quarta-feira, 10 de abril de 2013


Cabeceada no céu da boca
 
* Por Fernando Yanmar Narciso

Se o mundo é redondo, faça da vida uma bola. Há muito tempo, quando o assunto era a seleção brasileira, em vez de perguntar no dia seguinte “O Brasil jogou contra quem?”, as pessoas perguntavam “O Brasil ganhou de quanto?”. Bons tempos aqueles de Pelé, Garrincha, Zagallo, Carlos Alberto, Tostão, ou até de Zico e Sócrates. Parecíamos, e às vezes fomos um rolo compressor que achatava qualquer time que surgisse na nossa frente, com a mesma alegria maníaca de Asterix e os gauleses partindo pra cima dos romanos.

Para qualquer país, sediar um grande evento esportivo é algo comparável a erguer o martelo de Thor ou ser o Capitão Nascimento esmurrando o político ladrão. A euforia é geral, não há uma pessoa capaz de mostrar-se indiferente a tanta festa. E nós, então, que fomos escolhidos como país-sede não apenas da copa, como também das olimpíadas de 2016? Maior honra que essa, só se Cristo virasse nosso presidente!

No entanto, por que tanto olho gordo? Por que as pessoas, pelo menos até o momento, não demonstram a menor vontade de entrar no clima da copa? O que a gente mais vê na net são nossos compatriotas torcendo para que o evento seja um fracasso, pra ver se o governo acorda pro que realmente importa. Pra que torrar tanto dinheiro com um megaevento? Tem que usar essa dinheirama é pra salvar os pobres e carentes! A gente nem sabia que tinha tanto dinheiro no país pra fazer estádio! Blablablablablááááááá...

Sabemos que um dos motivos para tanto mau agouro é que o pessoal da internet odeia tudo e todos porque, convenhamos, o ódio é uma emoção deliciosa- Sim, essa frase foi sarcástica.

Dentre todos os brasileiros, ninguém lutou mais apaixonadamente pelo direito de organizar a copa no Brasil que o ex-presidente Lula. O problema é que ele também é medalha de ouro em filme queimado. O povo se fartou da sua mania de falar mais que pobre embaixo da chuva, e se decepcionou porque o “maior escândalo de corrupção da história do país” foi revelado justo em seu governo, com grandes chances de ele ser o general da coisa toda. Sendo culpado ou inocente, ele acabou “saindo” do governo com fama de pé-frio, logo o Brasil quer que qualquer coisa envolvendo o nome dele saia errado por simples e imatura vingança. Se ele tivesse montado o Titanic, torceríamos pro navio afundar.

Com a corrupção correndo solta no país, é natural que as obras não avancem. Quase toda semana o pessoal da FIFA vem torrar a paciência do governo, cobrando as reformas e construções de estádios que ainda não saíram do papel. Não se cansam de repetir que a copa começou anteontem, e que ainda não estamos em condições de receber os milhões de turistas e torcedores que desembarcarão em nossos “maravilhosos” aeroportos a qualquer momento. Eles parecem ter se esquecido que, tirando a copa da Alemanha em 2006, todas as copas modernas tiveram atrasos e improvisos na véspera, e no fim deu tudo certo.

Na África do Sul, por exemplo, na maioria dos estádios a grama estava recém-plantada nas partidas de estréia. E, na mesma África do Sul, a maioria dos estádios faraônicos foi abandonada, e as pessoas que moravam antes nos terrenos continuam vivendo em favelas-containeres improvisados pelo governo. Imaginem o que acontecerá por aqui quando a farra acabar.

Eu não entendo patavina de futebol, mas qualquer leigo percebe que a nossa seleção não é mais capaz de ser amada pelos torcedores, tampouco de fazer os adversários se borrarem de medo, desde que perdemos mais uma vez para a França na copa da Alemanha. Apesar das insistências de todos, Dunga estava coberto de razão ao não convocar Neymar em 2010. O craque franzino ainda não tem maturidade física e emocional para ser nosso ponto de referência. Já foi provado muitas vezes que colocar o peso dos torcedores do país todo nos ombros dele, um adolescente deslumbrado com a fama e quase tão vaidoso quanto Cristiano Ronaldo é uma irresponsabilidade absurda.

As últimas seleções que vieram depois do Japão dão a impressão que estavam pouco se lixando pros jogos com a camisa amarela. Disciplina e compromisso são indispensáveis em qualquer esporte. Para garantir a vitória, a partir do momento da 1ª convocação, os jogadores deveriam passar a ser propriedade da CBF em vez dos clubes. Só treinariam e jogariam com o uniforme da CBF pelos próximos quatro anos, para evitar o desgaste dos atletas em campeonatos nacionais e estaduais. E, mais importante, os grandes craques deveriam receber o mesmo tratamento dos jogadores buchas. Nada de salários astronômicos ou contratos publicitários só porque o cara é mais talentoso. Eles ainda não aprenderam que torcedor detesta jogador estrelinha.

Quando trouxemos o Penta em 2002, apenas Felipão e Murtosa, seu fiel escudeiro, confiavam no taco da nossa equipe. E foi com um futebol de homem das cavernas, mas jogado com paixão e firmeza, que passamos por cima de todo mundo e conquistamos o caneco contra todas as previsões. Foi entrando aos 15 do segundo tempo nas eliminatórias em 2001 que Scolari nos trouxe o caneco, em situação exatamente igual à atual. Talvez o velhinho gaúcho ainda consiga mexer os pauzinhos e trazer mais uma vez alguns momentos de glória ao país. Vamo nessa, esses minino! Vamo que a rede tá com fome!


Um comentário:

  1. Temos de terminar de arrumar a nossa pátria de chuteiras, como dizia Nelson Rodrigues, a começar pelo time.

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