segunda-feira, 17 de maio de 2010







“Ler e escrever, para mim, é tão vital quanto comer, dormir, beber e respirar”

Apresento aquele que escreve de jeito espontâneo e no ritmo do pensamento. Não se manifesta como escultor de palavras. O fluir célere do seu raciocínio com avanços e recuos, é sua marca e uma chance para nos deixar acompanhá-lo. Costuma fazer perguntas e respostas, sendo isso um cacoete de mestre. Culto e teórico deita falação, defendendo seu ponto de vista, expondo argumentos, e citando autores renomados para fincar certezas. Ao mesmo tempo dá seus volteios, faz que volta, e então vai, e seu tipo sisudo acaba flertando o humor. Surpreende defendendo um ponto de vista para em seguida fazer sua oposição. Isso denota humildade, mas não se engane: é sabedoria camuflada. A obstinação pela Literatura e pelo Literário vai além da paixão, chegando à insensatez. Há quem não goste da sua narrativa professoral. Mesmo quando ameaça cansar o leitor com sua ponderação culta e interminável, que se faça justiça: aprende-se sem dor, pois não humilha com palavras difíceis. Em respeito a quem o lê, sua erudição não empola. Com a palavra nosso editor Pedro Bondaczuk: (MARA NARCISO)

Literário – Trace um perfil resumido seu, destacando onde e quando nasceu, o que faz (além de literatura) e destaque as obras que já publicou (se já o fez, claro).

Pedro J. Bondaczuk – Nasci na pequenina Horizontina (a rima, aqui, é casual), terra de gente bonita, como a Xuxa e a Gisele Bundchen, em 20 de janeiro de 1943. Sendo assim... eu não poderia ser feio. Todavia, adotei Campinas como cidade para morar e ser feliz (na verdade, a adoção foi mútua, porquanto a Câmara Municipal local honrou-me com o título de Cidadão Campineiro, que ostento com enorme orgulho, desde 1994). Vivo aqui há já meio século. Por aqui estudei, me formei, namorei, casei, gerei meus filhos, vi nascerem meus netos e certamente esta terra generosa haverá de acolher, um dia (que espero seja daqui a mais cinqüenta anos) meus restos. Sou, basicamente, homem de comunicação. Só não trabalhei em televisão. No mais... Comecei no rádio, à frente dos microfones, na Rádio Emissora ABC de Santo André, onde, aos 19 anos, tive a felicidade de ser escolhido o “Locutor Revelação de 1961”. Passei pelas principais rádios de São Paulo, antes de mudar-me para Campinas. Por um certo tempo, exerci, simultaneamente, as funções de radialista e de jornalista. Até que uma atividade começou a interferir na outra, obrigando-me a fazer uma escolha. Escolhi o jornal. Trabalhei nos dois principais jornais de Campinas, o Diário do Povo (por quatro anos) e o Correio Popular (por vinte). Tive uma passagem de mais quatro anos por uma agência de publicidade, a Arte Brasil, o que me abriu novos horizontes. Atualmente, participo da edição do Diário Oficial do Município de Campinas, como funcionário contratado da Informática dos Municípios Associados (IMA), empresa de economia mista à qual cabe essa tarefa. Publiquei os livros “Quadros de Natal” (contos), em 1990 e “Por uma nova utopia” (ensaios), em 1998, cujos direitos comerciais doei, em sua totalidade, ao Centro de Defesa da Vida, instituição voltada à prevenção do suicídio. Tenho dois novos livros já editados e impressos, à espera da resolução de uma pendência financeira com a editora, para serem postos à venda: “Cronos & Narciso” (crônicas) e “Lance Fatal” (contos). Estimo que essas obras estejam nas livrarias no máximo em julho (espero).

L – Você tem algum livro novo com perspectivas de publicação? Se a resposta for afirmativa, qual? Há alguma previsão para seu lançamento? Se a resposta for negativa, explique a razão de ainda não ter produzido um livro.

PJB – Creio que esta questão foi respondida no final da minha resposta anterior.

L – Há quanto tempo você é colunista do Literário? Está satisfeito com este espaço? O que você entende que deva melhorar? Por que?

