Verdi
e Rigoletto
* Por Wellen de
Barros
Tragédia e inconformismo fazem do
compositor de “Rigoletto” Giuseppe Verdi um fiel representante de seu povo
sofrido pelas invasões napoleônicas, forças russas e austríacas. Tudo isso,
muito antes de se tornar um famoso compositor.
Foi por conta de suas posições
políticas em favor da libertação da Itália que depois da unificação, em 1874, o
Rei Vittorio Emanuele nomeou-o senador. Verdi, por conta de sua longevidade (1813
– 1901), assistiu a todo um processo de transformação política da Europa e
participou de forma ativa das modificações que levaram a música a acompanhar os
novos tempos.
Verdi estava trabalhando na música de La
Maledizione
(o primeiro nome proposto para “Rigoletto”), mas teve problemas com
a Direção Central da Ordem Pública quando esta
exigiu que lhe fosse informado o libreto da ópera: as autoridades haviam
sido informadas de que La Maledizione se baseava no drama
Le Roi S'Amuse, de Victor Hugo. O enredo fazia
alusão direta ao Rei Francisco I, um libertino amante dos prazeres, e explorava
o drama de seu bufão, Triboulet, anão corcunda, totalmente dominado pelo
complexo de sua deformação. Triboulet odeia o rei porque é rei, os nobres
porque são nobres e os homens em geral porque não têm, como ele, uma corcova às
costas. Sua principal diversão é fazer com que o rei e os cortesãos briguem
continuamente entre si, os mais fortes esmagando os mais fracos. Ao mesmo tempo
cultiva a libertinagem do rei, introduzindo-o nas famílias dos cortesãos,
apontando-lhe uma esposa para seduzir, uma irmã para raptar, uma filha para
desonrar.
Assim, antes de terminar o trabalho,
Verdi tinha sua nova ópera proibida pela censura. Ao lado disso tudo, as
negociações se desenvolviam em ambiente dramático, pois acima de qualquer
preocupação com a moral e os bons costumes havia sim uma rigorosa censura a
tudo o que pudesse se relacionar com a decadência da aristocracia austríaca e
reforçar o movimento da unificação e independência italianas.
Nasce finalmente “Rigoletto” (corruptela
de Triboulet). A ação se desenvolveria em Mântua no século XVI, o duque
libertino seria chamado de Duque de Mântua. Verdi só não aceitou mudar o
aspecto físico do bufão.
Verdi acentua o melodrama em sua obra
criando um personagem como algo complexo, bem próximo à vida real. Rigoletto, o
bufão, é deformado e mau, mas também é pai afetuoso e digno de piedade; o duque
é bonito externamente, mas corrupto por dentro; Gilda é bondosa e meiga, mas
capaz de contrariar as ordens do pai e se deixar seduzir pelo duque. Segundo
Verdi o duque tem um caráter nulo e deve ser um libertino.
A elegância literária cede à desordem
dos sentimentos. Em Rigoletto, não há meio–termos: o espectador é levado,
repentinamente ao centro da ação.
* Cantora do
Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Possui formação em Piano e Harmonia pelo
Conservatório de Música de Niterói. Estudou interpretação Operística, História
da Ópera, História da Música e Canto Lírico no Rio de Janeiro. Como professora
do Conservatório de Música, desenvolve projeto de Apreciação Musical junto a
estudantes de ensino médio e universitários. É pesquisadora de dança e música,
e escreve artigos para o Theatro Municipal sobre ópera, música sinfônica e
ballet. Como pesquisadora, atualmente desenvolve um projeto de estudo e
pesquisa sobre a arte do ballet e do canto.
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