terça-feira, 26 de maio de 2009


Ourives-mestras

* Por Adelaide Peters Lessa

Exibo jóias raras e me prezo
de ser a vitrinista da poesia
de brasileira ourivesaria.

Coroa-me a tiara de Henriqueta,
madrinha lua de branquinhas tranças,
luar de pérola em buquê-de-noiva.

Tilintam braceletes de Cecília
Autografados pela musa antiga,
Santa Maria Egipcíaca.

De Auta, no pescoço, a correntinha
de ouro com pingentes extraídos
de uma jazida de ametistas.

Maria Braga Horta, um camafeu
de bem-querer esposo, filhos, pátria,
selou meu peito e me guardei em Deus.

Novas eu trago ao escrínio da poesia,
as jóias rútilas de ourives-mestras
de quem, herdeira, peço a augusta bênção:

De Stella, um broche em flor, a Leonardo,
diamante rosa em berço de platina
com pétalas redondas, turmalinas.

De gargantilha de granadas, rubra,
de bíblica romã, sobe a tribuna
voz de Renata à sua gente muda.

De Adélia, um par de brincos marchetados
de azuis cristais de quartzo, um azul raro
na família dos chips eletrônicos.

De Astrid, seus anéis, jade e safira,
o de alamedas, seiva e clorofila,
o água-de-fonte, som de sensitiva.

Foi de Marília um medalhão em prata
com juras de poeta desterrado,
seu verso aos quinze anos da noivinha.

Resgato para mim aquele escrínio-lira,
lágrimas dela beijo, opalas agridoces,
nobres, intactas, na memória lírica.

* Professora universitária e psicóloga

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