quinta-feira, 20 de maio de 2010




Orgulho viking

*Por Fernando Yanmar Narciso

Noutros tempos, bastava deixar a espada e a cabeça de um adversário sobre a mesa, mostrar umas moedas de ouro, urrar e choviam virgens em cima dos homens. Gloriosos dias foram aqueles. Dias do tudo ou nada, dias em que se demarcavam territórios com o rasto do sangue inimigo. Todos respeitavam a pessoa pelo que ela era, não por suas posses, seu terno ou pelo corte de cabelo. Nos últimos séculos, quando as nossas grandes batalhas já foram vencidas, inventaram que devemos sentir vergonha do animal que somos.

Todo mundo agora precisa agir de maneira civilizada, se segurando pra não arrumar confusão. Para algumas pessoas isso deve ser bom, mas para homens de verdade, iguais a você e a mim, isso é uma tremenda viadagem. É praticamente proibido agir como um bárbaro em público, e até os nossos “colegas de gênero” mandam-no calar a boca se você supostamente “passa da conta”.

Pensem se precisaríamos de um policial bigodudo e entediado para nos proteger de bandidinhos pé-de-chinelo se voltássemos aos velhos tempos? Pouparíamos tudo o que gastamos com impostos para manter delegacias funcionando. Em vez de delegacias, as masmorras deveriam voltar a existir. Lugares lúgubres, úmidos, tenebrosos e anti-higiênicos, com a morte estampada em cada parede, cheios de “brinquedinhos” para “entreter” nossos estimados contraventores. Queria ver se algum malandro voltaria a pegar um três-oitão se soubesse que, se preso, ia parar numa masmorra...

Deveria ser lei. Todo homem deveria andar com um mangual medieval dependurado no cinto ou uma machadinha. Assim, se qualquer atendente de loja, garçom ou quem quer que seja nos tratasse com pouco caso, bastava sacar a arma, destruir a mesa ou balcão, esmagar qualquer um que venha com retórica pra cima da gente e urrar igual a um urso até que começassem a nos tratar com respeito. É certo que, no começo, haveria muitas prisões, e até alguns óbitos, mas depois de um mês, se tornaria uma conduta socialmente aceitável.

A cada década que passa, mais e mais dos que se consideram homens se preocupam com a aparência. A mídia vende todos os dias que o gênero masculino, pra ser feliz, tem de ser alto, magro, musculoso e com um tanquinho suspeito na barriga. Esses babacas desses metrossexuais e pitboys, principais matérias-primas dos reality shows, arruínam cada vez mais a reputação de nós, caminhoneiros, peões de obra, marceneiros, sapateiros, pedreiros, estivadores, donos de botequim, serventes, carroceiros, etc. Isso porque toda mulher agora só quer saber desses boiolas, que usam mais maquiagem e cremes que todas elas juntas. Pois discordamos disso! Homem não precisa ter obrigação nenhuma com a beleza. As mulheres, sim.

A idéia de que homem precisa de banho só pode ser de alguma mulher. Homens das cavernas não tomavam banho, os bárbaros também não, por que nós precisaríamos? Se você se garante, jogue fora todo o sabonete de sua casa e vá brincar de rolar num aterro sanitário. Você vai achar seu CC estranho nos primeiros dias, mas em umas duas semanas, nem vai mais sentir cheiro nenhum, podendo iluminar sua casa à noite acendendo um fogo em cima do seu fedor.

Quanto à alimentação, sigam uma regra simples: se não sangra ao morrer, não vale a pena ser comido. Em prato de homem, só pode entrar carne. Arroz e feijão são ofensas à virilidade. E pra beber, só vale bebida alcoólica. Se não dá dor de cabeça no dia seguinte, não beba. Ácido muriático ou fluido de bateria podem ser substitutos em casos extremos.

Sobre os esportes, se não tiver bola, fuja. Lembrem-se sempre que caminhada não é esporte, luta-livre de mulher de biquíni na lama é esporte.

Escolaridade: se você sabe o que é hipotenusa ou qual é a capital da Ucrânia, não é homem. A única matemática que homem tem permissão pra entender é a tabela do Brasileirão. Saúde. Está na Constituição Chauvinista, todo macho que se preze PRECISA morrer de medo de médico e dentista, mesmo que o homem em questão seja médico ou dentista.

Sexo: quanto mais, melhor, desde que não seja sempre com a patroa. Emoções, nunca as demonstre. Homem nunca chora, cultiva tumores por todo o corpo.

Se cada bundão do planeta seguisse essas regras, o mundo se tornaria um lugar mais simples de se viver. Simples e selvagem. Então, se você é homem, levante-se agora, abra a janela e dê o maior rugido que conseguir. Acorde os vizinhos, os cachorros, urre até disparar alarmes das cercas elétricas e carros. Mostre ao mundo quem você é! WAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Obs.: Este texto é meramente uma obra satírica de ficção, as opiniões nele expressas não condizem em nada com a maneira real do escritor encarar a vida.
... Será?

* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

2 comentários:

  1. Verídico ou não, está super engraçado!
    Mas tem coisas aí que não dá para aturar
    mesmo.
    Tipo, não tomar banho por exemplo, desde quando
    "inhaca" e sinal de macheza? Eca!
    Adorei!
    Abraços

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  2. Essa nova desordem é assustadora. Dei risadas, especialmente quanto aos urros, mas espero que nenhum homem aceite essas sugestões.

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