domingo, 17 de maio de 2009


Auto-suficiência perigosa

Nada é mais perigoso para qualquer pessoa, não importa a atividade que exerça, do que o ingênuo sentimento da auto-suficiência. Quem achar que sabe tudo de tudo, ou mais do que os outros, e não der a menor importância à opinião alheia, estará semeando urtigas de decepções nos vastos campos da vida. E estes têm solo sumamente fértil. E as “plantas” que dele nascerem serão enormes, espinhentas e dolorosas.
Em Literatura, o sentimento de auto-suficiência pode ser fatal. Não adianta você dizer: “escrevo à minha maneira, não tenho que dar satisfações a ninguém, meu modo de escrever me satisfaz, pois tenho talento e vocação”.
Ocorre que essas características não lhe são exclusivas. Todos seus competidores também as têm. Afinal, como tudo na vida, a Literatura também é atividade altamente competitiva. E como! Por melhor escritor que você seja, sempre irá competir com outros iguais ou melhores do que você: por espaços na mídia, por presença nos catálogos de editoras, por prêmios literários, por cadeiras em alguma academia etc.etc.etc.
Se você quiser escrever “apenas” para o próprio deleite, sem se preocupar com estilo, conteúdo ou correção, escreva um diário ou faça um blog pessoal e estará tudo bem. Não precisará suar a camisa para elaborar texto algum, nem para aprender métodos que lhe facilitem a tarefa e sequer ser cuidadoso na revisão dos seus textos etc.
Mas se pretender escrever “profissionalmente”, vender seus livros ou textos avulsos, creia, apenas o talento, a vocação e a tal da “inspiração” não lhe bastarão. Você será presa fácil dos críticos ferozes. Será encalhe certo nas prateleiras das livrarias. E acabará banido da atividade pelo único personagem que deve nos importar sempre e sempre, em qualquer circunstância ou ocasião: o leitor.
Você terá, sim, crises de criatividade ao longo da sua carreira, e muitas. Você cometerá, sim, erros, muitos erros, por haver eventualmente se descuidado do essencial: uma criteriosa revisão. Você encontrará, sim, como todo o mundo, dificuldades em criar e desenvolver determinados personagens, em descrever certos cenários, em estabelecer diálogos naturais e verossímeis e assim por diante. Afinal, por melhor que você escreva, você não é gênio. Você é só um escritor. E há, mundo afora, milhões iguais ou melhores que você.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Conseguir algum destaque nessa área é difícil porque depende de técnica e talento. É preciso ter o que dizer e mais ainda, saber como dizer. Muitos textos corretos não têm graça alguma e ao contrário, cansam devido a correção e sisudez. De todo modo, lendo e aprendendo.

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