domingo, 30 de maio de 2010


O mundo é uma bola

Caros leitores que nos prestigiam com sua leitura, boa tarde.
O mundo é uma bola... “Não diga!”, obtemperará, certamente, em tom de deboche, aquele sujeito chato, que escrutina nossos textos com uma poderosa lupa, em busca de imperfeições para nos escrachar, com inequívoco e característico ar de superioridade. “Se você não dissesse, eu não saberia”, aduzirá, cinicamente, para tornar a observação ainda mais ácida.
Ocorre, meu mau-humorado crítico que há reticências após “o mundo é uma bola”. Não se trata, pois, de nenhuma afirmação acaciana minha (em referência àquele personagem de Eça de Queiroz no romance “O primo Basílio”, o Conselheiro Acácio, que dizia solenemente as maiores obviedades do mundo como se fossem notáveis descobertas), mas é o título de um oportuno livro, lançado pela Editora Ática, como parte da coleção “Quero ler”. Por que a oportunidade? Isso sim é óbvio em vésperas de uma nova Copa do Mundo.
Trata-se de uma forma inteligente de unir três fatores dos mais populares do nosso tempo: futebol, literatura e humor. O próprio título da obra sugere essas três coisas. A bola é referência óbvia a esse esporte das multidões que, a cada quatro anos, polariza as atenções mundiais, com suas “batalhas” sem sangue, mas com vencedores e derrotados, com heróis e vilões, com suor e lágrimas em profusão (dos vencedores e dos perdedores, posto que derramadas por razões opostas). A palavra “mundo”, por seu turno, remete à reflexão, à generalização, à cuidadosa observação, tarefa principal de nós, escritores. E onde entra o humor nisso tudo?
Simples e, paradoxalmente, obscuro. Havia, há não muito, uma expressão bastante popular que era usada sempre que se ouvia uma anedota engraçada (algumas não têm graça nenhuma, convenhamos). Os ouvintes, em meio a gargalhadas e até a lágrimas derramadas de tanto rir, exclamavam, face à piada: “isso é uma bola!”. Por que era usada essa gíria? Não sei e nunca soube. Há já um bom tempo, porém, não a ouço, não pelo menos com o significado de “isso é muito engraçado”. As gírias, como se sabe, mudam ao sabor dos caprichos populares.
Mas o melhor do livro eu ainda não revelei. E não se trata, propriamente, do conteúdo, das histórias e crônicas saborosas versando, como já disse, sobre futebol. A parte que valoriza, sobremaneira, essa edição, não se refere, pois, ao “o quê” foi escrito e nem “como”, mas a quem escreveu.
A Editora Ática reuniu uma Seleção Brasileira de astros das letras de deixar Dunga morrendo de inveja e frustração. Exagero meu? Longe disso. Vejam só alguns dos escritores que integram a coletânea de “O mundo é uma bola”: Armando Nogueira, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino, José Roberto Torero, Lourenço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo, Millôr Fernandes, Moacyr Scliar, Paulo Mendes Campos, Rachel de Queiroz, Rubem Braga e Stanislaw Ponte Preta. Isso, dos autores de que me lembro (ah, esta memória que me trai sempre nas horas mais inoportunas!).
Como se vê, são os melhores das três áreas que o livro se propõe a tratar, e simultaneamente: futebol, literatura e humor. Digam-me, existe coisa mais gostosa de se ler do que isso? E ainda mais escrita por essas “feras”, por esses talentos, por esses craques que deixam Pelé, Maradona, Ronaldo Fenômeno, Messi, Zidane (e quem mais vocês queiram citar) no chinelo?
E olhem que não estou a soldo da Editora Ática para fazer propaganda do livro. Jamais contatei-a (embora não garanta que não vá contatá-la algum dia) para que, eventualmente, publicasse qualquer das minhas obras (tenho 18, rigorosamente inéditas). Nem mesmo ganhei meu exemplar de cortesia. Comprei-o em uma livraria e não me arrependi, é óbvio.
Escrevo com tanta ênfase e entusiasmo sobre “O mundo é uma bola” porque o li, deliciei-me com os 29 primorosos textos (pudera, escritos por quem os escreveu!) e, como já é meu costume, decidi partilhar minha euforia com vocês. Fico alucinado, abobalhado, saudavelmente perplexo quando leio alguma coisa tão boa. E sinto-me, até, na obrigação de partilhar o que me empolgou tanto com o mundo.
Li vários livros de cada um dos astros citados, individualmente. Tenho antologias com diversos deles reunidos. Mas desconheço qualquer coletânea em que esse grupo, sem favor nenhum a nata da literatura brasileira, esteja todo junto, e abordando tema específico, cada um no seu estilo e com a verve que o caracteriza.
Daí julgar oportuno trazer-lhes, neste último domingo de maio, quando faltam míseros 12 dias para o pontapé inicial da Copa do Mundo da África do Sul, essas entusiásticas e alucinadas considerações (absolutamente fora dos padrões jornalísticos e literários usuais) sobre esta preciosidade que é “O mundo é uma bola”.

Boa leitura.

O Editor.

3 comentários:

  1. Gosto de textos que se referem ao futebol
    dos bons tempos principalmente as crônicas.
    E se te empolgou tanto...
    Beijos

    ResponderExcluir
  2. Lembrei-me, do livro: "85 anos de Bola Rolando", de Givanildo Alves. Projeto Gráfico e Capa: Euclides de Andrade Lima(meu filho)-pp.855 - Edição 2000. Embora que o livro retrata mais a fundação da então Liga Sportiva Pernambucana, atual Federação Pernambucana de Futebol (dez anos depois do primeiro jogo: Sport e o English Eleven).
    Já coloquei na minha agenda, quando tiver tempo, irei conferir "O mundo é uma bola".
    Obrigado, Pedro.
    Bom domingo para todaos

    ResponderExcluir
  3. Nelson Rodrigues também costumava escrever sobre futebol. Ele não estaria nesse livro? Quando se unem futebol, inteligência, bom-humor e literatura só pode ser festa para os neurônios. Em breve poderei ler tudo que indica.

    ResponderExcluir