O homem continua só
* Por Roberto Corrêa
O homem, essa maravilhosa criação
divina, a obra prima do Universo, é uma individualidade que vive absolutamente
só. Causa-nos estúpida admiração, portanto, que filósofos, sociólogos e
assemelhados tenham construído teorias absurdas como o nazismo, fascismo e o
comunismo avassalador –aceitas por multidões incalculáveis- o último somente
estrebuchando, no final do século XX. Só nos tranqüilizamos porque relembramos
a informação bíblica de que o número de tolos é infinito (numerus stultorum est
infinitus), complementado pela mística mensagem de que, “muitos são os
chamados, poucos os escolhidos.”
Nas agitadas urbes e metrópoles
contemporâneas, a nossa primeira impressão é de que o homem é um ser coletivo.
Vive coletivamente, dependendo dos outros nos seus mínimos detalhes. Tal
dependência o socializa, em grau maior ou menor, a ponto de tornar-se simples
autômato, requintado robô, que se arrebenta com as eventuais falhas da
programação, inevitáveis face às permanentes ou inarredáveis crises da vida.
Mas, num determinado momento, se
pararmos para pensar, refletir e meditar; se nesse precioso tempo nos
deslocarmos para a solidão do campo, onde só a natureza existe, o céu azul,
árvores, vegetação, a água de uma nascente, o canto dos pássaros e o chão que
pisamos, é induvidoso concluir: estamos sós, absolutamente sós. Nós, o mundo e
Deus. Então sentimos a plena individualidade, a absoluta independência de todos
e de tudo. Nesses momentos de solidão
podemos compreender a maravilhosa importância da criação humana, obra de um Ser
Superior que nos infundiu a centelha da imortalidade.
Não nos é possível, porém, nos
deter no isolacionismo. Não podemos viver isolados o tempo todo. Outros
indivíduos como nós, os semelhantes, os nossos irmãos, têm a mesma procedência,
os mesmos ideais, igual destinação. Precisamos conviver em harmonia fraternal,
mutuamente nos unindo e colaborando. É a sociedade natural que, se prevalecesse
sem desvios, evidentemente teria transformado a terra em paraíso. O homem,
infelizmente, acariciando e não resistindo às profundas inclinações para o mal,
tumultua a própria existência gerando os angustiosos e abundantes conflitos,
fartamente conhecidos.
Todavia, não podemos desanimar.
Reconduzidos à dignidade de Rei do Universo, reconfortados com as
reflexões na solidão telúrica – real ou
ficta-, batalharemos para multiplicar e frutificar os talentos recebidos,
seguros de que, da unidade individual perfeita, surgirá a sociedade que
sonhamos.
Revendo esta crônica escrita há
mais de dez anos, achei por bem
republicá-la, com ligeiras correções, pequena alteração no título e algumas
linhas de acréscimo. Baixou-me intensa saudade, porque a solidão daquela época
se manifestava mais esperançosa e poética. Hoje a solidão que nos cerca é mais
carregada de mazelas, acrescida da desesperança dos sonhos ainda não
concretizados e da periculosidade do mundo, envolto cada vez mais em desatinos
e violência. Todavia, não nos deixando abater, sacudindo a poeira que os
transviados caminhos da modernidade emitem, confiamos que a centelha divina que
carregamos nos permitirá, ainda, alcançar a Canaã prometida.
* Roberto
Corrêa é membro do Instituto dos Advogados
de São Paulo, da Academia Campineira de Letras e Artes, do Instituto Histórico,
Geográfico e Genealógico, de Campinas, além de diversos clubes cívicos e
culturais, também de Campinas. Formou-se
pela Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. Fez pós-graduação em Direito Civil pela USP e se aposentou como
Procurador do Estado. Dedica-se a escrever artigos ou crônicas sintéticas,
bem ao gosto dos leitores dos dias atuais. Católico tradicional, procura encaixar
conceitos da filosofia tomista que dignificam o homem, objetivando sua
felicidade a partir deste conturbado mundo. É autor de vários livros, entre
eles "Caminhos da Paz", "Direito Poético", "Vencendo
Obstáculos", "Subjugar a Violência”,Breve Catálogo de Cultura e
Curiosidades.
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