sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

A solução

* Por Rodrigo Ramazzini


Assim que o funcionário Lucas percebeu, não hesitou. Logo procurou o seu chefe, informando-o: “Há um vazamento de óleo na tubulação”. Era um vazamento pequeno, “conta-gotas”, porém constante. Com isso, os pingos já haviam formado uma grande “piscina” de óleo no chão da empresa. O oleoduto ficava aproximadamente a 10 metros de altura, e abastecia uma série de fornos.

O chefe, verificando pessoalmente a situação, chamou os estagiários para limpar o chão e o pessoal da área de manutenção para sanar o vazamento. Foram quatro longas horas, todas as tentativas possíveis, mas nada. Ninguém conseguia fazer parar o vazamento. Então, como alternativa, decidiu-se colocar um balde embaixo da tubulação, pois pelo menos assim, o óleo não escorria no chão.

Há problemas que, com o passar do tempo, como não lhe acham a solução, passam a ser rotina. Ou melhor, a conviver-se com ele rotineiramente. Assim aconteceu com o vazamento. Muitos tentaram saná-lo, porém sem sucesso. Com isso, acabou-se deixando-o de lado. A atividade de esvaziar o balde com óleo duas vezes ao dia até já estava intrínseca nas atribuições dos funcionários. Foi então que mudou o chefe.

O chefe novo logo ficou sabendo do problema do vazamento, e querendo mostrar serviço, reuniu todos os funcionários e “profetizou”: “Vou solucionar o problema do vazamento e do balde. Trarei um especialista!” Gritos de louvor foram ouvidos.

Quando aquele sujeito baixinho, com um lápis entre a orelha direita e a cabeça, uma prancheta na mão esquerda, uma trena na direita e um óculo “escorregando” pelo nariz ingressou na empresa, quase houve reverências. Era o especialista. O problema estava solucionado.

O especialista pediu três horas para a análise. Enquanto ele media e anotava na sua prancheta as informações colhidas, os funcionários observavam-no espantados, pois estavam perante quem, finalmente, resolveria o problema do vazamento e do balde. Decorrido o tempo solicitado pelo especialista, o novo chefe, triunfante, reuniu novamente os seus funcionários e declarou: “O especialista encontrou a solução para o nosso problema”. Foi aquela salva de palmas.

Todos aplaudiram-no, com orgulho. Finalmente o conhecimento vencera um vazamento. O novo chefe passa a palavra então ao especialista. “Bem pessoal, realmente eu encontrei a solução para o problema do balde”.

Novamente as palmas e os gritos dos funcionários ecoam pela empresa, não deixando o especialista terminar a frase. Eufóricos, queriam carregá-lo. O chefe consegue, com dificuldade, acalmá-los. O especialista prossegue: “Bem, pessoal, como eu disse anteriormente, encontrei a solução para o problema do balde”.

Um silêncio paira no ar. Todos esperam o anúncio da solução para “explodirem”. Então, o especialista completa a frase: “É só colocar um tambor de óleo de duzentos litros embaixo do vazamento”. O especialista só conseguiu sair da empresa amparado pelos seguranças.

* Jornalista e cronista



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