sábado, 11 de fevereiro de 2012



Fábula do cão capitalista

* Por Herculano Alencar

Era um belo cão! Tinha pedigree!
Seu dono (um burguês de pouca idade)
vivia, qual um poço de vaidade,
de tênis Nike, blusa e calça Lee.

E lá se ia ele, aqui, ali...
a exibir o cão, qual jóia rara:
corrente e coleira das mais caras
vaso granfino pra fazer xixi...

Um certo dia houve um cão vadio,
que por ali vagava na esperança
de algum osso pra encher-lhe a pança,
algum abrigo pra matar-lhe o frio...

quando encontrou o cão e seu burguês:
—Au! Ladrou o vira-lata admirado,
mas só o que ouviu do outro lado
foi o desprezo surdo e a mudez.

Passaram-se os anos. e o burguês
ruiu numa desgraça financeira:
perdeu seu patrimônio, a coleira...
o vaso de xixi, a altivez...

Seu belo cão-amigo "deu nas patas"...
ganhou a rua sem olhar pra trás.
Hoje ele ladra, e mija, e come, e faz
tudo o que faz um velho vira-lata.


• Poeta

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