sexta-feira, 18 de setembro de 2015

D.R.


* Por Rodrigo Ramazzini


- Por que esta cara?
- Nada.
- Como nada? Eu te conheço. O que foi?
- Nada! Já disse, Paulo Henrique.
- Pronto! Nome completo é confusão. Por que esse beiço, Ana Flávia?
- Nada. Já disse. Coisa minha... Me deixa sozinha!
- Se é assim...
- É!

- Bom! Se não queres me falar, vou indo então...
- Espera!
- O que foi?
- É que...
- Fala.
- É que estou...
- Fala LOGO!
- Não grita!
- Não estou gritando! É que irrita. O cara tem que perguntar cinqüenta vezes. Por que não fala na primeira?!...
- É por essas e outras que a nossa relação está deste jeito...
- Que jeito?
- Nada! Não vai adiantar falar mesmo...
- Como nada, meu Deus? Que jeito, Ana Flávia?

- Esse teu jeito! Tu mudaste, estás diferente comigo... É esse teu emprego!
- Ai ai ai! Diferente como? O que tem o emprego?
- Desde a tua promoção, Paulo Henrique, eu não ganho a tua atenção. É só trabalho! Trabalho! Trabalho! Eu sempre fico em segundo plano...
- Mas Ana Flávia, meu amor! Nós conversamos sobre isso. Tu sabias que no início seria assim. É importante profissionalmente pra mim...
-Mas e eu, Paulo Henrique? Não sou importante pra ti? Não ganho mais a tua atenção, o teu carinho, nada. É só na hora do sexo e olhe lá! Nem me beijado mais tu tens...
- Não é assim...
- É assim, sim!
- Por que essa cobrança agora? Não estou entendendo...
- E tem mais...
- Meu Deus! Tem mais... Putz! Fala.
- Eu disse que não adiantaria falar nada... Parece que entra em um ouvido e sai no outro.
- Fala, Ana Flávia, continua as cobranças...
- Podes ironizar, ironiza, isso...
- Não estou ironizando.
- Se isso não é ironizar, eu não sei mais nada.

- Quer terminar, Ana Flávia?
- Eu acho que tu que queres.
- Eu?
- É... Tu que estás fazendo coisa para acabarmos...
- O que eu estou fazendo?
- Fica arrumando desculpinha para discutirmos. Não quer mais chega e termina!
- Meu Deus! Tu que começaste a discussão... Deixa eu te falar uma coisa agora: Tu também não tens prezado tanto a nossa relação assim, não. Lembra aquele sábado, que podíamos ficar juntos e optaste em jantar com as tuas amigas, lembra? Pois é...

- Pronto! Vai começar a relembrar o passado. Isso foi uma vez, Paulo Henrique! Além do mais, se eu for remexer no passado, aí a tua conta é bem maior que a minha, quer que eu enumere? Tem a vez do futebol, do carteado...
- Pára, Ana Flávia! 
- Agora é para parar é?
- É sim! Vamos parar de briga, meu amor! Tu estás certa nas reclamações, eu tenho trabalhado demais, não tenho te dado a atenção... Eu vou tentar mudar, pode deixar!
- Vai mesmo?
- Vou sim! Eu prometo!
- Quero só ver! Promete mesmo?
- Prometo! Tu vais ver... Vou tentar te dar mais atenção, carinho, pode observar. Vem cá e me dá um abraço para selarmos a paz!

- Se não mudar eu juro que acabo, seu bobo!
- Acaba nada!
- Estás duvidando de mim? Não duvida de mim!
- Calma! Está bem, está bem!
- Sei!
- Eu já disse que te amo hoje?
- Não!
- Eu te amo, A-na Flá-vi-a!
- Bom ouvir isso... Fazia tempo que não dizia!
- Vai começar?
- Não, não! Foi só comentário...

. * Jornalista e contista gaúcho


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