Chuá!
* Por Sílvio Lancellotti
Não tinha altura, não dispunha do
físico suficiente. Mas, adorava jogar basquetebol na sua escola. Adorava tanto
que o treinador da seleção o adotou como um mascote. Carregava o saco de
uniformes nos jogos do time infantil. Era o último dos reservas no time
juvenil. Às vezes, quando o placar de um prélio favorecia a sua equipe, entrava
na quadra, para os últimos segundos.
Considerava-se injustiçado,
porém. Havia implorado ao seu pai que lhe providenciasse uma tabela e um aro,
oficiais, no quintal de sua casa. Todos os dias, depois das aulas, gastava
horas e horas no treinamento dos arremessos – uma década e meia antes de
aparecer, no esporte, um tal de Oscar Schmidt.
O treinador, de todo modo, basicamente o esquecia. Pior,
o desprezava. Ocorreu, no entanto, numa pugna importantíssima, que faltou o
Caio, o craque do elenco. E que outros seis atletas, dos doze da equipe,
acabaram eliminados com cinco faltas. O marcador apontava uma igualdade, 56 X
56, a menos de um minuto para o encerramento do duelo. Sem opção, o treinador o
escalou.
Coube-lhe cobrar um lateral,
quase na linha do garrafão do inimigo. Com a empáfia dos humilhados, lançou a
bola a um colega e a recebeu de volta. O treinador havia desenhado o lance na
sua pranchetinha. Teria de fingir um arremesso e, daí, passar a pelota ao
Toninho, o melhor do elenco depois do Caio. Num lampejo, resolveu falcatruar.
Ao invés de fingir um arremesso, num lindo jump, conseguiu os dois pontos que
levaram a sua escola ao triunfo. Os colegas deliraram com a sua ousadia. O
treinador o aplaudiu bastante.
Só que, na peleja seguinte, a
final da temporada, o manteve no banco de reservas. Sim, manteve, até que
faltasse um suspiro para a pugna acabar, o placar em 48 X 48. Com uma frase
fatal, o colocou na batalha: “Repita o
que você fez, dias atrás!” Pois reprisou, de maneira ainda mais espetacular. Ao
invés de fingir um arremesso, ao invés de perpetrar um lindo jump, invadiu o
garrafão, fez a cesta e sofreu uma infração. Que converteu, vantagem de três
pontos, o título do torneio. Resumo: abandonou o basquete naquela data.
Hoje, consta que é um jornalista,
um comentarista de televisão.
* Diplomou-se em Arquitetura. Trabalhou na revista “Veja” de 1967 até 1976,
onde se tornou editor de “Artes & Espetáculos”. Passou por “Vogue”,
agências de publicidade, foi redator-chefe de “Istoé”, colunista da “Folha” e
do “Estadão”, fez programas de gastronomia em várias emissoras de TV, virou
comentarista de esportes da Band, Manchete e Record, até se fixar, em 2003, na
ESPN. Trabalha, além da ESPN, na Reuters, na “Flash”, no portal Ig e na “Viva
São Paulo” e é sócio da filha e do genro na Lancellotti Pizza Delivery – site
de Internet www.lancellotti.com.br.
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