terça-feira, 1 de setembro de 2015

O poeta e a natureza


O homem é fruto da natureza. Isso é ponto pacífico. Aliás, é afirmação que parece acaciana, de tão óbvia. Todavia muitos (diria a maioria) não se dão conta dessa obviedade. “Agridem”, de forma estúpida e irracional, esta que é sua matriz e, sobretudo, nutriz, que os alimenta e assegura sua vida. O chamado Homo Sapiens age como se fosse o único ser vivo que devesse ser levado em conta, desprezando as demais 8,7 milhões de espécies animais vivas, conhecidas (6,5 milhões terrestres e 2,2 milhões aquáticas), excluídos vírus e bactérias. Esse número estratosférico está longe de ser definitivo, sendo atualizado, constantemente, face descobertas praticamente diárias de novas espécies.

É verdade que o homem leva considerável vantagem sobre esses “companheiros” na espaçonave Terra, que singra o espaço rumo a um destino que não se conhece qual seja: conta com a capacidade de entendimento, com a razão, com a chamada inteligência. Essa característica, se lhe dá suposta vantagem, confere-lhe, em contrapartida, algo que esse ser pensante parece não se dar conta: responsabilidade. Tem a obrigação de proteger essa entidade abstrata que lhe assegura a vida e não depredá-la, como faz há tempo, sobretudo de uns três séculos para cá, a partir da tal Revolução Industrial.

Por isso, não se pode deixar de dar razão ao teólogo, músico, filósofo, médico e humanista alemão Albert Schweitzer (ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1952), quando afirmou: “O mundo tornou-se perigoso, porque os homens aprenderam a dominar a natureza antes de se dominarem a si mesmos”. É esse domínio sem responsabilidade, sem estar preparado para tal, que tende a levar a espécie à extinção. Há, porém, pessoas que se constituem em exceção a esse comportamento destrutivo, predatório e irracional. São os poetas. Se não protegem a natureza, pelo menos não a agridem. Pelo contrário, veneram-na. Fazem dela fonte de inspiração. Tentam, com os recursos de que dispõem, conscientizar multidões.

Não me surpreendo, portanto, que Harry Wiese tenha dedicado a maior parte do seu livro “IbirAMARes e outros poemas” (Editora Nova Letra) a essa entidade que é a fonte de toda vida. Destina a segunda das cinco vertentes temáticas desse precioso volume à natureza, sob o título “Ecologia”. Em 18 inteligentes e sensíveis composições, louva os rios, riachos e ribeirões de Ibirama, cidade à qual dedica seu livro, além das montanhas que a circundam, da mata atlântica quase intocável ali, das nuvens, das plantas, dos bichos, da chuva etc.etc.etc.

Desta vertente temática, destaco o poema “IbirAMARes”, que dá título ao livro, que diz:

“Como serpente resoluta,
Oh, rio ligeiro,
Corres sobre as pedras lisas
Transportando divisas.

Tuas ´águas rolantes sobre o pétreo chão
São vestígios da longínqua nação,
Original.
Não desanimes, não chores
São ibiramares, irmão!

No caminho das águas longas
Ainda vistorias a metamorfose da flora monumental
E dos vales e montanhas adjacentes.

Não te constranjas, não te entristeças,
Tuas lutas ibiramares,
São cantares em construção.

O murmúrio dos ventos
Da Mirador gigante
Vem da distância que isola
E das montanhas circundantes,
São ibiramares transmudados em cantares,
Oração.

O meu povo
Nas lutas progressistas,
Não cultiva violências,
Constrói castelos singulares,
Como se fossem cantares.
Ah, são ibiramares,
Com perfeição”.

Como é essa Ibirama, que Harry Wiese tanto ama? É uma dessas bucólicas cidadezinhas do interior catarinense, situada no Vale do Itajaí, de cerca de vinte mil habitantes, que em 8 de novembro completará 118 anos de fundação. Suas belezas naturais atraem milhares de turistas anualmente, que se deliciam com sua luxuriante natureza. Foi fundada por imigrantes italianos e, principalmente alemães, com economia baseada na agricultura e nas indústrias têxteis e moveleiras. Ibirama é a prova de que o homem pode conviver harmoniosamente com a natureza, auferindo de todos os benefícios que ela lhe proporciona, sem depredá-la, emporcalhá-la e destruir suas belezas que tanto encantam poetas, como o inspirado Harry Wiese. Faz jus, portanto, ao significado do seu nome: “terra promissora”. Afinal, como perguntou o filósofo francês Blaise Pascal, “o que é o homem na natureza?”. E, em seguida, o sábio respondeu: “Um nada em relação ao infinito, um tudo em relação ao nada, um ponto a meio entre nada e tudo”. E não é?!!!

Boa leitura.

O Editor.

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