PJB – Na verdade, sou co-criador do Literário, ao lado do seu verdadeiro idealizador, o jornalista, escritor, teatrólogo e cineasta José Paulo Lanyi. A idéia da sua criação foi apresentada, em janeiro de 2006, à Miriam de Abreu, funcionária do Comunique-se, que a encaminhou à direção daquele portal. Aprovada em fevereiro, foi concretizada a partir de 27 de março de 2006. Como não havia quem se dispusesse a editar esse espaço, prontifiquei-me a fazê-lo e sou o editor até hoje. O Literário, portanto, é meu “filho” também. Sou, pois, seu colunista mais antigo e o que mais textos publicou (272, entre crônicas, contos e poesias), além de haver redigido mais de 400 editoriais (ufa!!!). E fiz tudo isso não por vaidade, como alguns interpretaram, mas para que o espaço pudesse sobreviver, principalmente em seu início. No nosso terceiro aniversário, em março de 2009, o Comunique-se decidiu extinguir o Literário, em decorrência da mudança da sua linha editorial. Para não deixar esse projeto tão relevante morrer, transferi-o para o blogspot, com a anuência unânime dos colunistas. E aqui estamos, firmes e fortes, desde abril de 2009. Se eu dissesse que estou satisfeito com este espaço, estaria mentindo. Há muita coisa a ser melhorada. Uma delas é que venha, finalmente, a se estabelecer a tão desejada interação entre escritores e leitores. Oportunamente, pretendo melhorar o visual e, quem sabe, acrescentar vídeos pertinentes para ilustrar os textos. Tudo isso, porém, ainda está em estudo.

L – Trace um breve perfil das suas preferências, como, por exemplo, qual o gênero musical que gosta, que livros já leu, quais ainda pretende ler (dos que se lembra), qual seu filme preferido, enfim, do que você gosta (e do que detesta, claro) em termos de artes.

PJB – Minhas preferências têm tudo a ver com a minha formação. Fui criado em uma família que sempre cultivou a boa música, em que os livros sempre tiveram prioridade sobre quaisquer outros bens, em que as artes plásticas se constituíram em preciosidades cultivadas e colecionadas até obsessivamente. Minha grande influência (e a ele devo o que sou e o que gosto), foi do meu tio materno, Jan Kraszczuk, intelectual que não merece ser esquecido por sua lucidez e inteligência. Em música, gosto, sobretudo, dos clássicos (Chopin, Mozart, Beethoven, Rachmaninoff, Brahms, Tchaikovski, Strauss, Bellini, Bach, Verdi e vai por aí afora). Gosto demais dos tenores Enrico Caruso, Mário Lanza, Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e o Carrera. Em música popular norte-americana aprecio as composições antigas, dos irmãos George e Ira Gershwin, por exemplo, com sucessos como Swanee (imortalizada na voz de All Johnson), “Rapshody in Blue” (composição para piano e orquestra fortemente marcada pela influência jazzística), a ópera "Porgy and Bess" – baseada em novela de Du Bose Heyward, que retrata a vida nos cortiços negros de uma cidade do sul dos Estados Unidos no início do século – “Of thee I Sing”, “George White Scandals”, “Oh Kay”, “An American in Paris” e “Jazz Piano Prelude”. Gosto de tudo o que Cole Porter já compôs, como, também, Irving Berlin, Richard-Hart etc.etc.etc. Sou amante do jazz. Em música popular brasileira, gosto das composições de Dorival Caymmi, da turma da Bossa Nova (de toda ela), de Gil, Caetano, Milton Nascimento e, lógico, desse gênio que é Chico Buarque de Holanda. Quanto à leitura... Não vou fazer sacanagem com nenhum escritor, citando um ou dois livros em particular. Posso dizer (há quem duvide, mas o que fazer?), seguramente, que já li por volta de dez mil livros. Só a minha (caótica) biblioteca particular, tem mais de quatro mil volumes. O que pretendo ler? Tudo o que me cair em mãos. Livro é coisa que não dispenso jamais. Só o faria se ficasse louco. Quanto a cinema, embora seja cinéfilo inveterado, gosto de produções antigas de Charles Chaplin, do Gordo e Magro, de clássicos como “Casablanca”, “Guerra e Paz”, “Doutor Jivago” e vai por aí afora. São milhares os filmes que aprecio. O que detesto? São tantas coisas! Fosse relacioná-las, passaria dias escrevendo. O mau gosto, assim como a burrice, é universal (e intemporal). . .

