quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012







Almôndega sueca




* Por Fernando Yanmar Narciso

O Brasil não merece os políticos que tem, bem disse o ex-presidente Figueiredo. Deve ser incrível viver num pais de 1º mundo, concordam? Um lugar onde a justiça não seja apenas uma das milhões de palavras que ninguém lê no dicionário, realmente funcione e puna quem merece ser punido. Peguemos de exemplo um país pequeno da Europa , rico mas que não esteja sempre embaixo dos holofotes, como a Suécia. Os que me acompanham há mais tempo conhecem meu caso de amor com esse país. Terra dos vikings, do The Hives, de Cristina Lindberg, do ABBA- Ok, não se pode ganhar todas...
Mas, o mais importante, um país onde a política funciona. A coroa sueca praticamente obriga seus parlamentares a ser honestos. É um universo inconcebível para os brasileiros, mas lá os deputados não recebem mordomia alguma. Vivem em conjuntos habitacionais do Governo no melhor estilo “cabeça de porco”, não possuem gabinete próprio, tendo que despachar em casa e sequer têm direito a uma “secretária do lar”, tendo de fazer a faxina e a lavanderia por conta própria. Recebem tanto quanto um trabalhador comum, e eles que não tentem sair fazendo extravagâncias com o dinheiro público. Se estiver contando uma bala a mais na verprestação de contas, seu nome fica sujo pro resto da vida. E, mesmo assim, ainda há muita gente querendo ser político por lá!


Meanwhile in Brazil...


Há uma coisa muito importante acontecendo no nosso país. Nossa presidente(a) está, enfim, cumprindo uma promessa feita por seu antecessor há oito anos (ou seriam 40?), e começou uma verdadeira temporada de caça aos ratos no governo. Já é o sétimo ministro indicado por Lula e sua turma que é forçado a se retirar do cargo por falha de conduta. Talvez seja só uma ilusão, mas o fato é que, com essa atitude, nossa comandante-em-chefe dá aos pobres, trabalhadores e tementes brasileiros comuns uma brisa de alívio e esperança, sabendo que há alguém lá em cima de fato fazendo o que se espera que seja feito. Eu sei, eu sei que os mais céticos agora devem estar dizendo que ela está apenas abrindo espaço para os corruptos do amanhã, mas e daí? Essa “faxina” sequer devia ser necessária!
Cada um de nós exerce um papel na sociedade. Lixeiros varrem as ruas, peões de obra levantam edifícios, motoristas de ônibus nos deixam esperando no sol quente, padres fazem... O que é que padre faz, mesmo? Enfim, cada um deles faz algo importante para nosso macrocosmo, então por que com os políticos é diferente?
Dói tanto assim fazer simplesmente... O que deveriam estar fazendo? Você foi eleito, escolhido pelo seu povo para lutar por seus direitos, então por que acaba se esquecendo disso quando chega lá? A vaidade e a ganância sempre acabam falando mais alto quando se vive num país como o nosso, com a “cultura” do subir na vida a qualquer custo.
Creio eu que, mesmo se todos os deputados, vereadores, governadores, prefeitos e senadores de repente surtassem e se tornassem pessoas corretas e fizessem o trabalho que deviam estar fazendo, ainda continuariam sendo chamados de ladrões, chifrudos, vagabundos e **zões pela população.
Metade da culpa deles serem como são hoje é, na realidade, nossa, afinal desde que saímos do útero nossos pais nos mostram um santinho (apelido irônico, não?) de político, apontam para o sujeito da foto e nos ensinam “Ele, político. Você odeia político. Nenhum político bom.” Por isso políticos honestos acabaram virando no Brasil personagens tão folclóricos como a mula sem cabeça e o saci.
Antes de mudar o governo, precisamos mudar os governados. Enquanto existir essa mentalidade feudal de “Eu sou mais rico que você, logo eu mando e você obedece”, e a idéia de que os políticos mandam no povo e não o contrário, tudo vai permanecer essa cagada de pato que temos em mãos há séculos.Pelo menos Dona Dilma está tentando fazer a parte dela, apesar dos bombardeios das raposas velhas da oposição. Claro que não é a Suécia, mas já é um começo...

• Designer e colunista do Literário.

Um comentário:

  1. Eu gosto dessa limpeza. Há uma amiga que não acha que se deva usar a palavra faxina, por entender ser discriminatória contra a mulher. Ainda assim, aprovo, mesmo que tantos se deliciem em criticar. Quanto aos suecos, a assepsia local não me atrai, mas a solidez democrática sim.

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