O
fim é que conta
* Por Pedro J.
Bondaczuk
Os
vencedores, cuja existência é tão exemplar que serve de parâmetro de conduta a
gerações e mais gerações, não lamentam tropeços, fracassos, dores e decepções
que a vida lhes impõe. De cada pedra no caminho, fazem alicerce de castelos de
vitórias. Os obstáculos servem-lhes, apenas, de estímulos para lutarem com mais
vigor.
As
perdas são lamentadas, óbvio, mas essas pessoas não se restringem às
lamentações. Erguem a cabeça e extraem lições de erros, insucessos e
frustrações. Têm em mente, e agem face a esse pressuposto, que o fim é o que
conta. Não importa “como” realizam suas obras, desde que, de fato, as realizem
mesmo.
Lógico
que não defendo a premissa de que “os fins ‘sempre’ justificam os meios”. Não
justificam. Ou, pelo menos, não “sempre”. Há essa justificação se os recursos
que empregarmos para erigir nossa obra-prima (ou outra qualquer e não importa
sua natureza) não forem violentos, aéticos, imorais ou coisa que o valha. Ou
seja, desde que não prejudiquemos ninguém.
Todos
podem ser assim, ousados, determinados, competentes e apaixonados. Basta
querer. Basta ter postura sempre positiva face à vida, ser persistente no que
se faz e transformar “tudo em flores”. Ou seja, vislumbrar beleza, grandeza e
transcendência até onde, aparentemente, elas não existam.
Felizes
dos que, ao cabo de longa existência, podem olhar para trás e constatar que
aproveitaram as oportunidades que tiveram. Dos que não têm queixas das
circunstâncias que marcaram o tempo que viveram. Dos que nunca viram, por
exemplo, morrer qualquer esperança e tiveram a ventura de vê-las, todas,
plenamente concretizadas. Dos que não se consideram injustiçados e nem
duramente punidos.
Convenhamos,
esta não é a realidade da maioria das pessoas, que olha para trás com tristeza
e decepção e percebe que já nada mais pode ser feito para se sentir ao menos
palidamente feliz. Oxalá possamos, todos, perto do nosso ocaso, bendizer a vida
e só ter motivos para agradecer, jamais para lamentar. Afinal, guardadas as
premissas que mencionei, o fim é que conta (desde que nobre, construtivo e
justo, óbvio).
As
situações extremas, de turbulência ou de estagnação, por mais que nos
atemorizem e angustiem, encerram preciosas lições, que não conseguiríamos
aprender de outra maneira. Aprendemos pelo sofrimento. Perdas de entes queridos,
de amizades, de empregos ou de bens, ou doenças e acidentes, entre tantos
outros contratempos, causam-nos, é certo, perplexidade, dor.
Todavia,
todos eles encerram lições que deveríamos nos esforçar por extrair. O mesmo
vale para períodos de estagnação, em que parece que nunca sairemos do lugar,
enquanto vemos outras pessoas, de capacidade até inferior à nossa, evoluírem,
material, social ou espiritualmente. O sofrimento, embora, obviamente, o
devamos evitar, tende a ser eficiente e implacável mestre.
Viemos
ao mundo com algum objetivo, que temos a obrigação de descobrir qual é, e
cumprir, com competência e entusiasmo. Uma coisa é certa: não viemos a passeio.
Temos uma obra a realizar e quanto mais extensa, e perfeita, e útil ela for,
maior será nosso valor. A vida não comporta ociosidade e omissões.
Nosso
valor pessoal não está, pois, na nossa origem, na família de que procedemos e
na importância dos nossos ancestrais. Está em nossa conduta, na capacidade de
pensar, construir, realizar e, sobretudo, servir. Muitos fracassam na vida e se
tornam pesos-mortos, porque não se dão conta disso. Tropeçam no meio da jornada
e são incapazes de se levantar. Não se apercebem que o fim é o que conta. É
sumamente humilhante o fato de apenas “durarmos”, e não “existirmos” para o
mundo e até para nossas famílias.
Às
vezes, circunstâncias da vida levam-nos à tentação de jogar tudo para o alto e
de abrir mão dos ideais que nos empolgaram na juventude. Julgamo-nos castigados
por Deus, quando, na verdade Este não castiga ninguém, por ser a fonte do
genuíno amor. Obstáculos existem, é verdade, e muitos, em nosso caminho, de
todos os tamanhos e intensidades. Mas são essas dificuldades – que nos
aborrecem tanto quando se manifestam – que valorizam nossas conquistas e as enobrecem.
Há
quem chegue ao extremo de desacreditar de tudo e de todos e que desista, até
mesmo, das pessoas que ama. Nada pior e mais injusto do que isso. Os obstáculos
têm que ser encarados como desafios, até como privilégios que a vida nos
proporciona, por se tratarem de oportunidades para mostrarmos nosso valor.
Abraham
Lincoln, quando presidente dos Estados Unidos, questionado, certa feita, sobre
determinadas críticas que lhe eram feitas a respeito da sua maneira de
governar, disse que não se preocupava com elas, pois o final era o que contava.
E acrescentou: “Se o fim mostrar que estou certo, o que se disse de mim não
valerá grande coisa. Se o fim mostrar que estou errado, dez anjos jurando que
eu estava certo não farão diferença”. E não farão mesmo.
Ademais,
o sucesso e o fracasso raramente são permanentes e muito menos definitivos. Os
insucessos, por exemplo, dependendo das circunstâncias, podem ser revertidos,
com um pouquinho mais de persistência, após criteriosa análise dos pontos em
que falhamos. Já os êxitos podem se diluir num piscar de olhos e desaparecer,
subitamente, se viermos a nos contentar com eles e nada fizermos para garantir
sua consolidação.
Portanto,
nem o sucesso deve ser recebido com exagerada euforia e nem o fracasso com
desânimo. A vida é mutante e as circunstâncias variam ao sabor dos dias. Tendo
isso em mente, evitaremos dissabores desnecessários e decepções evitáveis.
Jorge Luís Borges escreveu a esse respeito, citando outro escritor: “Rudyard
Kipling disse que o sucesso e o fracasso são dois impostores: ninguém fracassa
tanto quanto crê e ninguém tem tanto sucesso quanto crê”. Embora se trate de
lição óbvia, nem sempre a levamos em conta no curso das nossas vidas. E muito
menos atentamos para o fato de que o fim é que conta. Ou não é?!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio
Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor
do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico
de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos
livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos),
além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O
Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com.
Twitter:@bondaczuk
Nenhum comentário:
Postar um comentário