

A vida de uma crônica de jornal
* Por Rodrigo Ramazzini
A idéia nasceu quando embarcava em um ônibus. Da escada, avistou um dos passageiros apreciando um jornal. Em salientes letras, lera os escritos: precisamos de operador de telemarketing. Mande o seu curriculum vitae. Pensara: poderia narrar a história de alguém que enviou um curriculum enorme, contendo tudo que não sabia fazer. Boa idéia! E rumou para casa...
A hora estava avançada. Em frente ao computador, em um digitar, de letra em letra, a crônica envolve o cronista. Estão apaixonados! Um cálice de vinho e uma boa música completam o cenário. O escritor desenvolve-a, germina-a lentamente. Já podemos notar a forma coloquial do seu do corpo, pelo amontoar lógico das palavras. A concentração e a inspiração estão no ar. Os seus maiores segredos podem estar sendo revelados naqueles registros. Ou tudo pode não passar de pura ficção. A escolha pela palavra certa, a pesquisa nos livros e dicionários... Etc. Tudo isso pode demorar horas. Para simplesmente serem devorados em segundos, pelo tempo de um cruzar de olhos pelo papel...
Apesar do prazer em teclar, o sono adia o fim...
Olha-a pela última vez no solitário quarto. Ponto final. Reluta em separar-se da sua obra. Mas bem sabe que o público é sua sina. Por isso admira-a até o último segundo. Revisada, é enviada para a redação do jornal. O vazio da página oito é preenchido. E o destino é a gráfica. Do virtual passa para o material. Um papel. Às vezes com o sujar das mãos...
O cronista fica a meditar: sua crônica será lida por alguém? Quem será esse alguém? Será que o leitor entendeu? Identificou-se? Será que ela cumpriu a função que a designou? Fez refletir? Fez sorrir? O orgulho e o sofrer confundem-se. O escritor morrerá com essas dúvidas. Escrever é sentir-se só no meio de uma multidão. E a multidão a julgar a sua expressional solidão... Consola-se: escrevo para o meu ego. Pensa!
O jornal circula. Os escritos que por horas exigiram envolvimento entram em inimagináveis lares, na sua forma “adulta”, gerando reações e percepções. Casas desconhecidas, mas que de tal modo conhecem o autor, por seus pensamentos, por suas palavras, enfim, na mais pura intimidade...
O autor pega um exemplar do jornal. Suas palavras timbram o papel. Orgulha-se. E não raras vezes, acha que faltou algo nos seus escritos. Logo refleti: estou precisando melhorar muito...
O simples manifestar da leitura da crônica envaidece. Seja pelo falar, pelo escrever um e-mail, pelo telefonar. Fui lido! Se o leitor gostou, ótimo! Se não, pelo menos foi lida. Vaidade que dura até o iniciar do próximo título...
E assim, a história repete-se...
A crônica: encheu o pneu da bicicleta em um posto de gasolina. Parou um carro ao lado. Quando a porta fora aberta avistou-a a encobrir os tapetes. Pensou: Está morta! A sorte é que está apaixonado por outra essa semana.
* Jornalista
* Por Rodrigo Ramazzini
A idéia nasceu quando embarcava em um ônibus. Da escada, avistou um dos passageiros apreciando um jornal. Em salientes letras, lera os escritos: precisamos de operador de telemarketing. Mande o seu curriculum vitae. Pensara: poderia narrar a história de alguém que enviou um curriculum enorme, contendo tudo que não sabia fazer. Boa idéia! E rumou para casa...
A hora estava avançada. Em frente ao computador, em um digitar, de letra em letra, a crônica envolve o cronista. Estão apaixonados! Um cálice de vinho e uma boa música completam o cenário. O escritor desenvolve-a, germina-a lentamente. Já podemos notar a forma coloquial do seu do corpo, pelo amontoar lógico das palavras. A concentração e a inspiração estão no ar. Os seus maiores segredos podem estar sendo revelados naqueles registros. Ou tudo pode não passar de pura ficção. A escolha pela palavra certa, a pesquisa nos livros e dicionários... Etc. Tudo isso pode demorar horas. Para simplesmente serem devorados em segundos, pelo tempo de um cruzar de olhos pelo papel...
Apesar do prazer em teclar, o sono adia o fim...
Olha-a pela última vez no solitário quarto. Ponto final. Reluta em separar-se da sua obra. Mas bem sabe que o público é sua sina. Por isso admira-a até o último segundo. Revisada, é enviada para a redação do jornal. O vazio da página oito é preenchido. E o destino é a gráfica. Do virtual passa para o material. Um papel. Às vezes com o sujar das mãos...
O cronista fica a meditar: sua crônica será lida por alguém? Quem será esse alguém? Será que o leitor entendeu? Identificou-se? Será que ela cumpriu a função que a designou? Fez refletir? Fez sorrir? O orgulho e o sofrer confundem-se. O escritor morrerá com essas dúvidas. Escrever é sentir-se só no meio de uma multidão. E a multidão a julgar a sua expressional solidão... Consola-se: escrevo para o meu ego. Pensa!
O jornal circula. Os escritos que por horas exigiram envolvimento entram em inimagináveis lares, na sua forma “adulta”, gerando reações e percepções. Casas desconhecidas, mas que de tal modo conhecem o autor, por seus pensamentos, por suas palavras, enfim, na mais pura intimidade...
O autor pega um exemplar do jornal. Suas palavras timbram o papel. Orgulha-se. E não raras vezes, acha que faltou algo nos seus escritos. Logo refleti: estou precisando melhorar muito...
O simples manifestar da leitura da crônica envaidece. Seja pelo falar, pelo escrever um e-mail, pelo telefonar. Fui lido! Se o leitor gostou, ótimo! Se não, pelo menos foi lida. Vaidade que dura até o iniciar do próximo título...
E assim, a história repete-se...
A crônica: encheu o pneu da bicicleta em um posto de gasolina. Parou um carro ao lado. Quando a porta fora aberta avistou-a a encobrir os tapetes. Pensou: Está morta! A sorte é que está apaixonado por outra essa semana.
* Jornalista
Concordo que seja exatamente assim. Não deixa de haver alguma vaidade em se saber lido, mlelhor ainda comentado. São os nossos pensamentos que são devorados em forma de letras. Entramos sem sermos convidados não só nas casas das pessoas, mas em suas mentes. De alguma maneira causamos impresões, boas, ruins, passageiras ou transformadoras. O jornal virar lixo é o que menos importa. Como você bem disse, já estamos apaixonados por uma outra ideia.
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