terça-feira, 11 de outubro de 2016

Nadando


* Por João Moura Junior

Por incrível que pareça,
talvez o melhor estilo
para um poeta moderno
seja o estilo clássico ou
nado de peito. Ele exige
certa contenção. Você
desliza n’água mansamente,
como se hesitasse.
Ao atingir a borda, é
impossível virar cambalhota,
daí talvez ele ser
chamado clássico, ou
quem sabe é porque é o que serve
melhor para se observar
o que se passa ao redor,
isto é, fotografá-lo, ou
--- evitando o anacronismo,
e já que falamos de água ---
espelhá-lo, visto que o
espelho é por excelência
a metáfora do clássico.
Nadar é como uma cobra:
um constante enrodilhar-se
em pensamentos por vezes
nada sublimes (que belo
traseiro ali adiante, etc.);
daí, em vez de estilo clássico,
talvez fosse mais correto
falar-se em mescla de estilos.
Nadar: um poema longo
em redondilha maior
com andamento de prosa
em que é difícil manter
o mesmo ritmo sempre
(Poe não dizia que um poema
deve necessariamente ser breve?).
Começa-se a
arfar, os músculos pesam,
respira-se irregularmente,
o nado, apesar de
clássico, agora assemelha-se
a um poema moderno
(ou a um desaprendizado),
um poema que tivesse
uma piscina por tema,
e um nadador que insistisse,
já que escrever poesia
(principalmente hoje em dia)
é uma espécie de nada.
Nada. Nada. Nada. Nada.

* Poeta


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