L – Você gosta de teatro? Por que?

PJB – Gosto demais. Tenho, inclusive, peças escritas, algumas encenadas nos meus tempos de estudante. Caso haja oportunidade, pretendo publicar as melhores. Por que gosto dessa arte? Porque foi a primeira e direta forma de comunicação com arte entre as pessoas. Tem um caráter didático por excelência e, nesse aspecto, é inigualável. E foi o teatro que lançou as bases da dramaturgia contemporânea. Sem ele, não existiriam as novelas de televisão e nem os filmes do cinema. Salve, pois, o teatro, hoje e sempre!

L – Você já esteve no exterior? Onde? Se não esteve, para onde gostaria de viajar e por que?

PJB – Infelizmente, nunca estive. Em 1997, o Correio Popular, jornal em que eu trabalhava, ofereceu-me a oportunidade de escolher entre uma viagem a Cuba ou ir a Pernambuco. Por qual vocês acham que optei? Claro que escolhi ir ao nosso Nordeste. Nunca me arrependi dessa opção. Pelo contrário. Mas gostaria muito de conhecer países como Portugal, Espanha, França e Suécia. Por que? Mero capricho!

L – Você tem predileção por algum gênero literário? Qual? Por que?

PJB – Gosto, indistintamente, de todas as formas de literatura.

L – Qual dos seus amigos vive mais longe? Onde?

PJB – Tenho vários amigos nos Estados Unidos. Tenho-os, igualmente, na Alemanha e no Japão. Como a memória não está lá muito afiada, não sei qual deles está mais distante.

L – Qual é, no seu entender, o pior sentimento do mundo? Por que? E qual é o melhor? Por que?

PJB – Em termos de sentimento, o pior, no meu entender, é o ódio. Já quanto a comportamento, o mais nocivo é a omissão. O omisso é um parasita que quer que os outros façam o que lhe competia fazer. Com isso, aumenta o peso da nossa carga. Afinal, se determinadas pessoas não fazem a sua parte, esta acaba compartilhada com todos os demais. Alguém tem que fazer as coisas, do contrário.... o mundo estagna. Quanto ao melhor sentimento, escolho, sem pestanejar, a bondade. A seguir, vem o amor.
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L – Se pudesse eleger um único escritor estrangeiro como o melhor de todos os tempos, quem você escolheria? E o brasileiro?

PJB – Escolheria o que mais influenciou a minha escrita: Jorge Luís Borges. Do brasileiro, não preciso refletir muito não. Afirmo, sem pestanejar: Machado de Assis, o “Bruxo do Cosme Velho”. Completo e perfeito!

L – O que você está produzindo atualmente?

PJB – Bem, venho produzindo como nunca (estou em fase de frenética criatividade) crônicas (dez por semana), contos (dois por mês) e poemas (nem sei como contabilizá-los). Além disso, sempre que há uma folga (o que raramente acontece), trabalho no meu primeiro (e até aqui único) romance. Sou um tanto dispersivo, caótico, mas... produtivo.

L – Qual livro, ou quais livros, está lendo no momento?

PJB – Atualmente, estou lendo um romance instigante, “A menina que roubava livros”, de Markus Susak. Mas (deixe-me ver), há uns vinte outros na fila, à espera de um tempinho..

L – Fale de alguma pessoa que você considere exemplar. Por que?

PJB – Exemplar? Nelson Mandela. Pensem bem, o sujeito permaneceu vinte e sete anos preso, após um arremedo de julgamento. Após ganhar a liberdade, todavia, consegue eleger-se, e por dois mandatos consecutivos, para a presidência do seu país. E mesmo tendo em mãos tamanho poder, em vez de se vingar dos seus algozes, une-se a eles, perdoa-os e dessa forma pacifica e integra um país. Quem, nos tempos atuais, agiria assim? Duvido que haja alguém.

L – Em quais localidades do País você já esteve e gostaria de voltar? Por que?

