sexta-feira, 18 de setembro de 2015

A bola da vez literária


O escritor francês, Patrick Modiano, é a chamada “bola da vez” literária. Pudera! Há menos de um ano, em outubro de 2014, ganhou o tão criticado (mas sumamente cobiçado) Prêmio Nobel de Literatura. Surpreendeu a gregos e troianos. Não era, nem remotamente, o favorito. Pelo contrário, era uma espécie de “azarão” Fora da França, onde gozava (e goza) de inegável popularidade, Modiano era, virtualmente, “ilustre desconhecido”. Inclusive no Brasil. Era... Obviamente, não é mais. Da minha parte, só vim a saber de sua existência após a conquista do Nobel. Não deveria. Afinal, há já umas três décadas, a Rocco havia apostado suas fichas nesse escritor, lançando três de seus romances: “Dora Bruder”, “Ronda da noite” e “Uma rua de Roma”. Foram publicações que passaram batidas do público e da crítica.. Pouco ou nada se falou delas e, claro, do seu autor. Ah, se os críticos literários pudessem prever o futuro! Claro que não podem. Ninguém pode.

A Rocco, certamente sem saber disso, “investiu”, nos anos 80, em três produtos que estão rendendo (e tendem a render muito mais) dividendos agora. Até o anúncio do Nobel, os três livros de Modiano que citei estavam fora de catálogo. Quem quisesse adquiri-los, teria que pesquisar bastante, em sebos. A editora, todavia, oportunamente, relançou esses três romances. De lambuja, acaba de lançar o livro que havia sido lançado no ano passado, na França, semanas antes do anúncio do Nobel – que ninguém em sã consciência, provavelmente nem o próprio Modiano acreditava que seria o premiado - intitulado “Para que não te percas no bairro”. Proponho-me a comentar não apenas essa obra, mas as outras do escritor francês, tão logo conclua as respectivas leituras. Afinal, mesmo não fazendo sinopses, só comento o que conheço, sempre procurando nuances que passem despercebidas aos críticos literários.

Além dos quatro livros publicados pela Rocco, a Editora Record também “apostou” em Patrick Modiano, lançando “Remissão da pena”, com tradução de Maria de Fátima Oliva do Couto, que igualmente me proponho a comentar oportunamente, após concluir sua leitura. Como se vê, temos uma “overdose” desse romancista. No meu caso, é uma espécie de obrigação, para compensar o fato de não lhe ter dado a devida importância, há trinta anos. Devo ter passado inúmeras vezes pelos três romances lançados pela Rocco, nas várias livrarias que freqüento com assiduidade, sem atentar para eles. Pudera! Foram pouquíssimo divulgados. Aliás, não me lembro de ter visto sequer menção a eles nas editorias de Cultura de nossos jornais e revistas.

A Record, além de “Remissão da pena”, planeja lançar (talvez até já tenha lançado e eu não saiba) outros dois romances de Patrick Modiano:  “Flores da ruína” e “Primavera de cão”. Ah, ainda devo pelo menos registrar que a Cosac Naif também lançou uma obra desse escritor e cerca de dois meses antes da sua consagração com o Nobel, ou seja, em agosto de 2014. Trata-se de uma obra infanto-juvenil intitulada “Filomena Firmeza”. Se não foi premonição da editora, foi uma baita tacada de sorte. Queiram ou não, o Prêmio Nobel de Literatura pode ser comparado à famosa fábula da raposa e as uvas. Os que desdenham dele, nutrem, certamente, secreto desejo (quando não obsessão) de conquistá-lo. Quando não conseguem... dizem (ou pelo menos pensam): “eu não queria mesmo! Afinal, estão verdes”.

Aliás, essa fábula tem dupla “paternidade”. A tradição a atribui ao fabulista grego Esopo. Todavia, o francês Jean de La Fontaine reescreveu-a, com uma ou outra alteração, mas mantendo o espírito da original. Daí muitos atribuírem-lhe a paternidade dessa fábula, o que não é exato e nem justo. Digamos que seja da dupla. É certo que o Nobel de Literatura nunca é consensual (e nem poderia). O mundo das letras é riquíssimo e as obras produzidas e publicadas anualmente são em quantidade (e em um alto percentual, em qualidade) altíssimas. Há inúmeros escritores que mereceriam ganhá-lo, sem que se possa dizer (salvo um ou outro caso) que o ganhador não o tenha merecido. E o prestígio que o prêmio dá (sem falar no dinheiro, que é considerável, em uma atividade que em raros casos é financeiramente compensadora) é incomparável. Basta ver o que está acontecendo com Patrick Modiano que, subitamente, conquista a “imortalidade” literária. É, sem tirar e nem por, a “bola da vez” da Literatura.

Boa leitura.


O Editor.

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