sexta-feira, 22 de maio de 2009




Última chance, de novo...

* Por Rodrigo Ramazzini

- Eu vou mudar... Prometo!
- Duvido!
- Sério! Juro pela...
- Não coloca a tua mãe no meio!
- Mas...
- Mas nada! Desta vez nem vou fingir que acredito... Acabou! Não tem desculpa que me faça mudar de idéia!
- Por favor, me dá mais uma chance! Eu juro que mudo...
- Quantas vezes tu disseste isso antes e o que aconteceu, hein? Nada!
- Mas agora é diferente, amor!
- Não me chama de amor, Miguel! Não me chama de amor!
- Não faz assim, Lucélia!
- É o que tu merece! Merece mais até. Como eu fui boba em acreditar que podia te mudar! Como eu fui boba! Ai, quanta coisa eu tinha sonhado pra nós... Que ódio!
- Então, amor! Dá mais uma chance para o nosso namoro. Eu faço o que quiseres. Prometo! Pode começar a lista...
- Tu não vai mudar, Miguel! Eu sei disso...
- Acredita em mim, Lucélia! Pelo menos desta vez.
- Como tu és cínico... As novelas estão perdendo um ótimo ator!
- Ai meu Deus, Lucélia! Eu estou aqui de coração aberto, sendo o mais sincero possível, disposto a mudar, começar o nosso relacionamento de maneira diferente, consertando os erros que cometi, para te fazer feliz. E tudo isso por quê? Simples: porque eu te amo! Muito! Te amo muito! Mas tu me tratando assim...
- É que...
- Pô! Desmancha essa armadura aí e me dá mais chance! Dá... Eu sei que tu queres!
- Não sei se tu mereces uma nova chance.
- Mereço sim!
- Não sei...
- Vamos!
- Não faz essa cara!
- Pelo nosso amor...
- Está bem! Venceu... Mas será a última! Está ouvindo bem, Miguel? A última...
- Por isso que eu te amo! Me dá um beijinho!
- Calma! Calminha aí! Para reatarmos o namoro certas condições terão que ser seguidas...
- Fala! Faço tudo que quiseres... Mudo o que tiver que mudar!
- Quero só ver!
- Podes acreditar! Fala...
- Primeiro: futebol com os amigos apenas uma vez por semana!
- Bom! È que... É que...
- Miguel!
- Tá! Pode ser!
- Pode ser, não! Tem que ser! Se não acabo de novo...
- Calma! Tá bom! Combinado! O que mais?
- Ir a alguma festa sozinho, como, aliás, o senhor tem feito, nunca mais!
- Aham!
- Esse teu “Aham” não me convenceu...
- Ok! Sem festas...
- Cervejada com os amigos, churrascos na casa de fulano, pescarias, caçadas e etc. e tal, somente com autorização prévia...
- Pô!
- Quer? É assim...
- Tá bom! Tá bom! Pelo teu amor vale tudo! Mas vou me tornar um presidiário...
- Ainda dá tempo de desistir. Queres?
- Não! Não! Nunca...
- Me deixa ver o que mais...
- Tem mais?
- Tem sim! Ia esquecendo: terminou as cenas ciúmes por qualquer coisa! A partir de hoje, eu falo com quem quiser, me visto como quero e não vou suportar mais ouvir qualquer insinuação!
- Meu Deus! Quer me matar!
- Pegar ou largar?
- Pegar! Pegar!
- Hoje, nós vamos naquele restaurante italiano e depois na pagodeira...
- Putz! Tu sabes que eu não gosto de pagode...
- Eu vou ir! Com a aquela minha saia curta...
- Tá bom! Tá bom! Terminou?
- Por enquanto sim! Vou pensar com mais calma e depois te largo a lista completa...
- Putz!
- O quê?
- Nada amor!
- Vou tomar um banho e me arrumar...
- Certo! Te espero... Fica bem linda!

Minutinhos depois...

- Alô Julinho? É o Miguel. Cara! Me enrolei com a Lucélia, ela vai me “sugar” essa noite inteira. Daí, não vai dar pra ir nesta festa! Mas a de amanhã está confirmada. Tudo certo! Como tínhamos combinado... No clube, no horário de sempre... Vou ter que desligar que ela vem vindo. Falô!
- Esqueci a toalha! Com quem estava falando?
- Com a mãe... Avisando... Avisando que eu vou chegar mais tarde hoje!

* Jornalista e cronista

2 comentários:

  1. Não há como ficar indiferente a esse talento para diálogos vivazes, rápidos, com capacidade de nos mostrar toda a situação. Caso raro em que uma palavra vale por dez mil imagens. Parabéns.

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  2. Sempre muito gentil comigo. Muito obrigado, Daniel!

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