigos, mestres, ídolos esportivos,
artistas de cinema e televisão, astros pop etc.etc.etc. Não raro, até, copiamos
nossos maiores desafetos. Difícil, todavia, é encontrar quem admita isso.
Pior é quando cismamos de imitar
rematados pilantras, perigosos bandidos ou irrecuperáveis marginais. Há muitos
que agem assim e, lógico, se dão mal. Se não formos a este extremo, porém, não
vejo mal algum na imitação. Aliás, é este mimetismo que nos caracteriza como
animais. Os macacos fazem muito isso (não sei se com algum resquício de
consciência ou inconscientemente).
Há quem queira, porém, ser
original, único e inimitável. Perguntaram-me, certa feita, o que fazer para
atingir o grau máximo da originalidade. Respondi: “ame o próximo como Cristo
amou; seja firme em sua fé como Abrahão foi quando Deus ordenou que imolasse
seu filho único Isaac e seja mais criativo e prolífico do que Leonardo da
Vinci, e tudo isso simultaneamente. Talvez, então, você se aproxime alguns
passos (sei lá se muitos) da originalidade”.
Como todo o mundo (consciente ou
inconscientemente), tenho dezenas, centenas, quiçá milhares de pessoas às quais
admiro e que procuro imitar. Não em tudo, óbvio, porquanto isso seria
impossível e nem o tempo todo. Faço-o, contudo, num ato aqui, outro ali, outro
acolá e, com isso, componho um painel de aquisições com as quais procuro sempre
evoluir. Ademais, meus modelos também tiveram os seus, que por sua vez tiveram
igualmente os seus, e assim regressivamente, até chegarmos ao primeiro homem
que habitou a Terra.
Claro que a cópia, por mais
perfeita que pareça, nunca será igual ao original. Os marchands vivem às voltas
com imitações, que se constituem em tormentos na sua atividade. Para venderem
determinado quadro, de algum pintor famoso e consagrado, via de regra, precisam
fornecer os respectivos atestados de originalidade. Contam, para isso, com os
préstimos de especialistas na matéria, super-treinados, que farejam à distância
quaisquer tentativas de fraudes.
Algumas imitações, porém, são tão
perfeitas que enganam os maiores experts. Muita gente por aí, portanto, já
andou comprando, sem se dar conta, gato por lebre. Quando me refiro a imitação,
claro, não estou pensando em
plágio. E sequer na malfadada pirataria de determinados
produtos.
Falo em algo muito mais abstrato
e sutil, ou seja, em imitar gestos, atitudes, posturas, idéias, coisas desse
gênero, sempre acrescentando algo de pessoal ao que for imitado. E sempre
mencionando o modelo, até por questão de justiça. Quase nunca, porém, este é
mencionado, por questão de vaidade nossa.
Que tal imitarmos Cristo, em
santidade; Gandhi, no idealismo; Jacó, na perseverança; Einstein, na
genialidade e (no nosso caso, de escritores), Machado de Assis no talento?
Claro que o que conseguiremos não será propriamente uma imitação, mas mera
caricatura. Essas personalidades, pela excelência de suas vidas, são
inimitáveis.
Há muitos outros modelos, além
dos citados, alguns mais atuais e acessíveis. Mas se conseguirmos imitar,
digamos, 1% das características positivas dessas personalidades, certamente
seremos pessoas muito melhores, quem sabe geniais.
Há, porém, desgraçadamente,
indivíduos de miolo mole que procuram copiar o que há de pior na espécie
humana. São muitos e muitos e muitos os bandidos, os vilões, os rematados
pilantras servindo de modelo, notadamente, para os adolescentes, que admiram,
sobretudo, sua suposta valentia. Esta, porém, não passa de covardia em relação
aos mais fracos e aos de conduta irrepreensível. Os resultados, dessa estúpida
imitação, todos sabemos, de sobejo, quais são. Só quem deveria saber é que não
se dá conta disso.
Theodore Adorno constatou, a
respeito, em um de seus textos: “O homem estabelece-se na imitação: um homem
torna-se um homem apenas imitando outros homens”. Ou você se acha original e
inimitável? Já nasceu sabendo andar, falar, se relacionar com os parentes, os
amigos, os inimigos e os estranhos, a ler, a trabalhar etc.etc.etc.? Nossa,
cara, você é um gênio! Ou, na verdade, é um baita de um mentiroso! Enfim...
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio
Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor
do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico
de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos
livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos),
além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
Repetido a exaustão, o que não deixa de ser também uma cópia, por, acho que pela primeira vez Chacrinha, não sei: "na televisão nada se cria, tudo se copia". Só posso concordar.
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