sábado, 1 de maio de 2010


Breves e mal ensaiadas reflexões sobre o machismo

Por Clóvis Campêlo

Quando Deus nos modelou (os machos) e colocou a massa no forno, na região do púbis, o barro não rachou. Pelo contrário, projetou-se para fora, formando uma protuberância, uma saliência atrevida. Esse (feliz) acaso, provocado pelo excesso de alguma substância diferenciada no barro utilizado, supostamente colocou-nos, ao longo da história da humanidade, do lado do poder.

E isso é fácil de explicar: ela significava força, massa muscular, uma capacidade maior de execução dos trabalhos físicos. E isso nos valorizou (os machos). Nas sociedades primitivas, esse (feliz) acaso nos tornou guerreiros, intrépidos, atrevidos, sanguinários, valentes. Quase sem querer, dominamos o mundo.

As mulheres viviam felizes cuidando das suas tarefas de mulheres e chorando os guerreiros mortos nos campos de batalha. Mas, rei morto, rei posto, o choro era curto e logo arranjava-se outro macho mantenedor e defensor da prole.

E essa condição não existia só no ocidente. Na China feudal, anterior à Revolução Cultural do Grande Timoneiro, era comum as famílias maldizerem e exterminarem as filhas fêmeas, porque significavam uma boca a mais e uma menor força de trabalho no campo. De certo modo, isso só se modificou a partir da revolução comunista, que em menos de cem anos transformou um país medieval e repleto de grandes injustiças sociais numa grande potência mundial.

Nas sociedades mais modernas, onde a mais valia e a possibilidade do lucro sempre as orientou e ditou as leis, essa condição não só foi mantida, como foram criadas regras sociais que a justificassem. Quem quisesse que fosse de encontro a elas (as regras sociais)! Sempre estivemos todos nelas enquadrados.

Na medida em que o desenvolvimento tecnológico foi substituindo a força de trabalho masculina pela força de trabalho das máquinas e equipamentos, foram se consolidando as condições adequadas (do ponto de vista do lucro do sistema) para que as mulheres fossem se emancipando e ocupando outros lugares e papeis nas sociedades. Isso sempre rendeu uma aparente satisfação (para elas) e a manutenção do lucro (para os donos do sistema).

* Jornalista e poeta do Recife/PE

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