quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Cardápio limitado


* Por Fernando Yanmar Narciso

Imagine que você vai a um restaurante, pede pela carta de vinhos e nela só têm escritas as opções “branco” e “tinto”, sem especificações de marca, país de origem, safra ou idade. Pediria uma garrafa mesmo assim? Vamos simplificar a analogia: Imaginem se em qualquer loja do McDonald’s eles só servissem Hamburger e Cheeseburger. Será que eles teriam tantos fãs?

Bem, pois é exatamente isso o que continua acontecendo com a política brasileira. Não fez diferença nenhuma soltar os cachorros em cima do Congresso em junho retrasado, não adiantou nada fazer aquela bagunça toda nas ruas e exigir a renovação política se chegamos ao 2º turno da disputa eleitoral mais emocionante dos últimos doze anos com a inédita e revigorante competição entre... PT e PSDB.

Pragmatismo x obscurantismo. Não é animador? É como quando o Dunga olhava pro banco na copa da África do Sul e se dava conta de que não tinha levado um único reserva decente pro campeonato, dava uma aflição! Já disse há algum tempo que o grande problema das jornadas juninas do ano passado foi não terem produzido nem uma nova filosofia política nem novos líderes, o mínimo esperado para o sucesso de qualquer levante popular.

No fundo, aqueles jovens se revelaram como um bando de “coxinhas” broncos e niilistas, sem a menor noção do que fazer com toda a atenção que ganharam da mídia mundial. Com um resultado tão decepcionante, agora estamos no 2º turno das eleições com o eterno Tom & Vinicius da política nacional e elegendo o apanhado de deputados mais conservador e retrógrado desde o golpe de 64.

Já que a xepa não foi das mais generosas conosco e temos mais uma semana para fazer dela um banquete de luxo pra milhões de pessoas, é melhor vestir o avental, afiar as facas e ver o que dá pra fazer com as duas migalhas que sobraram. Como diz o velho ditado, quem não está disposto a aprender com a História está condenado a repeti-la. A situação é ruim, sim, mas sempre há uma forma de torná-la ainda pior.

Em 1989, Lula e Collor estavam praticamente numa disputa para Messias da República, o grande salvador de todos nós, o portador da varinha mágica que faria os problemas da Nação simplesmente deixarem de existir. Collor foi o vencedor daquela eleição pra Cristo (no tapetão...), e aquela única bala que ele mantinha no rifle para matar o tigre da inflação saiu miseravelmente pela culatra.

Em 2002 a situação já não estava tão desesperadora como naquela histórica eleição, mas o povo estava pronto para dar uma guinada à esquerda, então elegemos em massa o Lula como nosso novo Messias, aquele homem que recuperaria nosso orgulho de pertencermos ao Brasil e traria a honestidade e a decência para a capital federal. Não saiu exatamente conforme o planejado, mas as mudanças no país são inegáveis e algumas extraordinárias.

De tal maneira que, mesmo não sendo o herói invencível que a sociedade esperava, foi meio que perdoado por nós pelas suas barbeiragens, conseguiu se reeleger em 2006 e tem praticamente permanecido no poder até hoje... Mas isso pode mudar próximo dia 26!

A atual situação do país é absolutamente contrária às de 2002, 1998 e de 1989, por mais que a grande mídia tente nos fazer acreditar que o povo brasileiro voltou a comer fezes. Há uma grande e perigosa guinada à extrema-direita, em grande parte orquestrada pelos jornais, revistas e pela TV, que insistem em nos dar apenas as más notícias relacionadas ao governo e “desengavetar” escândalos anciãos de corrupção quando o eleitor está a um nariz de distância das urnas.

Eles já criaram sua versão de Cristo, o “irresistível” senador Aécio Neves, como a bala de prata que pode devolver a direita ao poder. Nos últimos doze anos se especializaram em tentar de todas as maneiras desestabilizarem o governo. Aumentando a verdade, caluniando, insinuando, de modo a conduzir a população a acreditar que nunca houve partido ou governo mais corrupto que o atual.

E o resultado salta a vista: nas últimas semanas o sentimento antipetista engoliu o país; o ódio pelo governo é tão grande que houve até agressão a um cadeirante só por ele usar camiseta do PT! Será sorte nossa se esse falatório parar no próximo domingo, mas infelizmente os ânimos andam tão exaltados que, creio eu, só perceberão ter ido longe demais se acontecer uma coisa terrivelmente drástica, como um candidato ser assassinado ao vivo no último debate... Mesmo os ingredientes não sendo dos melhores, o jeito é tentar fazer uma canja da titica de galinha que os partidos nos forneceram. Às urnas, nação!

* Escritor e designer gráfico. Contatos:
HTTP://www.facebook.com/fernandoyanmar.narciso
cyberyanmar@gmail.com

Conheçam meu livro! http://www.facebook.com/umdiacomooutroqualquer

Um comentário:

  1. Não gostei da comparação dos candidatos à titica de galinha. Isso não se faz. É feio desrespeitar as pessoas. Desculpe o meu comentário de mãe.

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