sábado, 30 de maio de 2009


Cenas de uma segunda-feira

*Por Luís Delcides R. Silva

Segunda-feira à tarde, um vendaval, chuva rápida e intensa e um cochilo. Depois do temporal, o céu se abriu e segui o meu caminho até a parada de ônibus da Avenida Sapopemba.

Vários ônibus passavam pela via. Uma mulher nordestina, falante, dava broncas no seu filho para que prestasse atenção se o ônibus estava chegando. .Logo, às 15h30 chega o coletivo que esperava: metrô Carrão.

Trânsito livre durante o trajeto, poucas paradas. Às 16h15 estava no terminal de ônibus da estação Carrão e segui até a plataforma do metrô. Ao embarcar no trem, foi bem rápido até a Barra Funda.

A estação final do lado oeste da linha vermelha é a mais movimentada. Os meus passos estavam apressados para chegar pontualmente à consulta marcada com a minha terapeuta, mas era gente que escorria pelas ladeiras e passarelas dos arredores da estação.

Após passar pelas belas ruas das Perdizes, chego bem no horário marcado, 16h55, para a consulta. Lá é o meu espaço, o lugar onde me alimento para encarar a minha vida tão ativa e intensa que levo.

Primeiro ato

18h00. A tardinha cai e a luz da aurora resplandece sobre as Perdizes. Andar a pé pela Rua Cardoso de Almeida é mais rápido do que os carros e ônibus que circulavam pela via. Uma passadinha na padaria, na esquina com a Candido Espinheira, para um lanchinho rápido e seguir até a faculdade.

Ao entrar na estação Barra Funda, vejo pessoas cansadas, outras correndo para chegar à faculdade, entrar, ver o que acontece e assinar a lista e ir embora. Eu seguia em direção ao Paraíso. As plataformas da estação estavam lotadas de pessoas, gente que escorria gente, que encostava pelas laterais das escadas e das paredes.

O trem chega. Entro junto com os outros passageiros e sigo até a Sé. Ao desembarcar na estação, que se encontra com a linha azul, sigo para a plataforma sentido Jabaquara. Ao embarcar sigo até a estação Vergueiro e ando por aquelas ruas escuras e estranhas da Aclimação em direção à faculdade.

Segundo ato

Volto para a Zona Leste, cansado. O sono vinha mais forte e a indisposição era grande. Restava apenas a vontade imensa de chegar logo ao lar e nada mais.

Ao entrar no ônibus nº 44170 do Consórcio Leste 4, encontro um "pai de primeira viagem", com seus três filhos. Todo atrapalhado, não sabia nem pegar as crianças no colo. Havia um menininho que, em toda parada que o coletivo fazia para o desembarque de passageiros, descia os degraus da saída.

O pai exclamava: "Fulano, não é agora!" e o menino, ansioso, falava: "Tô cansado, pai.". O ônibus seguia viagem até entrar na Avenida Mateo Bei e fazer a parada na altura do 1.100, em frente ao banco Itaú.

Quando o coletivo faz a parada e o condutor abre a porta O chefe de família desce primeiro, junto com os meninos pequenos. A irmãzinha mais velha descia no momento em que, repentinamente, a porta se fechou e ela começou a chorar. O pai bate na porta do veículo e o operador imediatamente abre a porta para que a garota faça o desembarque.

O motorista da cabine dizia o seguinte para a cobradora: "Que pai é esse, colega! Como é que pode ele sair na frente e largar os filhos por último? Eu vi tudo aqui do espelho!(sic)"

Depois do fato, o veículo seguiu viagem e desci na primeira parada da Avenida Sapopemba, após o Largo de São Mateus. Segui meu caminho, escuro, sombrio e com muitos ritos de passagem em direção à minha casa

* Microempresário, estudante de jornalismo, escreve para o blog Casos Urbanos (www.luisdelcidess.blogspot.com) e é editor do Pauliceia do Jazz (www.pauliceiadojazz.blogspot.com)

Um comentário:

  1. Vida dura a do habitante de São Paulo. Mas é aí mesmo que tudo acontece. Correm dinheiro e oportunidades. O preço a pagar é dividir o espaço com milhões de humanos segregados em conduções apertadas e filas eternas. Mas deve valer a pena, senão já tinha parado de chegar mais e mais gente.

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