Conversa de padaria
*Por Fábio de Lima
Entrei na padaria e pedi um café com leite. Então um senhor do meu lado direito bateu com a mão no balcão e gritou:
– O Dida vale por três goleiros!
Enquanto eu olhava meio assustado para aquele senhor baixinho, calvo e barrigudo, mas de uma voz potente, meu café com leite foi servido no balcão.
– E o Cafú vale por 5 laterais! E o Lúcio vale por 4 zagueiros!
Resolvi pedir um pão de queijo e, apesar de ser péssimo em fazer contas, achei que com 12 jogadores a seleção não poderia entrar em campo. Foi aí que o baixinho desembestou.
– O Roque Júnior vale por 2 zagueiros! O Emerson por 5 volantes, assim como o número da camisa diz. O Roberto Carlos vale por 7 laterais! O Kaká por 7 armadores! O Zé Roberto por 4 volantes!
A vida é engraçada. Se observada de um balcão de padaria, mais ainda. Não há lugar melhor para se jogar conversa fora. Tomando um gostoso café com leite e comendo um pãozinho de queijo, bem crocante, melhor ainda. Mas a seleção do baixinho de voz de narrador de futebol tinha jogadores para encher o campo do estádio do Maracanã. Exagero a parte, era no mínimo uma seleção estranha – bastante numerosa.
– O Ronaldo vale por 10 centroavantes! O Robinho vale por 10 atacantes!
Então ele silenciou um pouco. O português da padaria gritou que o velho era louco. Todo mundo ia dar risada, quando o carequinha bateu no balcão de novo e disse o último nome. Deduzi que faltasse o Ronaldinho Gaúcho, porque esse é o queridinho do Brasil – no momento. Pensei rápido que ele diria que o Ronaldinho valeria um time inteiro, mas aí o cara exagerou.
– O Ronaldinho vale por 37 armadores!
Quase engasguei com o pão de queijo. Então o português gritou pela padaria que a seleção do Zé Boca Mole tinha exatamente 94 jogadores. Todo mundo na padaria deu risada, incluindo eu. Todo mundo não, o Zé ficou sério – impassível diante da chacota. Assim, dei meu último gole no café. Limpei a boca da farinha do pão de queijo. Levantei e fui pagar a conta. Mas para minha surpresa o Zé se atravessou na minha frente e com o dedo em riste – apontado pra mim – falou:
– E você quer saber?
Confesso que fiquei assustado.
– Você é a cara do Kaká!
Aí o velho endoidou de vez!!! Eu não pareço com o Kaká nem na cor dos olhos. Fiquei pasmo. O cara não era só louco – era também exótico. Eu estava de boca aberta olhando para o Boca Mole. Então falei para o cara:
– Você está brincando?
E o Zé Boca Mole gritou:
– Claro que estou! Você é feio pra caramba!
Todo mundo deu risada – incluindo eu. Paguei a conta e saindo da padaria escutei um tapa no balcão e um grito:
– O Brasil vai ser campeão do mundo!
Nenhum outro comentário. Agora todo mundo concordara com o Boca Mole.
*Jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Atua como repórter freelancer para o jornal Diário do Comércio (SP) e é diretor de programação da Cinetvnet (TV pela WEB). Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.
*Por Fábio de Lima
Entrei na padaria e pedi um café com leite. Então um senhor do meu lado direito bateu com a mão no balcão e gritou:
– O Dida vale por três goleiros!
Enquanto eu olhava meio assustado para aquele senhor baixinho, calvo e barrigudo, mas de uma voz potente, meu café com leite foi servido no balcão.
– E o Cafú vale por 5 laterais! E o Lúcio vale por 4 zagueiros!
Resolvi pedir um pão de queijo e, apesar de ser péssimo em fazer contas, achei que com 12 jogadores a seleção não poderia entrar em campo. Foi aí que o baixinho desembestou.
– O Roque Júnior vale por 2 zagueiros! O Emerson por 5 volantes, assim como o número da camisa diz. O Roberto Carlos vale por 7 laterais! O Kaká por 7 armadores! O Zé Roberto por 4 volantes!
A vida é engraçada. Se observada de um balcão de padaria, mais ainda. Não há lugar melhor para se jogar conversa fora. Tomando um gostoso café com leite e comendo um pãozinho de queijo, bem crocante, melhor ainda. Mas a seleção do baixinho de voz de narrador de futebol tinha jogadores para encher o campo do estádio do Maracanã. Exagero a parte, era no mínimo uma seleção estranha – bastante numerosa.
– O Ronaldo vale por 10 centroavantes! O Robinho vale por 10 atacantes!
Então ele silenciou um pouco. O português da padaria gritou que o velho era louco. Todo mundo ia dar risada, quando o carequinha bateu no balcão de novo e disse o último nome. Deduzi que faltasse o Ronaldinho Gaúcho, porque esse é o queridinho do Brasil – no momento. Pensei rápido que ele diria que o Ronaldinho valeria um time inteiro, mas aí o cara exagerou.
– O Ronaldinho vale por 37 armadores!
Quase engasguei com o pão de queijo. Então o português gritou pela padaria que a seleção do Zé Boca Mole tinha exatamente 94 jogadores. Todo mundo na padaria deu risada, incluindo eu. Todo mundo não, o Zé ficou sério – impassível diante da chacota. Assim, dei meu último gole no café. Limpei a boca da farinha do pão de queijo. Levantei e fui pagar a conta. Mas para minha surpresa o Zé se atravessou na minha frente e com o dedo em riste – apontado pra mim – falou:
– E você quer saber?
Confesso que fiquei assustado.
– Você é a cara do Kaká!
Aí o velho endoidou de vez!!! Eu não pareço com o Kaká nem na cor dos olhos. Fiquei pasmo. O cara não era só louco – era também exótico. Eu estava de boca aberta olhando para o Boca Mole. Então falei para o cara:
– Você está brincando?
E o Zé Boca Mole gritou:
– Claro que estou! Você é feio pra caramba!
Todo mundo deu risada – incluindo eu. Paguei a conta e saindo da padaria escutei um tapa no balcão e um grito:
– O Brasil vai ser campeão do mundo!
Nenhum outro comentário. Agora todo mundo concordara com o Boca Mole.
*Jornalista e escritor ou “contador de histórias”, como prefere ser chamado. Atua como repórter freelancer para o jornal Diário do Comércio (SP) e é diretor de programação da Cinetvnet (TV pela WEB). Está escrevendo seu primeiro romance, DOCE DESESPERO.
Sua foto mostra que não tem nem de longe essas características citadas pelo Boca Mole. Pena que o silêncio ambiente tenha, pelo menos temporariamente, concordado com ele.
ResponderExcluirSaudades do Fábio e de suas histórias. Por onde andará esse nosso chapa?
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