segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Criando utopias

O pessimismo é inimigo feroz contra o qual é necessário lutar sem tréguas e nem descanso. A maioria esmagadora dos livros que temos ao nosso dispor, por exemplo, nos apresenta só o lado obscuro e torpe da natureza humana. Raros, raríssimos, ressaltam o que o homem tem de melhor: seu raciocínio e imenso potencial de grandeza. O mesmo ocorre em relação a filmes, peças de teatro e outras tantas manifestações artísticas.

Em conversas informais do dia a dia, o que mais se ouve são críticas aos atos e defeitos alheios, como se os que criticam fossem seres perfeitos. Não são! Infelizmente, o homem ainda duvida do homem, desconfia dele, teme-o e o tem como inimigo, em vez de aliado.

Por que, em vez de criticar os defeitos alheios não procuramos ressaltar suas virtudes? Ou, para sermos mais práticos, por que não ajudamos, de maneira inteligente e eficaz, essas pessoas tão criticadas a evoluir, a crescer, a progredir, a reparar as deficiências que nelas detectamos (que são, via de regra, reflexos das nossas próprias)? Porque a nossa intenção verdadeira não é a de corrigir ninguém, mas apenas de condenar.

Todos, em alguma medida, têm aspectos positivos em seu caráter e sua conduta que mereçam elogios e até imitação. Por que não encararmos a vida pelo ângulo positivo, benigno, belo, considerando o mal e todas suas manifestações (como violência, mentira, corrupção, cobiça, perfídia e outros desvios de comportamento) como exceções, jamais como regras?  

Desde seu surgimento, o homem sonha com um mundo ideal, de plena justiça, paz e felicidade para todos. Milhares de utopias foram engendradas, mesmo quando sequer havia escrita, prevendo essa idade de ouro. Podemos citar, sem ter que pensar muito, as que foram criadas por Francis Bacon, Tommaso Campanella, Santo Agostinho, Ralph Bellamy e, principalmente, por Thomas Morus, a quem devemos, inclusive, a popularização do termo.

E por que esse sonho nunca se concretizou? Porque a maioria o encara somente como um vago, posto que desejável, ideal. Alguns poucos visionários dedicaram e dedicam suas vidas à concretização do aparentemente impossível. Em vez de apoio e adesão, porém, são ridicularizados e tidos como loucos. Bendita loucura!

É possível que se estabeleça essa utopia dos gigantes da espécie? É improvável, não impossível. Este é um sonho pelo qual vale a pena viver e se preciso, morrer. Eu acredito nele! Luto por ele! Empenho o que sou e até o que tenho na sua concretização. Não por acaso, o meu livro de maior sucesso chama-se “Por uma nova utopia”. Não por acaso, doei todos os seus direitos comerciais ao Centro de Defesa da Vida, entidade voltada à prevenção do suicídio. Amo e valorizo a vida! Creio no homem e tenho confiança no futuro da humanidade.

Uma das melhores formas de não se deixar abater pelas agruras do cotidiano é vislumbrar, sempre, o lado positivo das coisas. Tudo tem, também, o seu avesso, tanto o bem quanto o mal. Nada é bom demais ou totalmente ruim. Temos, isto sim, é que desenvolver aguçado senso de proporção. E encarar a vida como ela é.

Não proponho, claro, que optemos por nos alienar e fugir da realidade, o que é inútil, senão impossível. Sugiro, isto sim, vislumbrá-la em sua inteireza e integralidade: no direito e no avesso. Temos que viver sempre embriagados. Não de álcool, óbvio, que nos conduz apenas a paraísos artificiais, que na verdade são visões do inferno, com seus tormentos e agruras. A embriaguez que proponho é de beleza, de otimismo, de ideais e de luz.

Podemos nos tornar, sem que nos apercebamos, no maior perigo para nós mesmos, entre os tantos que abundam no mundo. Como? Cultivando mágoas, invejas e ressentimentos, que nos envenenam o espírito e nos tornam amargos e desagradáveis. Entregando-nos à tristeza, ao desânimo e ao mau-humor, que inibem nossas melhores potencialidades. Tornando-nos empedernidos céticos, ridicularizando a fé, nos descartando de esperanças e nos encerrando num inferno de rancor e antagonismos, que comprometem nossa saúde mental.

E qual o antídoto para isso? Simples! Abrindo-nos para o mundo, com confiança e sem reservas, mesmo sob o risco de, às vezes, nos ferirmos. Valorizando os bons momentos e apagando da memória os maus. Alegrando-nos com o bem que nos ocorra e não dando muita importância ao que de ruim nos acontecer.

É certo que a insatisfação é a mola-mestra das grandes realizações. Os satisfeitos com tudo e todos se acomodam e acham que as coisas devem continuar, todas, como estão. Claro que não devem! Fosse o mundo depender deles, estaríamos, ainda, com certeza, na idade da pedra lascada, vivendo em cavernas e dependendo da caça para nos alimentar.

Todavia, a insatisfação deve, sempre, vir acompanhada de ação. De nada vale murmurar contra determinada situação, mas nada fazer para que ela seja alterada para melhor. Esse tipo de insatisfeito é nocivo. Só cria clima de hostilidade e mal-estar, que nada de útil produz e atrapalha os realizadores.

Sejamos eternos insatisfeitos sim. Todavia, não nos acomodemos, deixando aos outros as tarefas que se fazem indispensáveis. Sejamos agentes das mudanças que se impõem. Só assim construiremos um mundo melhor. Só assim erigiremos a nossa utopia.

Sonho com um mundo perfeito, de harmonia, paz e felicidade, em que haja absoluta igualdade de direitos e deveres entre as pessoas. Sonho com um paraíso na Terra em que as contradições que nos dividem e desumanizam hajam sido superadas. Em que não existam excluídos e exclusores, oprimidos e opressores, poderosos e humildes.

Sonho com um mundo que prescinda de leis, governos, exércitos e tribunais, em que todos conheçam, (e cumpram), suas obrigações, sem necessidade de serem fiscalizados. Em que o amor sem limites seja a única Constituição dos povos, irmanados em um só ideal, sem fronteiras e separações.

Sonho com um mundo em que estes versos do poeta Thiago de Mello, no poema “Os Estatutos do Homem”, sejam mais do que mera poesia, mas o reflexo da realidade:

“O homem/não precisará nunca mais
duvidar do homem
que o homem confiará no homem
como a palavra confia no vento
como o vento confia no mar
como o ar confia no campo azul do céu...”

Sonho com uma nova utopia e luto para que se concretize. E você, querido leitor, qual é a sua postura em relação a isso?

Boa leitura!

O Editor.

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Um comentário:

  1. Eu também sonho, e apenas sonho, algo desiludida, pois perdi o idealismo. Mas acho bonito isso: "Em que não existam excluídos e exclusores, oprimidos e opressores, poderosos e humildes".

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