Quem será o sucessor de Patrick
Modiano?
Os primeiros dias de outubro, há já 113 anos – desde 1901 –
é um período de grande expectativa no mundo literário. É a época anual em que
se conhece um novo ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Por coincidência, o
primeiro e o último consagraram dois escritores franceses. A primeira conquista
dessa polêmica, mas cobiçadíssima, premiação, em 1901, foi do poeta Sully
Prudhomme (cujo nome verdadeiro era René Armand François Prudhomme). O último a
ser premiado, em 2014, foi o romancista Patrick Modiano, cujos livros lançados
ultimamente no Brasil tive o privilégio de ler e de comentar.
O Prêmio Nobel de Literatura é dos mais criticados, mundo
afora. Eu mesmo (para usar uma linguagem característica de torcedor de futebol)
sou dos que mais têm “cornetado” as decisões da Academia Sueca, responsável por
escolher os ganhadores. As críticas (minhas e de tantos outros), ressalte-se,
são mais (posto que não exclusivamente) pelos que nunca foram premiados, posto
que com reconhecidos méritos literários, do que sobre os que ganharam o prêmio.
Neste último caso, as contestações envolvem, quando muito, 10% ou até menos dos
escolhidos. Convenhamos, a escolha é complicadíssima e duvido que algum dia
seja consensual e minimamente justa, por sua própria abrangência. Ou seja,
envolvendo escritores supostamente do mundo todo e não apenas de parte dele.
Raciocinemos. Há, no planeta Terra, 246 países de fato,
embora nem todos reconhecidos pela comunidade internacional. Destes, apenas 192
contam com assento na Organização das Nações Unidas. Estranhamente, a Fifa,
entidade que rege o futebol mundial, tem 20 membros a mais do que a ONU. Admitam
ou não, todos esses países (no caso os 246), têm sua cultura. Contam com
artistas de todas as artes, entre as quais a Literatura. Ou seja, têm, também,
seus escritores, conhecidos, contudo (salvo uma ou outra exceção) somente em
âmbito interno. A probabilidade é que muitos deles (quem sabe, a maioria) sejam
excelentes. Mas quantos deles têm a mais remota possibilidade de sequer serem
cogitados para o Prêmio Nobel? Óbvio, um percentual ínfimo, virtualmente
próximo de zero.
Para haver, posto que remotíssima, justiça, os “candidatos”
teriam que ser (e muito por baixo) pelo menos qualquer coisa em torno de um
milhão. Todavia, como julgar livros de tanta gente? Claro que não há como! Justo
ou injusto, a Academia Sueca adota um critério que torna pelo menos viável certo
julgamento (que, ademais, depende quase que exclusivamente do gosto dos
julgadores). Em setembro de cada ano, a entidade envia centenas de cartas a
pessoas e instituições qualificadas para que indiquem candidatos ao prêmio.
Fica, porém, a pergunta: será que algum leitor, ou crítico literário ou
qualquer organização que lide com Literatura de Tonga, da República Malgaxe, de
Kosovo ou de Timor Leste, por exemplo, recebem esses convites? Afinal ali há
leitores. E, por conseqüência, há escritores. Mas... A resposta é óbvia e
dispensa qualquer comprovação. É um sonoro e enfático NÃO!!!!
E olhem que, os que podem indicar candidatos, são os mais
diversos. São os membros da Academia Sueca e de outras organizações similares,
professores de literatura e linguística de universidades, antigos vencedores e
presidentes de sociedades de autores em seus países. Mas de quantos estamos
falando? Certamente que não dos 246 que existem. E nem dos 192 que integram a
ONU. São, quando muito, de uns 50, se tanto. E não creio que o número chegue a
tanto. Sabem quantos estão habilitados, cumprindo todas as regras de
candidatura da Academia Sueca, neste ano, para se tornarem sucessores de
Patrick Modiano? Não ascendem a centenas de milhar, nem a dezenas de milhar e
nem mesmo a um milhar. Eram, até maio passado, 198. Isso mesmo, menos de 200!!!
Nesse mês de cada ano, porém, conforme o regulamento prevê, é feita rigorosa
triagem. E o número de postulantes é reduzido a apenas CINCO. Cinco entre 7,2
bilhões de habitantes. Quem são eles? É um segredo de Estado. Só se pode
especular a respeito.
Especulações a propósito, aliás, abundam, embora raramente
alguém acerte, com base não nos cinco indicados finais, mas nos 198
originalmente inscritos. Nas casas de apostas européias – sobretudo nas
inglesas onde se aposta sobre praticamente tudo – apostadores contumazes fazem
sua “fezinha”. Uma vez ou outra, alguém acerta e fica rico caso o premiado seja
o que apostadores brasileiros costumam chamar de “zebra”. Até, provavelmente, a
próxima semana, ou no início da seguinte, portanto, ficará no ar a pergunta que
poucos (ou que ninguém) conseguirão acertar. Quem será o sucessor de Patrick
Modiano? Sim, quem será?
Boa leitura.
O Editor.
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A probabilidade do impossível aponta que ninguém acertará.
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