Leitão à pururuca
* Por
Ana Deliberador
O jantar estava
delicioso. O leitão tenro, bem temperado, couro estalando de tão torradinho,
pururuca. Parecia dia de festa, tanta a fartura.
Kurt, o dono da casa,
alemão forte e rosado, cabelos tão claros que pareciam brancos, auxiliava a
esposa a servir o amigo.
Zé Corrêa comia com
gosto, apesar de acostumado à mesa farta. A esposa do amigo era excelente
cozinheira. Mulher trabalhadeira e muito econômica, sempre na labuta, estava
ajudando o marido a amealhar um bom patrimônio.
Kurt era conhecido
pela honestidade, mas, também, pela sovinice, se é que assim se podia falar de
quem tudo aproveitava (tempos difíceis, aqueles!). Da beterraba, comiam até os
talos, refogados. Da casca da banana
faziam bolinhos (deliciosos!). As cascas do abacaxi eram fervidas, coadas; o
caldo, engrossado com farinha de trigo, virava uma sobremesa leve e saborosa.
Por essas e por outras
é que José estava tão surpreso com o convite para o almoço.
Terminada a refeição
os homens foram para a varanda fumar um palheiro, momento em que aproveitou
para elogiar e agradecer.
– Ora, seu Zé. Não foi
nada demais. Afinal era justo pois o senhor é que me deu o leitão!
Zé Corrêa olhou para o
amigo sem entender nada. Criava porcos, era verdade, mas criava-os para vender
e não havia dado nenhum a Kurt. Ainda mais agora que estavam com uma doença que
ainda não sabia reconhecer. No dia anterior mesmo havia morrido um pequeno
leitão….
Enquanto pensava nisso
entendeu o que o alemão estava falando, mas pedia a Deus para estar enganado!
Seu estômago começou a revoltar-se. Sua visão ficou turva, enquanto aguardava o
anfitrião concluir a fala.
– Sabe como é. A vida
tá dura e a gente não pode desperdiçá nada. Eu catei aquele leitãozinho que o
senhor jogô fora e a mulher preparô pra nóis. Seu Zé, depois de assado o
bichinho fica limpinho de qualquer doença. Então, pra que desperdiçá?
Zé Correia não soube
dizer como chegou em casa, tão bravo estava de tanto vomitar pelo caminho!
* Professora, pintora e escritora
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