Ficcionista prolífico e
brilhante
O escritor
norte-americano (naturalizado norueguês) Richard Burton Matheson é incluído
(com justiça) no seleto ranking dos dez ou doze principais autores de ficção
científica. Sua obra literária é das mais extensas. E, a exemplo de alguns
outros criadores de histórias do gênero, obteve renome, e consagrou-se junto ao
público, com o auxílio do cinema e da televisão. Por que? Óbvio! Porque foi
brilhante (e profícuo) roteirista. Dezenas de seus livros e de seus contos
esparsos foram transformados em filmes, apesar de nem todos de grande sucesso
ou mesmo conhecidos do grande público. Algumas características na obra e na
vida de Richard Matheson chamam-me, particularmente, a atenção. Antes de
explicar quais, cabe, aqui, uma explicação que já dei muitas vezes, mas que não
custa reiterar.
Estes textos que
partilho, diariamente, com vocês, neste espaço, são meros “comentários”
pessoais, que não seguem regra alguma, a não ser a da observação exclusivamente
minha. Não são sinopses, quando trato de livros, e nem críticas literárias,
quando abordo, também, seus autores e respectivos estilos, embora possam conter
(e ás vezes contenham) elementos de ambos. Também não são biografias, apesar de
a todo o momento eu recorrer a aspectos biográficos dos personagens que enfoco.
Não sei, portanto, que classificação lhes dar. E é preciso, ou indispensável,
classificar? Entendo que não! Na minha cabeça, classifico-os, todavia, como
crônicas.
Alguns, contudo, que se
dizem meus leitores (e que não tenho a mínima certeza que de fato sejam)
confundem estes meus textos – insisto, sem nenhum compromisso a não ser com a
exatidão das informações que transmito – ora como sendo críticas literárias,
ora como biografias e ora como sinopses de livros e cobram-me objetividade.
Reitero: estão equivocados. Essas considerações diárias não passam de meros
comentários (e só isso), alguns do quais são reproduções escritas dos que faço
oralmente, em conversas com meu círculo de amigos. Daí sua descontração que
muitos gostam e, outros tantos, abominam. Paciência! É como diz surrado clichê:
“é impossível agradar, simultaneamente, a gregos e troianos”. Nunca tive essa
pretensão.
Mas, voltando a Richard
Matheson, que é o que importa, uma das primeiras coisas que me chamam a atenção
em sua biografia é o fato de, embora nascido nos Estados Unidos (em 20 de
fevereiro de 1926, na cidade de Allendale) e ter morrido nesse país (em 23 de
junho de 2013, em Los Angeles, na Califórnia), ter assumido a cidadania norueguesa.
Suponho (mas não tenho certeza) que foi uma homenagem aos seus pais,
provenientes da Noruega. Outro aspecto
que me chama a atenção refere-se especificamente à sua morte. Ela não foi
noticiada, praticamente, por nenhum órgão de comunicação de grande penetração
junto ao público nem mesmo dos Estados Unidos. Mas foi registrada em rede
social, no caso, no Facebook, com esta nota postada por sua filha, Ali Marie
Matheson, conforme informa a enciclopédia eletrônica Wikipédia. Ela escreveu,
em 24 de junho, esta mensagem privada: "O meu amado pai morreu ontem
[domingo] em casa, rodeado de pessoas e coisas que amava. Era divertido,
brilhante, carinhoso, generoso, criativo e o pai mais maravilhoso do mundo".
Richard Matheson deve,
mesmo, ter sido um sujeito admirável. Entre outras coisas, inspirou três dos
seus quatro filhos a se tornarem escritores, e de ficção científica. São eles:
Chris, Richard Christian e Ali. Poucos pais têm essa felicidade e essa
capacidade de mobilização, apenas pelo exemplo. Conheci esse homem de letras
não propriamente através de livros (aliás, há poucos deles em português e menos
ainda os publicados no Brasil), mas por uma série de televisão. Refiro-me a “Além
da imaginação”, programa pelo qual eu era vidrado e que ele participou,
escrevendo diversos episódios. Outra curiosidade a propósito desse escritor é
que a estréia de Steven Spielberg em TV se deu dirigindo um filme baseado em um
conto dele, no caso, “Duel”, inspirado em um episódio real em que o autor e um
amigo trombaram com um grande caminhão.
Apesar de ter escrito
dezenas de histórias de ficção científica (inclusive roteiros de cinema e de TV),
entre os quais um dos episódios da série “Star Trek” (“Jornada nas estrelas”),
no caso “O inimigo interior”, não se limitou a esse gênero. Compôs enredos de
fantasia, de terror (adaptou vários contos de Edgar Alan Poe, tanto para o
cinema, quanto para a televisão) e até um romance autobiográfico, no caso “The
Beardless Warriors”, publicado em 1950. Não sei por qual carga d’água ficou
conhecido como um dos precursores dos zumbis, por causa do seu célebre livro “Eu
sou a lenda”. A esse propósito, lembro que partilhei com vocês, há uns três ou
quatro anos, um ensaio que escrevi sobre o tema. Mas não relativo a absurdos “mortos
vivos” (estes não existem, nunca existiram e jamais existirão, port razões
óbvias), mas a casos de catalepsia provocados por determinadas drogas, vários
dos quais ocorridos no Haiti.
Embora não tenha
escrito só ficção científica – em boa parte de sua carreira dedicou-se a
escrever, inclusive, enredos de faroeste, aliás muito bons – é neste gênero que
Richard Matheson se consagrou e que será, provavelmente, sempre lembrado, fazendo
jus, portanto, de figurar no ranking mais nobre da modalidade, ao lado de H. G.
Wells, Isaac Asimov, Arthur C. Clarcke e outros grandes expoentes desse tipo de
histórias. Talvez a vantagem que levou sobre os citados foi o fato de dedicar
espaço (não raro até trinta páginas) para meticulosa análise da personalidade
dos personagens que criou e de, mesmo enfocando temas não raro aterrorizantes,
conseguir escrever com humor, mesmo que muitas vezes tendendo para a ironia.
Boa leitura.
O Editor
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk.
A velha mania de catalogar, classificar, dar um nome. Para quê? Mistura, foge ao tema. Retorna. Deixa o leitor perdido, mas não decepcionado. Então eu volto.
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