PJB – Bem, já estive em doze Estados e gostaria de voltar a todos (às mais de duas centenas de cidades que visitei). Mas as localidades que me marcaram mais foram Recife, Caruaru, Poços de Caldas e, sem dúvida, a sempre maravilhosa “Cidade Maravilhosa”, ou seja, Rio de Janeiro.

L – Qual a sua maior decepção literária? E a maior alegria?

PJB – Minha maior decepção literária foram as várias recusas de editoras para publicação de livros meus que permanecem inéditos (são 18 à espera de oportunidade, que certamente vai surgir). Alegria? Meu exercício diário de Literatura. Ler e escrever, para mim, é tão vital quanto comer, dormir, beber e respirar.

L – O que você acha que deveria ser feito para estimular a leitura no País?

PJB – Entendo que deveria haver campanhas permanentes, em rádio, televisão, jornais e revistas, de estímulo à leitura. E tornar, claro, o livro acessível a todos os níveis de renda.

L – Você tem algum apelido? Qual? Fica irritado quando o chamam assim?

PJB – Não sei por qual carga d’água, pois sou relativamente pequeno (1,73 de altura e 73 quilos), mas desde que me conheço por gente, todos me chamam de “Pedrão”. Tentaram colocar em mim vários outros apelidos, nas sempre estraguei a brincadeira. Ou seja, nunca fiquei brabo e eles acabaram por não “colar”. Se fico irritado? Não, claro que não. Só acho estranho esse aumentativo, já que nem mesmo grandão eu sou.

L – Fale um pouco dos seus planos imediatos. E quais são os de longo prazo?

PJB – Meus planos imediatos são de continuar escrevendo, mais e mais, e publicar, o máximo possível, vários dos dezoito livros que já estão escritos, revisados, pré-editados e muitos, até, com prefácios escritos.

L – Há alguma pergunta que não foi feita e que você gostaria que houvesse sido? Qual?

PJB – Não. Já falei muuuuito mais de mim do que deveria. Mas... sou incorrigível tagarela, como vocês podem constatar.

L – Por favor, faça suas considerações finais, enviando sua mensagem pessoal aos participantes do Literário.

PJB – Bem, não estava nos meus planos conceder esta entrevista. Para não dizerem, porém, que “fugi da raia”, decidi me expor por inteiro. Alguns, que já gostam de mim gratuitamente, vão apreciar essas confidências. Outros... que me detestam sem motivo ou razão, vão odiar. Nossa atividade é assim mesmo. Seria tolice achar que algum dia poderemos vir a nos tornar unanimidade. Nem Jesus Cristo conseguiu isso. É bom que assim seja. Afinal, como Nelson Rodrigues costumava dizer, “toda unanimidade é burra”. Eu diria, é cretina. A título de mensagem, deixo aqui uma exortação: se você foi abençoado com a vocação para as letras, escreva. Escreva muito e exaustivamente. Não tenha receio de expor suas idéias. Leia, converse, debata, discuta se isso for necessário. Só não seja omisso e jamais cometa traição com o próximo mais próximo de você: você mesmo! Mantenha paz, sobretudo, com sua consciência. É isso aí...

5 comentários:

  1. Pedro, falar o que de você? O "cara" que
    me abriu as portas literalmente.
    Suas palavras de incentivo me tiraram do
    casulo, agora fiquei exibida.
    Que as bençãos das letras recaiam sobre muitos...amém.
    E que possamos estar sempre ao seu lado nessa luta pela divulgação da leitura.
    Um beijo meu querido editor.

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  2. "Só não seja omisso e jamais cometa traição com o próximo mais próximo de você: você mesmo!"
    Salve, Pedro.

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  3. Pedro, que bom que nos concedeu a oportunidade de cohecê-lo um pouco mais! Forte abraço!

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  4. É isso aí, Pedro.
    Conversando com o escritor Urariano Mota (Quando participamos de um documentário sobre o Recife de antigamente) a sua compulsiva arte de escrever e um grande incentivador da literatura...Gostei da entrevista e a luta continua, para o bem de todos nós!
    Abração do,
    José Calvino

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  5. Sua fama de rabugento não procede. Vejo que o apresentei de formas próxima a que se mostrou na entrevista. Você me fez sorrir quatro vezes. A lista de músicas diz que a sua memória está muito além de afiada, está exata. Sabia que era culto, mas ler dez mil livros é demais.

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