terça-feira, 3 de novembro de 2009


Tempo e paciência

C
aríssimo leitor, boa tarde.
Eis-nos iniciando, de fato, nova semana, um pouco mais curta em decorrência do feriado de ontem, envolvidos nesta ciranda do tempo, em busca da nossa realização profissional e pessoal. Se você está lendo estas considerações, é porque gosta de literatura e colocou-a em definitivo em sua vida, não somente como forma nobre de lazer, mas como ponto de partida para maduras reflexões. Será sempre, pois, muitíssimo bem-vindo.
O caminho do sucesso, em qualquer empreitada, é, em geral, longo e acidentado. Tem muitas pedras, buracos, valas e atoleiros que nos competem contornar e prosseguir a jornada. Às vezes caímos, e não apenas uma vez, porém duas, dez, mil vezes. Mas quem é, de fato, determinado e persistente, e tem fé na vitória, ergue-se de todas as quedas, invariavelmente, e continua a caminhada até o objetivo final.
O sucesso, portanto, requer tempo e paciência. E, claro, preparo e competência. Como você, caríssimo leitor, também busco ser bem-sucedido: no jornalismo, no mundo das letras e neste modesto empreendimento, que é o nosso Literário.
Comparo esta iniciativa, da qual participo desde o princípio, a uma árvore. No início era apenas a semente, ou seja, a idéia de criação de um espaço dedicado a jornalistas que, simultaneamente, gostassem de, soubessem e fizessem literatura. O maluco que pensou nisso pela primeira vez, na verdade, não fui eu. Foi o José Paulo Lanyi.
Quando ele me convidou a editar essa seção, que seria, então, um segmento de um sitio de grande prestígio e penetração na internet, relutei. Achei que não iria funcionar. “Imagine, jornalista acrescentando nova atividade ao seu estressante cotidiano! E ainda por cima não-remunerada! Isso é idéia de jerico”, argumentei com o amigo.
Para não ser considerado acomodado e nem medroso, porém, desses que fogem de quaisquer desafios, embora cético, topei a parada. E eis-nos completando três anos e oito meses, a caminho do quarto aniversário, mais vivos e fortes do que nunca.
Meu papel nessa história toda foi o do “cultivador”. O do sujeito que apostou na semente, escolheu cuidadosamente o solo em que iria plantá-la, adubou-a, regou-a, extirpou as ervas daninhas ao redor e viu-a, finalmente, brotar, posto que frágil e requerendo constantes cuidados.
Como todo cultivador, também enfrentei sobressaltos e momentos de desânimo. Houve instantes em que achei que a plantinha iria morrer. Tudo indicava que sim. Uma dessas circunstâncias (a mais grave) foi quando o “proprietário” do terreno em que estava plantada solicitou aquele espaço para nele fazer uma edificação qualquer.
A arvorezinha, que mal havia brotado, teve que ser cuidadosamente removida daquela terra e transplantada em outro lugar, este, contudo, definitivo. “Dessa vez a planta não irá resistir”, pensei. Estava enganado. Não só resistiu, como adquiriu viço, se fortaleceu e já começa a ganhar ares de árvore. Claro que para se fixar de vez e um dia florescer e frutificar, ainda requer muito tempo e paciência.
Às vezes o cultivador mostra-se impaciente e quer que a árvore já esteja dando frutos, sadios, fartos, maduros e saborosos, já na manhã seguinte. Não é assim, porém, que as coisas funcionam. E não só no que se refere a plantações, como em nada na vida. Tudo requer esforço, cuidado, cultivo e perseverança. E, sobretudo, paciência, muita paciência.
O cultivador, por exemplo, impacienta-se sempre que vê que um dos principais objetivos desse empreendimento, a interatividade, tarda em ser atingido. Desanima quando seus textos são ignorados e ele fica sem saber se isso se deu em decorrência da má qualidade deles, se da distração dos leitores ou se da preguiça das pessoas a que são destinados. E pensa em jogar tudo para o alto quando seu empenho em, não somente manter a planta viva, mas em assegurar seu saudável e contínuo desenvolvimento, não é devidamente reconhecido.
Mas esses momentos de desânimo, impaciência e irritação ficam para trás quando o cultivador vê tanta gente empenhada para que a planta vingue, se consolide, cresça, floresça e frutifique. Aí, renova o entusiasmo, deixa o ceticismo de lado, reveste-se de paciência digna do patriarca bíblico Jó e volta a se dedicar, com afinco, à arvorezinha (teimosa como ele), que a despeito de tudo, cresce, cresce e cresce sem cessar.

Boa leitura.

O Editor.

2 comentários:

  1. Jornalista é, hoje, uma classe tão desmotivada que não comparece sequer a reuniões do sindicato, se tal ainda ocorre. Péssima escolaridade, salários risíveis, nenhuma estabilidade no emprego ... e não há mais crítica nem opinião! É preciso trabalhar e, além disso, correr o dia todo atrás de frilas por uma merreca no final do mês e ainda ter de criar filhos, pagar contas e impostos. Perdemos poder, importância e prestígio. Não é pouca coisa e, acho, explica a desmotivação de que vc, bravo Pedro, fala neste editorial. Mas vamos em frente que a melhor parte da vida é a luta, mesmo na derrota.

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  2. Meu filho Fernando Yanmar Narciso, depois de lhe enviar dois ou três textos, ficou surpreso ao ver que também você, nosso editor gosta, aliás, faz questâo, como qualquer iniciante de ver os seus textos comentados. Todos nós apostamos no que fazemos e não gostamos de ver nada passado em branco. Para mim é prazer comentar. Não entendo como os outros conseguem ler e ficar mudos. Mas tem gente que gosta de café, e tem quem não gosta. O mundo literário também tem suas peculiaridades.

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