segunda-feira, 24 de maio de 2010




Saudade da Ponte que eu nem vi

* Por Renato Manjaterra

Não queria que o Jorginho fizesse com o Carnielli do jeito que o Carnielli fez com o Sergião. Gostei do time. Acho que não precisava mesmo muito pra acordar a torcida. E o sábado (15 de maio) foi empolgante.

Mas a segunda foi melhor. à noite parei num bar pertinho do campo que tinha um senhor simpático de jaleco e umas fotos na parede, da Ponte é claro. Além do Mané Fala Ó, da Gilda e de outras lendas de Campinas. Havia até um desenho da Dona Ana, a figura da Ponte Preta. Dela não se tem retrato. Só quem viu. Do resto, inveja.

Tinha um time na parede, com faixa de campeão. Campeão da Primeira Divisão de Profissionais do Estado - 1969. Campeã do interior naquele ano, com um grande time.

De cara reconheci o Nelsinho, lateral. Hoje Baptista. Depois vi o Dicá e o velhinho do bar, graças ao meu bom Deus, veio limpar a mesa bem da frente do quadrinho. Veio de propósito, certeza. Só para falar: Era um timaço.

Perguntei de um por um. Wilson Quiqueto, o Wilson, de quem eu já tinha ouvido falar. Quiqueto... olha só. Sabia que tinha o Manfrini nesse time, mas achava que ele era muito mais velho do que o Dicá. E ele estava bem do lado do Mestre, carinha de moleque. Do outro lado o Alan, famoso também. Todo mundo daquele time na verdade a gente já ouviu falar. Até dos zagueiros, dos volantes, que deviam ser volantes pré-Dunga, clássicos. Eu pelo menos imagino que todos os volantes daquele tempo dos calções apertados eram clássicos. Até os do Goitacaz.

Quer dizer. O nome do zagueiro eu não me lembro, deixo depois nos comentários, mas o velho me disse que era muitas mil vezes melhor que Oscar. Juro por Deus que ele falou muitas mil vezes melhor do que o Oscar.

É claro que ele está certo. Velhinho novinho em folha, uma agilidade de moleque com cara de sessenta-e-quase-mais-que-setenta, aproximadamente. Mas eu achei sacrilégio, e ironizei: Joga quase igual a esse Diego Jussani? – nota,: joga muito esse moleque viu – mas o velho é dono de bar, não deu recibo, como diz o Saviani (jornalista dos bons!) . Deu foi uma risadinha.

Perguntei se era sério: melhor do que Oscar. Porra, Oscar eu mesmo vi! Na Ponte só em videotape, mas na Copa eu vi na TV. Muitas mil vezes melhor do que o Oscar então era o Baresi? Nem ele! Muitas mil vezes nem o Baresi. Todo mundo sabe disso. Pois o velho garantiu e garante até hoje.

Eu estou escrevendo antes de checar. Essas coisas eu checo com o meu pai. Mas eu não duvido do velhinho do bar não. Viu muito mais do que eu.

Ainda mais a gente falando de Ponte Preta.

* Jornalista e escritor, webdesigner, colunista esportivo, pontepretano de quatro costados, autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

3 comentários:

  1. Gosto dessa histórias, pois era uma época em que haviam craques de verdade.
    Adoraria ter sido testemunha de um jogo
    do Garrincha que pra mim era melhor do que o Pelé.
    Um gênio da bola.
    Tempos em que o amor e lealdade pelo time eram mais importantes que o "dindim"...
    Ô saudades sô.
    Ótimo texto.
    Abraços

    ResponderExcluir
  2. Caro Renato, vi esse timaço jogar. Era uma orquestra, jogava por "música". Só não foi campeão paulista, no ano seguinte, porque, no jogo com o São Paulo, o Arnaldo César Coelho "operou" nosso time sem anestesia. Testemunhei grandes equipes da Ponte Preta, que tem uma das mais fiéis e apaixonadas torcidas do país. Sou um dos milhares que curtem essa paixão. Quem não é de Campinas, não entende esse sentimento. Uma pena (para eles). Foi bom você trazer o assunto à baila. Nossos ídolos não podem ser esquecidos pelas novas gerações. Só discordo de uma coisa: que o Samuel, já falecido (excelente zagueiro por sinal, um dos melhores que já vi jogar), tenha sido "mil vezes melhor do que o Oscar". Era muito bom, não nego, muito seguro e raçudo, mas na comparação, ficou alguns furos abaixo do nosso sensacional zagueiraço, que se destacou na Seleção Brasileira, ainda quando estava na Ponte Preta. Só gostaria que os atuais jogadores da Macaca se mirassem no exemplo desse timão de 1969, fizessem das tripas coração, e reconduzissem nossa profundíssima paixão ao lugar de onde jamais deveria ter saído: a elite do futebol brasileiro.

    ResponderExcluir
  3. Renato

    Que bom que você escreveu sobre futebol. Poucas vezes vejo autores escrevendo sobre um dos maiores símbolos do país. A Copa está aí, e não faltará inspiração para você escrever crônicas interessantes como esta. Parabéns!

    ResponderExcluir