sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Pílulas literárias 200

* Por Eduardo Oliveira Freire


PENSAMENTO SOMBRIO

Era belo, inteligente e tinha muitos amigos. Sua vida era luminosa e bem sucedida, mas, quando via na casa ao lado o vizinho muito doente cuidado pela mãe, um pensamento sombrio o angustiava: “Se eu estivesse assim como ele, será que alguém me amaria?" Olha-se no espelho. Quer apagar a reflexão incômoda ao contemplar seu corpo esculpido pelos exercícios que pratica. Enquanto isso, na casa ao lado, o vizinho e a mãe soltam gargalhadas, aproveitando cada segundo juntos.

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CONFIANÇA

Vivia trancado em casa e mesmo com trancas resistentes nas portas e janelas sentia falta de algo. Essa sensação de perda o atormentava e cada vez mais se trancava em sua prisão. Não conversava com ninguém, achava que todos queriam passá-lo para trás ou prejudicá-lo. Em pesadelos, fugia de uma onda de olhos e acordava apavorado no meio da madrugada. Um dia, ao navegar pela internet, leu uma citação* que foi uma revelação para ele. Mesmo desconfiado da fonte, a sensação da descoberta que tanto o afligia foi validada. O que roubaram dele foi a confiança em si mesmo e em relação aos outros. Tentou lembrar quem foi que a roubou. Entretanto viu um mosaico de rostos.
* “O homem que rouba a confiança do outro é o pior dos ladrões” (Textos Judaicos)

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ISOLADOS (2008)

Pode não ser considerado um filme para entrar na História do cinema, mas, achei interessante sua abordagem, quando mostra os reflexos dos maus tratos que o Homem pratica contra a natureza.

Peter e Carla estão passando por uma crise no casamento. Na tentativa de resgatá-lo, eles decidem passar um final de semana em uma praia isolada. Começam a desrespeitar o meio ambiente e ele começa a se vingar deles. O filme é do gênero terror e a natureza é a carrasca do casal de “porcalhões”. Mas, saindo um pouco da ficção, será que a mãe natureza não está se vingando da gente, por sermos tão devastadores? Bem, é só ler nos jornais... Deslizamentos de terra, enchentes e a falta de água no sudeste brasileiro.

Voltando à história do filme, o casal representa como close-up os valores da nossa sociedade como, por exemplo, o consumismo e a ideia que o homem é o centro do mundo. Porém, o enredo desvenda que há forças muito mais supremas que o ser humano.

Por isso, gostei do filme e, mesmo que não seja um clássico, valeu a pena assisti-lo.

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CARTÃO ANTIGO DE NATAL

Remexendo em objetos antigos, empoeirados e escondidos no armário, encontrei um cartão: “Tenha um feliz natal e desejo muito que se encontre um dia”. Nem me lembrava mais da mensagem, talvez não tivesse dado a devida importância. Mas, agora, ela me faz todo o sentido. Pois é, mãe, ainda estou na minha jornada de me achar. Porém, já me conheço melhor. Além do mais, sei que você está lá do céu, velando por mim.

* Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/



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